O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, para tomar o depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa em duas investigações que há quatro anos apuram irregularidades na estatal. Na primeira, apura-se se o presidente licenciado da Transpetro, Sérgio Machado, teve evolução patrimonial incompatível com os rendimentos. Na segunda, se houve superfaturamento em obras do Centro de Pesquisas da petroleira (Cenpes) tocadas pela construtora Andrade Gutierrez ao custo de R$ 154 milhões. No total, o projeto, tocado também por outras empreiteiras, teve o custo elevado de R$ 1 bilhão para R$ 2,5 bilhões.
A promotora Gláucia Santana pediu quinta-feira que Moro a autorizasse ir à casa de Paulo Roberto, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para evitar custos com o transporte seguro de um réu preso em casa com tornozeleira eletrônica. Durante depoimento em colaboração premiada para o Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras disse que um esquema de corrupção pagou propinas a uma série de políticos. Na 13ª Vara, afirmou que Sérgio Machado fazia parte do esquema pelo PMDB e que, inclusive, havia pago cerca de R$ 500 mil a Paulo Roberto no apartamento do presidente da Transpetro no Rio. A propina foi motivada porque o ex-diretor ajudou a fechar a contratação de "alguns navios". Paulo Roberto ainda disse que a Andrade Gutierrez fazia parte de um cartel de empreiteiras que superfaturava licitações na estatal em 3% a fim de financiar os subornos que seriam destinados a partidos e políticos. O contato seria o presidente da empreiteira, Paulo Dalmazzo.

Na investigação sobre o presidente da Transpetro, o MPRJ avalia se a variação de patrimônio de Sérgio Machado, que foi afastado do cargo no início da semana por causa das denúncia, foi compatível com os rendimentos. Ex-líder do PSDB no Senado no anos 1990 e hoje aliado do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), ele informou à Receita Federal que o patrimônio caiu entre 2000 e 2001, de R$ 1,3 milhão para R$ 1 milhão (ou R$ 2,55 milhões em valores corrigidos pela inflação). A assessoria de Machado não informou qual o patrimônio dele desde que ingressou na Transpetro - que, por sua vez, recusou-se a informar se controla a evolução do valor dos bens de seus executivos, como já fazem alguns órgãos públicos.

Os assessores de Machado dizem que ele "não tem nenhuma ligação" com a Lava-Jato e com Paulo Roberto. Asseguram que o próprio MPRJ produziu um relatório em 22 de julho atestando a "compatibilidade patrimonial em todos os anos-calendário". Machado avalia que, passados quatro anos da investigação, nada foi provado. A promotora Gláucia Santana nega. "A investigação não foi encerrada ainda. Não procede", disse ela ao Correio ontem, em mensagem de correio eletrônico.

Sem licitação

Gláucia investiga quatro contratos da Andrade Gutierrez no Cenpes que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), tiveram superfaturamento. São obras de fundação e terraplanagem e serviços de descarte de resíduos iniciadas entre 2005 e 2007. Apenas num projeto, a Andrade Gutierrez abocanhou R$ 54 milhões sem licitação, de acordo com a promotora. Ao todo, o Cenpes teve obras tocadas por nove empreiteiras em oito contratos, obras nas quais o TCU identificou R$ 155 milhões em superfaturamento e R$ 320 milhões em sobrepreços ainda não pagos, segundo noticiou o jornal Folha de S.Paulo.

A promotora Gláucia disse à reportagem que, depois de ouvir Paulo Roberto, pedirá explicações ao presidente da Andrade Gutierrez, Paulo Dalmazzo. Em nota, a empreiteira disse que as obras foram entregues de forma adequada e dentro do exigido nos contratos com a Petrobras.

Investigação em auditorias

O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), pediu ao Ministério Público Federal em Brasília que apure se as auditorias contratadas pela Petrobras atuaram com independência. Na semana passada, a consultoria PWC se negou a auditar o balanço da estatal se Machado continuasse na Transpetro. "Só agora aponta problemas e faz exigências? Isso coloca em dúvida se as auditorias contratadas operam com independência ou apenas cumprem o que a contratante determina", afirmou Imbasshy.

R$ 154 milhões

Custo das obras do Centro de Pesquisas da petroleira (Cenpes) tocadas pela construtora Andrade Gutierrez