O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nega que dados do desmatamento na Amazônia tenham sido retidos por causa das eleições presidenciais. Análises do sistema de alertas de degradação de agosto e setembro não estão no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), autarquia que faz o levantamento. O presidente do órgão, Volney Zanardi, alegou que a divulgação está seguindo o cronograma. "Têm circulado algumas versões de que nós estamos segurando informações. Nós repelimos totalmente essa acusação. Esse tipo de divulgação nunca foi mensal", afirmou. A página do Inpe indica, no entanto, que os dados devem ser disponibilizados mensalmente.
De acordo com matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo, o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe identificou que em agosto e em setembro foram devastados 1.626km² de florestas na Amazônia Legal, um crescimento de 122% em relação ao mesmo período em 2013. A reportagem afirma que o governo federal conhecia os dados antes do segundo turno das eleições, realizado em 26 de outubro, e tomou a decisão de adiar a divulgação das informações para não prejudicar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

Em coletiva de imprensa, Volney Zanardi não confirmou os dados publicados pelo jornal e disse que os números oficiais serão divulgados até o fim deste mês. Leonel Perondi, diretor do Inpe, afirmou que as informações devem ter sido retiradas de um documento interno. "Se são os números que estão no memorando que eu mandei para área técnica, estão corretos", concluiu Perondi.

O presidente do Ibama reclamou das divulgações equivocadas. Segundo ele, os dados do Sistema Deter só têm "valor para fiscalização". Perondi explicou que o sistema é usado para apontar pontos suspeitos de ilícitos, mas não conta com imagens de satélite em alta resolução e podem apontar alertas falsos, como um espelho d"água ou uma degradação (derrubada parcial). O dado oficial, mais preciso e atualizado, sai de outra ferramenta, o Prodes, que tem previsão de ser anunciado em dezembro.

Além do Inpe, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) também conta com sistema semelhante ao Deter, para análises de alerta de desmate. Para o pesquisador da instituição Paulo Barreto, as imagens produzidas podem mostrar uma tendência de desmatamento. "Você não tem noção do desmate real, porque a lente só alcança locais acima de 20 hectares."

Crime organizado

Diante da suspeita de interferência política, o Ibama anunciou uma mudança na divulgação. As informações passarão a ser disponibilizadas a cada quatro meses. No fim deste mês, por exemplo, serão apresentados os dados de agosto, setembro e outubro.

Zanardi também anunciou que, por uma questão estratégica, os dados exatos de localização dos alertas de desmatamento passarão a ser divulgados com atraso. De acordo com o presidente, o crime organizado está fazendo uso das informações para escapar da fiscalização.