Em uma tentativa de arrefecer a crise deflagrada com o pedido de demissão de Marta Suplicy do Ministério da Cultura, o Planalto articulou um movimento para esvaziar o gesto da senadora petista — que, ao deixar a Esplanada, teceu críticas ao governo. A seis dias do prazo sugerido pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para que os ministros, “por uma questão de gentileza”, entregassem as cartas de demissão à presidente Dilma Rousseff, pelo menos 15 integrantes do primeiro escalão — incluindo o próprio Mercadante — já redigiram o pedido de saída. Muitos deles, entretanto, devem continuar no cargo.

O pedido de demissão coletiva, que só será analisado por Dilma a partir da semana que vem, quando ela retornar da reunião do G20, na Austrália, tornou-se um contraponto à carta de Marta Suplicy, que criticou a condução da política econômica do governo. A demissão da senadora petista será publicada no Diário Oficial de hoje.

Ontem, durante entrevista coletiva para tratar da pauta de competitividade da indústria, Mercadante explicou a ideia da demissão coletiva, alegando que a proposta surgiu de uma conversa dele com os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do Planejamento, Miriam Belchior. “É uma forma de demonstrar publicamente esse espírito que foi a campanha da presidente Dilma, de uma equipe nova em um governo novo: todo mundo formalizar essa gentileza para ela (a presidente) ter total liberdade”, ponderou.

Logo em seguida, Mercadante retificou o raciocínio, acrescentando que, mesmo sem esse “ato de gentileza”, a presidente tem toda liberdade para trocar a equipe ministerial. “Ela foi eleita, vivemos em um regime presidencialista e ela pode trocar o ministro que quiser quando achar oportuno. Mas é um gesto e, com todos os que conversei pessoalmente, foi entendido como uma gentileza. Um gesto de agradecimento e reconhecimento pela honra de ter participado deste governo”, emendou o chefe da Casa Civil.

O ministro também minimizou as críticas da ex-ministra. “A Marta é um quadro importante para São Paulo e no Senado Federal, especialmente agora que o (senador Eduardo) Suplicy não estará mais lá (a partir de 2015). Ela tem um papel importante no debate no Senado e tenho certeza que o cumprirá. Nosso partido tem raízes profundas, ela participou de toda essa construção”, ressaltou. Perguntado sobre a possibilidade de a petista sair do PT para disputar a prefeitura de São Paulo em 2018, o ministro foi enfático: “Não trabalho com esse cenário”. Presidente da República em exercício, o peemedebista Michel Temer também rechaçou a hipótese de a petista migrar para o PMDB. 

“Nada de errado”
De Doha, onde participou de um encontro bilateral antes do G20, Dilma evitou polemizar a saída de Marta. “A ministra Marta não fez nada de errado, não teve atitude incorreta, seria uma injustiça criticá-la. Ela me disse o teor da carta antes de eu viajar. Logo depois da minha eleição, disse que sairia e eu aceitei. Ela me disse que enviaria uma carta”, disse.

A presidente também negou que tenha estabelecido prazo para os ministros entregarem cartas de demissão. “O palácio não fala, é integrado por paredes mudas. Só quem fala sobre reforma é essa pessoa modesta que vos fala aqui”, disse. Ela enfatizou que a reforma ministerial não começa na terça-feira, quando retornará de viagem. “Vou fazer por partes”, afirmou.

A expectativa é de que esse fatiamento da reforma, confirmado pela presidente, comece pela equipe econômica, como uma maneira de sinalizar ao mercado os rumos do próximo mandato. Muitos nomes já foram especulados para o Ministério da Fazenda, mas o ciclo de apostas está concentrado em Henrique Meirelles (grupo JBS e ex-presidente do Banco Central), Nelson Barbosa (ex-secretário executivo da Fazenda) e Luiz Carlos Trabuco (do banco Bradesco).