Acusados de participar de um esquema de pagamento de propinas a servidores da Petrobras e a políticos do PT, PMDB e PP, os principais dirigentes da construtora Camargo Corrêa se apresentaram ontem à Polícia Federal. Com isso, segundo a PF, chegou a 23 o número de presos na segunda fase da Operação Lava-Jato.

Dalton dos Santos Avancini, que é presidente da Camargo Corrêa Construções, e João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da empresa, se entregaram na manhã de ontem em São Paulo, de onde foram levados para a superintendência da PF em Curitiba, que concentra a investigação. A informação foi confirmada pelo criminalista Celso Vilardi, que defende os dois. Ainda no final da noite de sexta-feira, João Ricardo Auler, vice-presidente da empresa, já havia se apresentado em Curitiba.

A PF confirmou ainda a prisão de Valdir Lima Carreiro, presidente da Iesa Equipamentos, e de Sérgio Cunha Mendes, vice-presidente da Mendes Júnior, que usou jato particular para ir de São Paulo para Curitiba, segundo "O Estado de S.Paulo". O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou ontem que foram expedidos 19 mandados de prisão temporária, e não 21 como inicialmente divulgado.

Duas pessoas continuam foragidas: Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como operador do PMDB no esquema de desvios da Petrobras, e Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro Mario Negromonte e acusado de ser "transportador de valores" do esquema.

Um avião fretado pela PF com 16 dos acusados aterrissou na madrugada de ontem em Curitiba. Ao chegarem, eles realizaram exame de corpo de delito.

Acusados começam a falar

Ontem mesmo, a PF começou a ouvir os acusados. O primeiro a depor foi o diretor-geral da Queiroz Galvão, Othon Zanoide de Moraes Filho. O objetivo é que todos prestem depoimento até terça-feira. A maioria teve prisão temporária decretada - o prazo máximo para que fiquem detidos é de cinco dias.

O advogado Alberto Toron, que não quis revelar quem são seus clientes, disse que eles devem ser ouvidos apenas na próxima semana:

- Eles não tiveram a acesso aos depoimentos da delação premiada e não sabem do que estão sendo acusados.

Os advogados chegaram a reclamar de dificuldade para falar com seus clientes. A PF teria alegado que não havia agentes federais suficientes para garantir a segurança. À tarde, o acesso foi restabelecido. Segundo o advogado Juliano Breda, que representa cinco executivos da OAS, a carceragem da PF não comportaria o número de presos da Lava-Jato e alguns deles estariam dormindo em colchões no corredor que dá acesso às celas, dentro da área fechada da carceragem. Mas, ele reconheceu que, apesar disso, a carceragem da PF é melhor do que os demais presídios do estado.

Os advogados do agente da PF Jayme Alves de Oliveira Filho, que presta serviços no Rio, pediram a revogação da sua prisão temporária com a alegação de que ele foi reconhecido apenas por foto por um dos acusados, que o identificou como sendo uma das três pessoas encarregadas pelo doleiro Alberto Youssef de entregar dinheiro a terceiros. Segundo investigação, o agente atuava no transporte de recursos das atividades ilícitas de Youssef, valendo-se da prerrogativa do cargo para escapar de fiscalização. Em conversa telefônica interceptada, o doleiro passou o endereço da construtora UTC, em Belo Horizonte, para que fosse entregue dinheiro. Há indícios de que ele facilitava o desembarque de funcionários de Youssef no Aeroporto do Galeão, no Rio.

A desembargadora Maria de Fátima Freitas Labarrère, da 4ª região do Tribunal Regional Federal, negou habeas corpus ontem para onze executivos.

"Não se verifica a ocorrência de constrangimento ilegal, razão pela qual indefiro o pedido de liminar", afirmou em um dos despachos a desembargadora, que considerou a prisão deles, decretada pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, necessária "por conveniência da instrução criminal".

Onze recursos negados

As decisões publicadas dizem respeito a três pedidos feitos por cinco réus: o vice-presidente da OAS, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, um funcionário da empreiteira, José Ricardo Nogueira Breghirolli; o presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, o presidente do conselho de Administração da empresa, João Ricardo Auler e o vice-presidente Eduardo Hermelino Leite. No caso de Leite, a defesa pedia a conversão da prisão em domiciliar alegando problemas de saúde.

Os outros seis executivos que tiveram habeas corpus negados ontem são: José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, diretor da OAS, Alexandre Portela Barbosa, advogado da OAS, Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix, Carlos Eduardo Strauch Albero, diretor da Engevix, e Newton Prado Júnior, também diretor da Engevix.