BRASÍLIA

As nove empreiteiras alvos da Operação Lava-Jato possuem tentáculos por diversos setores da economia, e não apenas no de petróleo. Juntas, registraram faturamento de R$ 33 bilhões em 2013, segundo ranking da revista "O Empreiteiro". Quase a metade desse montante está relacionado a contratos públicos. Este ano, elas contribuíram com ao menos R$ 218 milhões para candidatos e comitês eleitorais. As doações podem ser ainda maiores, porque os dados finais da campanha eleitoral só serão fechados no fim do mês, quando os partidos enviarem as prestações de contas dos candidatos que disputaram o segundo turno das eleições.

A maior parte dos recursos é destinada a comitês partidários. A Queiroz Galvão doou R$ 57,6 milhões a políticos. A OAS repartiu R$ 53,7 milhões apenas para comitês financeiros de vários partidos. A UTC Engenharia, R$ 33,6 milhões, enquanto a Odebrecht, outros R$ 36 milhões. Ainda aparecem no sistema de prestações de contas do TSE doações da Galvão Engenharia, Engevix e Camargo Corrêa.

As empresas sob investigação têm cerca de 320 mil funcionários em vários segmentos da construção pesada, como transporte, empreendimentos nucleares e imobiliários, arenas para a Copa e até no agronegócio. A presença maciça das empreiteiras de grande e médio portes em diversos setores relevantes faz com que técnicos do governo e da iniciativa privada vejam certos limites nas consequências da Lava-Jato. Essas empresas poderiam ser impedidas de participar de novas licitações, se consideradas inidôneas pela Controladoria-Geral da União. A medida foi adotada pelo órgão em relação à Delta, alvo das operações Vegas e Monte Carlo. Não há, porém, expectativa de que se repita a medida. Levantamento do MP Federal mostrou que, sem contar a Odebrecht, as outras oito registram R$ 59,4 bilhões em contratos apenas com a Petrobras.

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Construtoras atuam nas principais obras do PAC

As empresas da Lava-Jato têm intrincadas relações com o governo federal. Elas têm financiamentos do BNDES e atuam nas principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A Hidrelétrica de Belo Monte conta com participação de Odebrecht e Camargo Corrêa. Na usina Angra 3, atuam as duas e ainda Queiroz Galvão e UTC. Camargo Corrêa e Queiroz Galvão estão à frente do trecho Sul da ferrovia Norte-Sul. Engevix é subsidiária de um grupo que investe no aeroporto de Brasília. UTC faz parte do consórcio concessionário do aeroporto de Viracopos, em Campinas.

A Galvão venceu, em maio deste ano, licitação para duplicar a BR-153 entre Goiás e Tocantins. OAS também participou de leilões de rodovias, levando a BR-040, que vai de Brasília a Juiz de Fora. Mendes Júnior realizou as obras do porto do Recife e atua no de Maceió. Iesa é a única que se concentra no setor de petróleo.

Negócios estratégicos

No relatório do MPF, investigadores apontam que havia uma planilha na mesa de um funcionário do doleiro Alberto Youssef sobre a hidrelétrica de Jirau. Há a citação ainda em uma planilha do doleiro. O MPF observa que a Camargo Corrêa fez parte da construção, mas foi citado erroneamente que a obra era da Petrobras. O consórcio Energia Sustentável do Brasil disse ao GLOBO que não tem relação com a empresa petrolífera e observou que a Camargo Corrêa não faz parte do grupo.

Nos últimos anos, o governo vem convocando esses grupos a entrarem em negócios mais estratégicos. Em 2012, procurou aproximar as grandes construtoras de fornecedores internacionais de equipamentos de Defesa, para criar uma indústria bélica nacional competitiva. Seis das empresas da Lava-Jato construíram ou estão criando subsidiárias com incentivos fiscais.

Para o consultor Gesner Oliveira, da GO Associados, a confiança na economia piorou:

- Se somarmos os eventos (da Lava-Jato) à não divulgação do balanço da Petrobras, isso deteriora bastante as expectativas e coloca a questão de que não há margem de manobra. É preciso um choque de credibilidade na política econômica.