A desmontagem dos palanques eleitorais — com a substituição do sectarismo e do radicalismo, que deram o tom dos discursos políticos no país até 26 de outubro, pela convivência republicana dos contrários — foi o pano de fundo do encontro entre o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, e a presidente Dilma Rousseff, petista. A reunião, na terça-feira, em que Alckmin formalmente pediu ajuda federal para enfrentar a grave crise hídrica do estado, apontou o caminho do diálogo e da cooperação que entes da Federação e organismos ligados ao problema devem tomar, daqui em diante, em busca de soluções, de curto, médio e longo prazos, para uma questão que não diz respeito apenas aos paulistas.

O colapso no abastecimento de água — e de energia, decorrência direta da longa estiagem que seca mananciais e esvazia rios — é uma ameaça generalizada para os brasileiros. No Rio, a seca, que se desenha em São Paulo na medida em que caem os níveis do sistema Cantareira, ainda não é uma realidade. Mas a principal fonte de abastecimento da região metropolitana do estado, o Paraíba do Sul, já está com os quatro reservatórios nos níveis mais baixos dos últimos 36 anos. E o rio ainda sofre o adicional problema da poluição, devido ao despejo de grandes volumes de dejetos não tratados ao longo de seu leito.

A possibilidade de a Região Sudeste, motor econômico do país, ficar refém do desabastecimento e de colapso no sistema de energia é um fantasma que assusta o país. Daí a importância do encontro entre Alckmin e Dilma, um positivo sinal de que a questão da água — um ponto inescapável na agenda não só do Brasil, mas de todo o mundo, haja vista a mobilização de organismos internacionais em torno de propostas e programas de preservação desse bem vital para a Humanidade — começa a ser tratada com o senso de responsabilidade que esteve racionado durante a campanha eleitoral.

Os investimentos necessários para evitar o colapso de abastecimento de água em épocas de estiagem prolongada, como a atual, são vultosos. Juntos, São Paulo e Rio terão de gastar R$ 8,5 bilhões nos próximos anos. As demandas a enfrentar não são apenas as medidas de emergência para tentar fugir do risco de racionamento, mas, principalmente, de médio e longo prazos, com obras de infraestrutura hídrica que o país reclama há bastante tempo, mas cuja urgência ficou mais evidente em razão da atual estiagem.

Além disso, o poder público precisa acordar de vez para a questão da preservação de mananciais e rios. Esta é uma preocupação que frequenta palanques, mas que raramente se traduz em ações concretas, como políticas de Estado para o meio ambiente. A crise atual ensina que, tanto quanto assegurar o abastecimento de água, é fundamental garantir a manutenção das fontes, o que implica ter uma política ambiental responsável — uma lição a tirar do fantasma do desabastecimento.