Título: Telefonia virtual aposta no Brasil
Autor: Fernandes, Claudio
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2011, Economia, p. 14

Enviado especial

Miami ¿ Nos próximos dois anos, o mercado brasileiro terá de 40 a 50 operadoras móveis virtuais (MVNO sigla em inglês de mobile virtual network operator) em atividade. É o que aposta um especialista no setor, Liudvikas Andriulis, diretor de Marketing da companhia belga Effortel, responsável por MVNOs de sucesso na Bélgica, na Polônia, na Itália e em Taiwan. Participante do Amdocs InTouch Business Forum 2011, congresso realizado no mês passado em Miami (EUA), Liudvikas falou ao Correio sobre a chegada das empresas ao Brasil.

Segundo o executivo, por mais que pareça um exagero, o número é compatível com o tamanho do mercado brasileiro. "O Brasil tem muito potencial devido à diversidade observada no país. Há muitos estrangeiros e muito dinheiro circulando por lá", avaliou. Esse dinamismo observado por Andriulis é justamente o que as operadoras móveis virtuais procuram. Elas atuam em nichos específicos, aproveitando segmentos pouco atraentes para as grandes empresas. O modelo de negócio está baseado no aluguel da infraestrutura existente de outras companhias do setor, como antenas, rádios, torres, cabos de fibras, frequência e equipamentos necessários para a comunicação dos usuários.

A aprovação da Agência Nacional de Telecomunicaçoes (Anatel), no fim do ano passado, deu o sinal verde para a entrada no Brasil das MVNOs, já conhecidas no exterior. Com isso, grandes marcas como instituições bancárias e empresas de varejo poderão passar a vender seus próprios aparelhos e planos diretamente para os clientes. Porém, mais do que acirrar a competição pela melhor tarifa, essas marcas pretendem usar o celular como uma nova ferramenta de fidelização de usuários.

Custo zero Liudvikas citou exemplos de como o modelo está sendo usado no exterior pelo Carrefour, principal cliente da Effortel. Com o chip vendido nas lojas da rede, o custo de adicionar um cliente é praticamente zero. No momento da compra, o consumidor ainda pode ganhar créditos de minutos dependendo do valor da compra. "As pessoas acabam levando mais algumas coisas para ganhar mais minutos", assegurou.

Hoje, existem aproximadamente 700 operadoras móveis virtuais em atividade no mundo, que correspondem a 2% do número total de usuários de celular. De acordo com a consultoria Informa Telecom & Media, até 2013, o crescimento anual do setor será de 28%, chegando a 6,6 milhões de assinantes. Na Europa e nos Estados Unidos, o modelo atraiu grandes redes de varejo, como Carrefour e Walmart; bancos, como o Rabobank e o Privatbank; e empresas de mídia, a exemplo do canal esportivo ESPN, a gravadora Virgin e o grupo Disney.

Comandada pelo bilionário britânico Richard Branson, o grupo Virgin anunciou que terá uma MVNO no Brasil. O país é o foco número um das operações da companhia na América Latina, que será montada em parceria com a Tribe Mobile e consumirá investimentos de US$ 300 milhões nos próximos cinco anos.

De acordo com o presidente da Tribe Mobile, Phil Wallace, a atuação no Brasil só deve se concretizar em 2012. Antes, a empresa precisa obter as licenças na Anatel e fechar uma parceria que proporcionará a infraestrutura de serviços. Pelas regras do segmento, só podem atuar no país empresas que firmem contratos com as companhias que já atuam no mercado, como Vivo, TIM, Claro e Oi. Segundo Wallace, entre 40% e 50% das receitas da Virgin na América Latina deverão ter origem no mercado brasileiro.

A seguradora Porto Seguro foi a primeira no Brasil a anunciar a entrada no mercado das MVNOs. Batizada de Porto Seguro Telecomunicações, a empresa utilizará a rede de acesso da TIM, enquanto a Ericsson fornecerá os serviços gerenciados, todos os softwares, hardwares, instalação e integração dos serviços. A nova operadora deve iniciar as atividades até o fim do ano e vai oferecer o serviço para toda a base de clientes, corretores e funcionários, podendo atingir um público de aproximadamente 3 milhões de potenciais consumidores.

A Effortel é outra interessada no mercado. Segundo Liudvikas Andriulis, o varejo tem especial interesse no modelo por se tratar de uma fonte que continua a gerar receita mesmo depois que as lojas físicas fechem no fim do dia. "É uma estratégia de marca própria, como a de comida, mas com uma margem maior", justificou. A Effortel cuida da operação de telefonia celular do Carrefour em quatro países: Bélgica, Itália, Polônia e Taiwan.

O repórter viajou a convite da Amdocs

Dois modelos Para atuar como MVNOs, as empresas devem escolher entre dois tipos de modelos. O primeiro é o de atuação como autorizadas, em que contratam os serviços das operadoras e são responsáveis por cuidar dos processos de comercialização e gestão de clientes, ficando sujeitas às regras da Anatel. Outra opção é atuar como credenciadas, vendendo apenas os produtos, enquanto uma operadora tradicional cuida do gerenciamento de cobranças e do atendimento aos usuários.