A posse da nova equipe econômica, com Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini reconduzido ao Banco Central, deve ocorrer ainda nesta sexta-feira ou, no máximo, na próxima segunda-feira. Demitido durante o segundo turno das eleições, Guido Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda do país no período democrático, acertou sua saída com a presidente Dilma Rousseff para sexta-feira, mesmo dia em que Miriam Belchior deve deixar o Planejamento para ocupar um cargo no Palácio do Planalto. Com isso, a expectativa é de que a presidente faça o anúncio oficial do novo time e das diretrizes econômicas amanhã.
O ministro Mantega deve se despedir durante a entrevista para comentar os resultados do Produto Interno Bruto (PIB), que serão divulgados na sexta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelas estimativas do mercado, ele poderá deixar o governo anunciando que o país saiu da recessão, já que a projeção é de que o PIB do terceiro trimestre tenha crescido entre 0,1% e 0,2%.
Apesar de Mantega ter sido o ministro mais importante do governo Dilma, ele é considerado responsável por estender demais a chamada nova política econômica, com foco no consumo. "Enquanto havia espaço no mercado de trabalho, essa política, de estímulo ao consumo, de benefícios fiscais e de aumento de salários, funcionou bem. O problema é que a insistência gerou retração nos investimentos produtivos, inflação alta e queda no PIB. E ele não admitiu que o modelo estava esgotado", comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
"O governo erra ao demorar tanto para fazer o anúncio da nova equipe. O Mantega foi demitido ainda no processo eleitoral. E com razão, pela responsabilidade na condução de uma política fiscal expansionista, minada pela contabilidade criativa. Mas a demora provocou um turbilhão no mercado", ressaltou Alex Agostini, analista da Austin Ratings. Para ele, o legado do ministro é um deficit recorde, de R$ 25 bilhões, no primário. "O Brasil andou para trás com Mantega. Ele não vai deixar saudade", disse.
A lentidão para anunciar o substituto, segundo fontes ligadas ao governo, foi reflexo da pressão de setores do PT, que não avalizaram o nome de Joaquim Levy para a Fazenda, por ser considerado muito ortodoxo, justamente a principal característica que anima os especialistas. O senador e ex-candidato da oposição Aécio Neves (PSDB) brincou com a nomeação. "Levy no Ministério da Fazenda é como se um grande quadro da CIA fosse convocado para dirigir a KGB", disse, referindo-se aos serviços secretos dos Estados Unidos e da antiga União Soviética.
Fontes ligadas ao governo garantem que a restrição a Levy foi trabalhada por Luiz Inácio Lula da Silva durante o último fim de semana e que o ex-presidente teria sido bem-sucedido em reduzir a pressão. "Também houve rumores de que Nelson Barbosa não estaria satisfeito no Ministério do Planejamento", revelou Rostagno, do Banco Mizuho.
De fato, o convívio dos dois não será fácil. Futuro dono da chave do cofre, Levy é conhecido por comandar as contas públicas com mão de ferro. Barbosa, por sua vez, é desenvolvimentista e está mais alinhado com a ideologia do partido da presidente. "Eles vão ter que trabalhar juntos para resgatar a credibilidade", pontuou Agostini.
Equipe já está na cidade
Os escolhidos pela presidente Dilma Rousseff para compor a equipe econômica estão em Brasília desde o início da semana. Joaquim Levy, futuro ministro da Fazenda, e Nelson Barbosa, próximo titular do Ministério do Planejamento, reuniram-se na capital federal para definir suas equipes e as diretrizes da política econômica do segundo mandato da presidente reeleita. É bem provável que, durante o anúncio oficial previsto para amanhã, Dilma revele também o nome dos presidentes de bancos públicos.
O anúncio do governo é uma tentativa de acalmar o mercado financeiro e preparar um plano de resgate da credibilidade das contas públicas. Para isso, deve lançar um pacote de corte de gastos e sinalizar a tão esperada austeridade fiscal em 2015. O objetivo é claro: evitar o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco Moody"s, Standard & Poor"s e Ficht.
A permanência de Alexandre Tombini no Banco Central (BC), por escolha própria, não representa mudanças na condução da política monetária. Mas o mesmo não se pode dizer da intensidade como os ajustes serão implementados. O entendimento é que o resgate da credibilidade passa por um choque de expectativas. Por isso, é possível que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a dose do aperto nos juros, para 0,5 ponto na última reunião do ano, na semana que vem.
A radicalização nos juros já foi comunicada ao mercado pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo. O diretor pode migrar do BC para a Fazenda e assumir o comando do Tesouro Nacional, no lugar do contestado Arno Augustin, que, entretanto, não deve sair do governo, apenas dos holofotes da mídia. Além de Carlos Hamilton, Tarcisio Godoy e Eduarda La Rocque estão cotados. Um economista com trânsito no governo acredita que Godoy tem mais chances. "Os três nomes são ótimos. Bem melhores do que a situação atual (Augustin)", afirmou.
Para o BB a escolha está entre Paulo Caffarelli e Alexandre Abreu, ambos de carreira no banco. Jorge Hereda, indicado por Jacques Wagner, deve continuar no comando da Caixa. Já Luciano Coutinho pode ser substituído no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).