A 49 dias para o fim da gestão do governador Agnelo Queiroz, serviços essenciais para a população, como transporte público, coleta de lixo e atendimento de saúde, estão comprometidos. Os problemas indicados por rodoviários, trabalhadores de limpeza urbana e empregados da fornecedora de alimentos para os hospitais são os mesmos: atraso no pagamento de salário e de benefícios. De um lado, os servidores argumentam que não recebem os vencimentos há dias. De outro, empresas alegam que não têm dinheiro porque o GDF não deposita os valores devidos. No fim, quem paga a conta são os moradores do DF.

A greve de ônibus da Viação Pioneira dura sete dias. Ontem, mais duas cooperativas aderiram à paralisação: a Cootarde e a Alternativa. Além dos 200 mil passageiros afetados pela greve, 57 mil novos usuários do sistema de transporte são prejudicados. As cooperativas atendem Santa Maria, Gama, Samambaia e Brazlândia. O DFTrans confirmou que deve R$ 800 mil para cada uma delas, sendo que R$ 73 mil foram pagos à Cootarde. A autarquia abriu negociação para resolver o problema. Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Jorge Faria, as reclamações dos empregados são as mesmas da Viação Pioneira. “Eles (os funcionários) estão sem receber e resolveram parar também”, disse.

O autônomo Wenderson Fernandes dos Santos, 38 anos, foi uma das vítimas da greve de ônibus. O morador do Gama faz tratamento de hemodiálise e ontem precisava ir ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) para trocar um cateter no pescoço. Depois de quase uma hora na parada sem conseguir embarcar em nenhum ônibus para o Plano Piloto, ele começou a se preocupar. “Tenho de chegar lá até as 13h30, no máximo, e já é quase meio-dia. A médica disse que, se eu não trocar hoje, dificilmente vou conseguir fazer o procedimento”, afirmou.

Na saúde, a Sanoli interrompe, a partir de hoje, as refeições aos acompanhantes de pacientes de 16 hospitais do DF, à exceção da unidade de Santa Maria (não atendida pela empresa) e as cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A medida, segundo a fornecedora de alimentos, é para garantir a dieta dos pacientes internados por mais dias. Ela explicou que, até o momento, a Secretaria de Saúde não quitou o pagamento de setembro e deixou de repassar o reajuste da data-base dos funcionários. Segundo a Sanoli, são R$ 13,5 milhões em dívidas.

A empresa afirma que, em razão dos débitos do GDF, há dificuldade para repor os estoques e honrar com a folha de pagamento dos cerca de 1,7 mil funcionários ligados à Secretaria de Saúde. O órgão informou que faria ontem um repasse parcial para a empresa e garantiu que nenhum paciente ficará sem alimentação.

Coleta

Quanto ao lixo, os resíduos ficaram espalhados em vários pontos do DF pelo menos até ontem. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) informou que todos os funcionários das terceirizadas retornaram ao serviço, e a coleta começou a ser retomada com todos os caminhões nas ruas. As áreas que tiveram um acúmulo de lixo, como o Sudoeste, o Plano Piloto e o Guará, receberam prioridade. O Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Urbana do DF (Sindlurb-DF) disse que apenas 30% dos garis não aderiram à greve. Segundo a entidade, se o repasse não for feito no prazo, os trabalhadores retomaram a paralisação. As empresas Valor Ambiental e a Sustentare têm 4,9 mil funcionários.

O coordenador da equipe de transição, Hélio Doyle, disse que os técnicos envolvidos na mudança de governo alertam sobre a atual realidade do GDF: a gestão pública se aproxima do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal. O secretário de Comunicação do GDF, André Duda, garantiu que a dívida do Executivo local não é de R$ 2,5 bilhões, mas não informou o valor atual. Segundo ele, nenhum deficit será transferido para 2015.