O senador Vital do Rêgo (PMDB), alinhado ao Palácio do Planalto na condução da CPI mista da Petrobras, é o nome escolhido pelo partido, em acordo com o governo, para ocupar a vaga do ministro José Jorge no Tribunal de Contas da União (TCU), que se aposenta em 18 de novembro. O aliado, cuja indicação deve ser confirmada em reunião de bancada do PMDB nesta semana, vai herdar a relatoria do processo que investiga a estatal petroleira. A ideia inicial do governo era emplacar a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, no entanto, diante da resistência dos senadores, havia o risco de a Casa não aprová-la em votação secreta. Segundo apurou o Correio, Ideli pode ainda sonhar com uma vaga no TCU, no lugar de José Múcio Monteiro, caso antecipe a aposentadoria para assumir a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Cotado para ser líder do governo no Senado ou ainda candidato à presidência da Casa caso Renan Calheiros (PMDB-AL) realmente desistisse da reeleição, Vital do Rêgo teria ainda quatro anos de mandato como senador, no entanto, já confidenciou a alguns colegas de partido que desejaria ir para o TCU. Ontem, um senador do PMDB informou que a saída de Vitalzinho, como é chamado, ajudaria o partido a resolver internamente outras questões.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), que deseja comandar um ministério na segunda gestão da presidente Dilma Rousseff, é um dos principais articuladores. A ida para o TCU do senador paraibano, que seria o nome forte do PMDB para comandar o Ministério da Integração Nacional, deixaria o caminho aberto para Braga. Apesar do desejo do peemedebista, o comando da pasta deve ficar com algum político do Nordeste. 

No Planalto, Vital é muito benquisto. Aliados consideram que, em 2012, quando presidiu a CPI do Cachoeira, conseguiu livrar o governo de uma grande fria ao ajudar a diminuir o foco que investigava a construtora Delta. Os trabalhos ficaram, em sua grande maioria, restritos à atuação da empreiteira no Centro-Oeste e, dessa maneira, governadores aliados acabaram poupados.

Em setembro do ano passado, no momento em que o PSB entregou os cargos que tinha no governo Dilma em razão da pré-candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, o senador Vital do Rêgo era o mais cotado para assumir a vaga do então ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. No entanto, Francisco Teixeira, ligado ao governador do Ceará, Cid Gomes, que assumiu como interino, acabou sendo efetivado. A reportagem tentou contato com Vital do Rêgo, mas ele não atendeu aos telefonemas.

O primeiro-suplente de Vital do Rêgo no Senado é o empresário paraibano Raimundo Lira, que foi senador entre 1987 e 1995 e tem um patrimônio avaliado em mais de R$ 50 milhões. Em 2010, quando Vital disputou a eleição para o Senado, ele doou R$ 870 mil para a campanha. Na época, a contribuição do suplente equivalia a quase um terço dos R$ 3 milhões arrecadados pelo senador da Paraíba.

Alternativa
Dentro do governo, existe uma outra movimentação para recompensar Ideli Salvatti, fiel à presidente Dilma Rousseff nos últimos quatro anos: ela poderia tornar-se ministra do TCU, por indicação do Executivo federal, na vaga do atual ministro José Múcio Monteiro. Já o pernambucano seria deslocado do tribunal para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), posto que ocupou no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula simpatiza com a ideia. Múcio é considerado um excelente operador político, paciente, com bom trânsito entre os parlamentares. Tanto que, ao deixar o ministério responsável pela articulação política para ser avalizado pelo Senado — como é regra nas indicações para o TCU — viu a própria sabatina transformar-se numa ode a sua atuação como intermediador. Faltaria ainda o aval da própria presidente.

Segundo fontes ouvidas pelo Correio, o nome dele também agradaria por ser “um não petista” na articulação política. “O atual titular, Berzoini, é um grande ministro. Mas a turma anda meio enjoada do PT”, brincou um aliado. Alguns problemas, contudo, ainda precisam ser contornados nessa articulação.

O principal seria ter autonomia para exercer o cargo. “Múcio precisa ter a maçaneta à mão”, brincou um interlocutor. Na prática, ter a liberdade de entrar no gabinete presidencial a todo momento em que isso for necessário, autonomia que Dilma deu a poucos ministros até o momento.


Os benefícios
Confira ao que os ministros do TCU têm direito

Salário de R$ 26,6 mil

Auxílio-alimentação de R$ 740,96

Cota de viagens para representação institucional no valor de R$ 43,2 mil em viagens nacionais

Carro oficial

Ressarcimento parcial da despesa realizada com plano de saúde próprio, dos dependentes e dos pensionistas civis

O TCU dispõe de três apartamentos funcionais em sua reserva técnica destinados aos ministros

No caso de não possuir apartamento próprio e não existir imóvel funcional à disposição, a autoridade pode receber auxílio-moradia

 

 

 

Nova apuração no ano que vem

Integrantes da CPI mista da Petrobras têm poucas esperanças de obter a tempo as cópias dos depoimentos do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. A avaliação é de que, sem os documentos, é improvável que o relatório da CPI, que precisa ser votado até 22 de dezembro, consiga provocar o indiciamento dos parlamentares e demais autoridades envolvidos no esquema, suspeito de ter desviado cerca de R$ 10 bilhões por meio de contratos fraudulentos na petroleira. Na semana passada, a coleta de assinaturas para a nova investigação ficou prejudicada pela existência de dois cabeçalhos diferentes, um elaborado pelo PSDB e outro pelo PPS. Assim, a busca pelas assinaturas dos parlamentares reeleitos deve começar, efetivamente, hoje.

“Muito provavelmente vai ser necessário”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), integrante do colegiado, sobre a criação de uma investigação em 2015. “Sem a delação, realmente fica inviável produzirmos um relatório que aponte com segurança quem foram os beneficiários do esquema. Além disso, a partir de 2015, a correlação de forças no Congresso muda. E isso pode se refletir na composição do novo colegiado”, completou.

Na semana passada, integrantes da CPI chegaram a se reunir com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, para reforçar o mandado de segurança no qual o colegiado pede acesso à delação. Os depoimentos também chegarão à CPI quando o Ministério Público apresentar ao STF as denúncias contra as autoridades envolvidas, mas há pouca expectativa de que isso ocorra este ano. “Acho difícil, porque o Ministério Público não tem prazo e não deu prazo para concluir (as denúncias). Como estamos em cima, será bem difícil”, resumiu o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF).