As negociações internas do Partido dos Trabalhadores para a disputa da presidência da Câmara dos Deputados vão contar com o apoio de dois ministros do governo Dilma Rousseff. A reunião da bancada petista na quinta-feira terá a participação dos titulares da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. Ambos têm a missão de levar mensagens do Palácio do Planalto aos novos deputados e aos reeleitos, além de ajudar a escolher — e a reforçar — a candidatura de um dos três petistas cotados para a disputa contra o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), pela presidência da Casa. 

Líder do PT na Câmara, o deputado federal Vicentinho (SP) espera anunciar, já na quinta-feira, o nome do escolhido pelo partido para concorrer à vaga. São cotados os petistas Marco Maia (RS), que atualmente é relator da CPMI da Petrobras; o vice-presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (SP); e o ex-líder do PT na Casa José Guimarães (CE). Dos três, o cearense é o que tem melhor trânsito com o Palácio do Planalto. Consolidou-se nos dois mandatos como deputado federal e conseguiu se desligar da imagem de ser apenas o irmão do ex-deputado José Genoino (PT-SP), condenado no mensalão. 

Presidente do PT, Rui Falcão também estará na reunião da bancada desta semana. Quem vencer a disputa interna terá de enfrentar Eduardo Cunha, que afirma estar disposto a brigar pela vaga. Ontem, Cunha foi mais incisivo. Disse que, se eleito, não será submisso ao Planalto. “Não sou candidato de oposição nem quero ser candidato de oposição, mas também não quero ser um candidato submisso ao governo. Quero apenas construir uma relação de respeito com o governo e com a oposição”, disse ao portal UOL. 

A candidatura de Cunha é mais uma forma de enfrentar o governo Dilma. Ao entrar na disputa, o deputado resolveu quebrar o acordo de rodízio entre PT e PMDB para a presidência da Casa. Se o acerto fosse mantido, esta seria a vez de o PT ficar com o cargo, mas o parlamentar carioca defendeu não haver “ânimo da bancada na promoção de nenhum tipo de rodízio. Temos ânimo, sim, em ter uma candidatura que represente o parlamento e que tenha o apoio da maioria. Se nessa maioria puder constar o PT, ótimo, caso contrário, que se tenha a maioria, porque o PT não é a maioria da Casa”, alfinetou o parlamentar, ao assumir postura de candidato no fim de outubro. 

A importância da cadeira de presidente da Câmara torna a disputa tão acirrada. Na ausência do presidente da República e do vice, é o chefe da Câmara dos Deputados que assume o Executivo federal. Além disso, o eleito terá nas mãos a missão de administrar um orçamento bilionário, além de controlar a pauta de votações em um ano em que a Operação Lava-Jato deve continuar a desvendar esquemas de corrupção envolvendo políticos e o pagamento de propinas com dinheiro de estatais para financiar campanhas. 
Colaborou Paulo de Tarso Lyra

“Temos ânimo, sim, em ter uma candidatura que represente o parlamento e que tenha o apoio da maioria. Se nessa maioria puder constar o PT, ótimo, caso contrário, que se tenha a maioria, porque o PT não é a maioria da Casa”
Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara

Perfis

Arlindo Chinaglia
Presidente da Câmara de 2007 a 2009, o deputado federal, duas vezes líder do governo na Câmara e também líder do PT, trabalhou para ser ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), mas foi preterido pela então senadora Ideli Salvatti (PT-SC) após a queda do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). Chinaglia tem relação tumultuada com o Palácio do Planalto, que reconhece a capacidade do petista de São Paulo de articulação política. Porém, um dos empecilhos que o atual vice-presidente da Casa encontra na disputa à presidência da Câmara é o temor do Planalto pelas posições independentes em relação ao governo.

José Guimarães
Irmão do ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), José Guimarães (PT-CE) ficou conhecido em 2005, após ter um assessor preso com dinheiro na cueca. À época, era deputado estadual e líder do PT na Assembleia Legislativa do Ceará, e alegou desconhecer os propósitos do assessor: “Não sei o que ele veio fazer aqui”. Em 2007, foi eleito deputado federal pela primeira vez. Assumiu a liderança do PT na Câmara. Tentou ser indicado à vaga da vice-presidência da Casa após a renúncia de André Vargas (sem partido-SP), mas perdeu o posto para Chinaglia. Dos cotados, é considerado o deputado com melhor trânsito no Planalto.

Marco Maia
Deputado federal desde 2007, Marco Maia (PT-RS) ganhou destaque como relator da CPI da Crise Aérea naquele mesmo ano. À época, ele recomendou o fim das passagens gratuitas para diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) com o intuito de evitar mais polêmicas sobre o assunto. A articulação política garantiu ao então recém-chegado deputado o posto de vice-presidente da Casa no mesmo mandato. Depois, o petista gaúcho conseguiu vencer o colega Cândido Vaccarezza (PT-SP) na disputa para a presidência da Câmara. Tentou ser líder de governo este ano, mas perdeu o cargo para Arlindo Chinaglia.

 

 

 

Bate-boca no Senado

 

Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) bateram boca na tarde de ontem no plenário. O tucano acusou a presidente Dilma Rousseff (PT) de mentir e praticar “estelionato” na campanha eleitoral. Segundo Aloysio, a petista disse que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) promoveria cortes na economia caso fosse eleito presidente da República, mas agora é Dilma que adota as medidas que ela mesmo havia condenado. 

Gleisi foi à tribuna defender a petista e disse que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), se contradisse na campanha ao assegurar que não haveria racionamento de água, apesar da crise hídrica enfrentada pelo estado.

Aloysio afirmou que Dilma “acorda” para o problema do ajuste fiscal e criticou os aumentos de energia e da gasolina. “(A presidente) disse, durante a campanha, que cortar gastos e ajustar contas eram característica nossa, dos adversários dela”, disse. Em seguinda, subiu o tom: “Existem sete classes de ladrões, e a primeira é a daqueles que roubam a mente dos semelhantes por meio de palavras mentirosas”.

Em resposta, Gleisi foi à tribuna dizer que não há nada demais em fazer “ajustes orçamentários”. E lembrou que o Paraná, governado pelo PSDB, hoje corta despesas e aumenta impostos. “É absolutamente normal.” Ela negou que Dilma tivesse mentido ou praticado estelionato. “Essas são palavras muito fortes para se referir à presidenta”, reclamou. Gleisi disse ainda que o aumento da gasolina é “pequeno” e convidou Aloysio a “descer do palanque” a fim de “ajudar o Brasil”.