As ações da Embraer despencaram ontem 4,12%, liderando as quedas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), que fechou o pregão em baixa de 0,93%. Os papéis da fabricante de aeronaves caíram logo após o presidente da Azul, Antonoaldo Neves, ameaçar suspender uma encomenda certa de 30 jatos, além de outros 20 em estudo. O valor do contrato negociado pela Azul é de R$ 3 bilhões. Os primeiros oito jatos deveriam ser entregues a partir de 2015, mas é provável que a companhia aérea peça à Embraer para atrasar a programação. Dos 140 aviões de sua frota, 88 são da fabricante brasileira. 

A declaração de Neves foi uma crítica à Medida Provisória (MP) 652, que cria o Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional. Na sua avaliação, o texto cujo parecer será lido hoje no Congresso inibe investimentos estrangeiros, ao favorecer aviões de grande porte. Ele teme que o relatório do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), em vez de favorecer o setor, poderá prejudicá-lo.

O parlamentar fará a apresentação do seu projeto esta tarde, durante audiência da comissão mista instalada para o tema. O programa do governo prevê R$ 7,3 bilhões a serem investidos na melhoria de aeroportos em cidades pequenas e médias. Especialistas em aviação civil que chegaram a fazer um estudo para investidores estrangeiros sobre o projeto de aviação regional do governo contam que eles desistiram do projeto por não verem oportunidade de negócios nele. Desde a publicação da MP, em julho, nenhuma empresa regional foi criada, e uma das poucas existentes, a NHT, suspendeu as operações.

Rotas ameaçadas
“A proposta do senador Ribeiro não impõe uma limitação para o subsídio do governo até 60 assentos e não especifica o tipo de avião. Isso permite o uso de jatos grandes, descaracterizando a aviação regional que usa aeronaves com capacidade para até 120 passageiros”, explicou Neves ao Correio. “Se os incentivos serão para usar aviões grandes nas rotas regionais, vamos reavaliar nossa estratégia, suspender algumas frequências e optar por comprar aeronaves maiores”, explicou. “E eu já avisei aos assessores do senador que a primeira rota que será cancelada será no Pará”, emendou.

“A ideia do projeto era estimular a aviação em cidades de pequeno e médio porte e a fabricação de aviões regionais no país. O texto, do jeito que está, fará o contrário. No nosso caso, teremos de cancelar 20 rotas nas 105 cidades que operamos atualmente”, lamentou o executivo. Procurada, a assessoria do senador tucano informou que o limite de 60 assentos para o subsídio nunca esteve no texto e que esse tipo de limitação poderá ser feita durante a regulamentação da lei. E acrescenta que Ribeiro ainda está avaliando se incluirá ou não o limite de assentos no texto. Os funcionários da Embraer anunciaram ontem que decidiram suspender a greve iniciada na última quinta-feira.