Moradores de pelo menos nove cidades devem amanhecer sem ônibus hoje, sexto dia de paralisação da Viação Pioneira. A greve dos rodoviários em razão da falta de pagamento de salário e do auxílio-alimentação afeta 200 mil passageiros. A empresa opera a maior bacia do Distrito Federal e, desde quinta-feira, 100% da frota, o equivalente a 640 ônibus, está parada nas garagens. No total, 3,2 mil funcionários estão de braços cruzados. Afirmam que retornarão ao trabalho apenas quando os valores forem depositados em conta. 

O Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) depositou ontem R$ 3 milhões para a Viação Pioneira, além do R$ 1 milhão enviados na sexta-feira. A autarquia, no entanto, alega não ter recebido dinheiro suficiente para que o governo quite a dívida de R$ 15 milhões com a operadora. Sem o repasse total, ela diz não ter recursos para garantir os salários e os benefícios dos rodoviários. Com esses pagamentos, eu fico zerado da dívida de gratuidades (custo de operação do Passe Livre Estudantil e benefício dos deficientes). Faltarão R$ 11 milhões da operação branca, quando o Expresso DF circulou sem a cobrança de tarifa dos usuários. Embora o passageiro não tenha arcado com o valor passagem, o DFTrans pagou para a empresa fazer o transporte, explicou o diretor-geral do órgão, Jair Tedeschi. 

Ele confirmou, no início da noite, que encaminhou uma notificação à Viação Pioneira pedindo o retorno dos serviços de transporte público. Caso a empresa não considere a solicitação, ele estuda recorrer à Justiça para garantir a circulação. 
Diante do impasse, os passageiros não têm outra saída se não esperar horas nos pontos de ônibus ou optar pelo transporte clandestino, que chega a cobrar mais que o dobro do valor das tarifas. Na manhã de ontem, motoristas de coletivos com identificação escolar e de vans clandestinas aproveitaram para oferecer transporte pirata nos pontos de ônibus de São Sebastião e do Jardim Botânico. Cobravam de R$ 3 a R$ 6 para o deslocamento até a Rodoviária do Plano Piloto. A volta para casa, no entanto, era mais cara: exigiam até R$ 10. 

Reunião 

Por volta das 11h30, em uma parada de ônibus de São Sebastião, 24 pessoas esperavam um ônibus que as levasse até o Plano Piloto. Uma delas era a doméstica Suziane Cardoso, 31 anos. Ela chegou ao ponto às 10h e, depois de quase duas horas, permanecia no mesmo lugar. Eu tinha de estar às 8h na Asa Norte e ainda estou aqui. Na quinta-feira, não consegui ir ao trabalho e, na sexta-feira, não passou ônibus. Hoje, o jeito é pegar um pirata porque não temos outra opção. 

Em outra parada de São Sebastião, 15 passageiros esperavam uma condução perto do meio-dia. A dona de casa Maria José Sousa, 65 anos, tinha uma consulta médica marcada para as 14h no Núcleo Bandeirante. Essa greve prejudica quem mais precisa. Não pego pirata porque tenho medo. Ou eu entro em um ônibus normal, ou o jeito é voltar para casa. 

No início da manhã, cerca de 400 rodoviários de Santa Maria e do Gama se encontraram com representantes do Sindicato dos Rodoviários na garagem da Viação Pioneira, em Santa Maria. O diretor de Imprensa da entidade, João Jesus de Oliveira disse que a greve só acabará quando os pagamentos forem efetuados. A base do salário de um motorista é de R$ 1.928 e a de um cobrador, R$ 1.008. Não temos previsão do retorno dos serviços, disse.

 

Prejuízo 

A Viação Pioneira opera a Bacia 2 e transporta passageiros do Itapoã, do Paranoá, do Jardim Botânico, do Lago Sul, da Candangolândia, do Park Way, de Santa Maria, de São Sebastião e do Gama.