Escrevo de Brisbane, Austrália, onde se realiza neste fim de semana a cúpula do G20, antecedida de um encontro no sábado dos líderes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O G20 vem sofrendo certo esvaziamento nos anos recentes. Passada a fase mais aguda da crise econômica dos países avançados, o grupo mostra dificuldades de fazer progredir a agenda internacional e a reforma da governança global. As potências tradicionais precisam menos do apoio dos emergentes e mostram-se mais resistentes a rever o status quo. A reforma do FMI, por exemplo, recebeu grande impulso do G20 até 2010, mas estagnou desde então.

Em contraste, os Brics vêm ganhando ímpeto — em parte como resposta aos impasses no G20 e no FMI. Tenho me dedicado muito a essas negociações nos últimos sete anos e talvez tenha perdido um pouco a perspectiva. Mas parece-me claro que a cúpula dos Brics em Fortaleza, em julho deste ano, foi um marco, particularmente por causa da assinatura dos acordos do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas. A criação de um banco e de um fundo monetário dos Brics alçou a cooperação entre os cinco países a um novo patamar.

Agora, o grande desafio é a implementação das duas iniciativas. Permita-me, leitor, dizer uma pequena palavra em favor do Brasil. Bem sei das nossas limitações, que são muitas, mas tenho observado que, entre os Brics, o Brasil é o que demonstra, não raro, maior capacidade de formulação e articulação. As nossas equipes, ainda que relativamente pequenas, têm tido algum destaque em matéria de coordenação. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega tiveram papel importante nos dois anos de negociação que levaram até Fortaleza.

Pois bem, desde Fortaleza, o “B” dos Brics ficou muito absorvido por uma das mais acirradas disputas eleitorais de que se tem notícia. Talvez por isso tenha havido menos progresso na implementação do Banco e do Arranjo Contingente do que se poderia esperar.

A próxima cúpula anual dos Brics será na Rússia, em julho de 2015. É muito importante que se avance de modo significativo até lá em termos de concretização das duas iniciativas de Fortaleza.

A reunião dos Brics neste sábado será a última ocasião para os cinco líderes se encontrarem antes da cúpula na Rússia. A presidência da reunião cabe ao Brasil ( pelas regras dos Brics, o país que sedia a cúpula anual fica encarregado da coordenação do processo até a cúpula seguinte). É a oportunidade para fixar metas e dar diretrizes para os grupos negociadores até a cúpula na Rússia.

É o que os delegados brasileiros estão tentando. Estamos neste momento em plena discussão e preparação do encontro. Veremos no sábado de manhã (hoje à noite no Brasil) o que foi possível alcançar.