Em reunião ontem, a Executiva Nacional do PT admitiu apoiar um deputado de outro partido da base aliada se ele reunir mais condições de derrotar a candidatura à presidência da Câmara do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), desafeto da presidente Dilma Rousseff. O PT também cobrou mais participação no 2º mandato de Dilma, sobretudo nas decisões relativas à política econômica e à regulação dos meios de comunicação.

Classificando a reeleição de Dilma como "vitória sobretudo do PT", e destacando a "dedicação e liderança do ex-presidente Lula", a resolução aprovada defende que o partido participe "ativamente" das decisões do segundo mandato.

"PT deve buscar participar ativamente das decisões acerca das primeiras medidas do segundo mandato, em particular sugerir medidas claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política e em defesa da democracia nos meios de comunicação", afirma o documento da Executiva.

Sobre a candidatura para enfrentar Eduardo Cunha, o presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido poderá abrir mão da candidatura, apesar de ter a maior bancada na Câmara e, com isso, o direito de indicar o presidente.

- Isso vai ser objeto de reunião da nossa bancada. Naturalmente o PT, como maior bancada, quer ter candidato ou, na pior das hipóteses, influir. Eu, pessoalmente, acho que o PT deve indicar o candidato a presidente, e o Eduardo Cunha, que já está se colocando como candidato, precisa fazer maioria para ser presidente - disse Falcão.

Cunha diz que reação do PT é normal

Eduardo Cunha considerou "normal" a movimentação do PT, mas disse que o partido está caindo em contradição ao cogitar apoiar alguém de fora da sigla, já que tem usado como argumento o respeito à proporcionalidade.

- Eu vou seguir meu processo. Já consolidei a minha bancada e vou buscar apoios fora - disse o líder do PMDB.

O PT fará uma reunião na semana que vem, com os atuais deputados e os eleitos, para discutir o assunto.

- Vamos fazer um trabalho interno para tentar unir a bancada em torno de um nome, mas também pode ser alguém de fora do PT, no limite alguém da aliança que unifique mais - afirmou um integrante da Executiva.

O texto da Executiva deixa claro que o sucesso do segundo mandato de Dilma é crucial para o futuro do PT. Tendo enfrentado este ano a eleição mais apertada da História, os petistas já se preocupam com o possível encerramento de seu ciclo em 2018, depois de 16 anos no comando do governo federal.

"A reeleição da companheira Dilma Rousseff para presidir o Brasil até 31 de dezembro de 2018 é uma grande vitória do povo brasileiro. (&) Uma vitória sobretudo do PT e do nosso projeto, que conquista um quarto mandato, algo que nenhuma outra força política havia alcançado até agora no país", diz outro trecho.

O texto também defende propostas contrárias às políticas do governo, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salário, e o fim do fator previdenciário. Enfrentando dificuldades em sua própria base no Congresso, o PT volta a defender a "democracia direta", recorrendo a movimentos sociais e setores organizados da sociedade civil para tentar emplacar sua agenda.

No documento, o PT ainda classifica como "ridículo" o pedido feito pelo PSDB para auditar o resultado das eleições e afirma que a oposição tem "nostalgia" da ditadura militar, em referência à manifestação em São Paulo, no fim de semana, em que os participantes questionaram a reeleição de Dilma e defenderam a volta dos militares. O ato, no entanto, não tinha vínculos partidários. Ontem, o procurador-geral eleitoral, Rodrigo Janot, enviou ao Tribunal Superior Eleitoral parecer recomendando que não seja feita a auditoria pedida pelo PSDB. Segundo o procurador, o partido não apresentou qualquer indício de que houve fraude na votação para presidente.

Na reunião também foi discutida a necessidade de aproximação entre Dilma e o partido. Ela será convidada a participar da reunião do Diretório Nacional, nos dias 28 e 29, em Fortaleza (CE). No momento em que a sociedade está dividida, o PT montou uma comissão para organizar a posse de Dilma, em 1º de janeiro. O partido quer fazer grande festa popular com a participação de movimento sociais.

- Queremos que a posse seja semelhante à festa do presidente Lula em 2002 - disse Falcão.

André Vargas vai à sede do PT

Tendo deixado o PT em meio a acusações de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, o deputado André Vargas (sem partido-PR) estava ontem na sede do partido, em Brasília, onde era realizada uma reunião da Executiva da legenda.

- Vim conversar com alguns deputados (sobre) assuntos variados. Somos companheiros há mais de 20 anos e há oito somos deputados juntos - afirmou Vargas, por mensagem de celular.

Apesar de o acesso ao prédio ser restrito, Rui Falcão afirmou que o local onde o deputado estava, no primeiro andar, tem "trânsito livre". O acesso da imprensa não foi permitido nem no térreo.

- Essa sala aqui em cima tem trânsito livre - disse o presidente do PT.

 

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PMDB convida partidos nanicos para reunião do blocão

Ideia é amarrar discurso de unidade em torno de Eduardo Cunha para presidência da Câmara

LETICIA FERNANDES E JULIANA CASTRO

RIO — O PMDB se reunirá nesta terça-feira em Brasília com integrantes do chamado blocão — além do PMDB, participam PR, PTB, PSC e Solidariedade — para amarrar um discurso de unidade em torno do nome de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara e tentar liquidar as chances de o PT indicar um quadro próprio. O nome do deputado é consenso entre os peemedebistas da bancada do Rio. Em reuniões com lideranças do partido, Cunha vem instruindo parlamentares recém-eleitos a adotarem um discurso de independência do Planalto, mas que não se confunda com o da oposição.

— Cunha disse que temos que tomar cuidado, porque o PMDB faz parte da base e da coligação com (a presidente) Dilma, para não parecer que somos um partido de oposição — afirmou o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ).

Cunha vai tentar também aglutinar o apoio de partidos de menor expressão. O peemedebista convidou nomes das siglas nanicas para a reunião desta terça-feira.

— O voto de cada um dos 513 deputados vale igual. Ganha quem tem capacidade de aglutinar, e ele vai tentar fazer isso, somar o maior número de apoios — disse o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), afirmando, ainda, que Cunha tem trânsito com todas as bancadas; ele nega que o correligionário tenha conquistado a simpatia dos demais deputados por capitalizar uma insatisfação com o PT e com Dilma Rousseff.

Segundo a deputada Soraya Santos (PMDB-RJ), eleita pela primeira vez, Eduardo Cunha já chamou os novatos para ao menos duas reuniões de bancada:

— O líder do PMDB tem chamado os novatos para irem se ambientando nas discussões e no plenário. Está tratando todos com muita atenção.

Reeleito para a Câmara, Pedro Paulo disse que o PMDB continuará a garantir a governabilidade, mas alerta que o PT não deve esperar do partido uma “posição mecânica” na Casa:

— O PMDB sempre foi o braço forte do governo, mas não se pode imaginar que terá uma posição mecânica. Ele não caminha automaticamente com o governo. Hoje, o clima é muito difícil para uma candidatura do PT ou mesmo do PSDB — disse, acrescentando que a derrota imposta ao governo na votação dos conselhos populares se deu em função de “mágoas eleitorais”: — O Congresso funcionou em função das mágoas eleitorais, mas acredito que essa temperatura vá baixar.

TEMER OFERECE JANTAR

Também nesta terça-feira haverá um jantar organizado pelo vice-presidente Michel Temer no Jaburu, com cerca de 300 convidados. O deputado Pedro Paulo acredita que será o momento de “lavar a roupa suja” da eleição. Ele nega que Temer tentará enquadrar o partido:

— Será prudente para ouvir e lavar roupa suja. Mas não acredito que seja um movimento de esvaziamento da candidatura do Eduardo Cunha, tampouco uma tentativa de controle por parte do vice-presidente.

Para Eduardo Cunha, não há reedição do blocão, pois o grupo nunca deixou de existir e continuará unido. Sobre a primeira derrota do Planalto, negou que a ideia tenha sido a de “passar um recado” ao governo petista:

— (O blocão) Nunca deixou de existir, não houve uma semana em que a gente não se reunisse, não estamos fazendo nada de diferente. Ninguém teve objetivo nenhum de passar recado.