O fraco desempenho da indústria e a queda no preço de matérias-primas como minério de ferro derrubaram as exportações brasileiras. A balança comercial teve déficit de US$ 1,177 bilhão em outubro, o pior para o mês em 16 anos. Houve queda de 19,7% nas exportações, e o déficit comercial só não foi maior porque, com a economia crescendo pouco, as importações também recuaram. -BRASÍLIA- Afetado pela queda nos preços de commodities importantes na pauta de exportações, como o minério de ferro, e pelo fraco desempenho das vendas de produtos industrializados, o comércio exterior brasileiro registrou um déficit de US$ 1,177 bilhão em outubro, o pior para o mês desde 1998, quando a balança registrou saldo negativo de US$ 1,443 bilhão. As exportações somaram US$ 18,330 bilhões e as importações, US$ 19,507 bilhões. O resultado só não foi pior porque as importações também estão caindo, como reflexo do desaquecimento da economia. 

No ano, o déficit acumulado é de US$ 1,871 bilhão, inferior ao registrado no mesmo período de 2013: US$ 1,99 bilhão. Nos dez primeiros meses de 2014, as vendas externas somaram US$ 191,965 bilhões, e as importações, US$ 193,836 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). 

Em outubro, houve queda de 19,7% nas exportações em relação ao mesmo mês do ano anterior e de 10,6% ante setembro de 2014. Já as importações decresceram 15,4% e 9,2% nas mesmas comparações. 

Em relação a outubro de 2013, houve redução de 30,3% nas vendas de produtos manufaturados, com destaque para automóveis, que apresentaram uma queda de 52%, e óleos combustíveis, com decréscimo de 62,4%. Também entrou na conta o fato de, em outubro do ano passado, ter sido exportada uma plataforma para exploração de petróleo no valor de US$ 1,9 bilhão, o que não se repetiu no mês passado. 

No grupo de produtos básicos, as vendas caíram 15,4%, com ênfase para soja em grão, minério de ferro e milho em grão, com reduções de 55,6%, 41,3% e 30,2%, respectivamente. Já os embarques de semimanufaturados tiveram uma pequena diminuição de 1%, devido a óleo de soja em bruto e açúcar em bruto, entre outros itens. 

GOVERNO PREVÊ FECHAR O ANO COM SALDO POSITIVO Nas importações, houve queda de 36,2% em combustíveis e lubrificantes, 14% em bens de consumo, 12% em bens de capital e 9,3% em matérias-primas e intermediários. Em bens de consumo, as principais quedas foram observadas nas compras de automóveis, móveis e eletrodomésticos. Em bens de capital, os maiores decréscimos ocorreram com maquinaria industrial. 

O secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, disse que, apesar do resultado, o governo ainda aposta num resultado positivo da balança comercial este ano. Uma das razões é a diminuição do déficit da conta-petróleo (exportações menos importações de petróleo e derivados), que nos dez primeiros meses do ano teve um saldo negativo de US$ 13,773 bilhões, contra um déficit de US$ 18,903 bilhões no mesmo período de 2013. 

Godinho também citou dois outros fatores que devem contribuir para um resultado melhor na balança comercial de 2014: a melhora do preço do minério de ferro, após uma queda de 40% este ano, e o aumento das vendas externas de carnes suína, bovina e de frango. 

- Mantemos nossa expectativa de resultado positivo neste ano, mas vamos poder saber ao certo se isso acontecerá ao conhecermos os números de novembro - afirmou o secretário. 

Em outubro, os Estados Unidos passaram a ser os principais clientes de produtos brasileiros, seguidos por China, Argentina, Holanda e Alemanha. No acumulado do ano, porém, a China continua a ser o principal parceiro comercial do Brasil, tanto em exportações, como em importações. 

A China permaneceu à frente no ranking de mercados fornecedores, com os americanos em segundo lugar. Os argentinos ficaram em terceiro, os alemães em quarto e os sul-coreanos, em quinto. 

O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, também acredita na melhora do resultado da balança comercial deste ano. Para ele, apesar dos problemas, deve ser registrado um superávit em torno de US$ 1,5 bilhão, ante US$ 2,6 bilhões em 2013. 

- Um dos motivos da queda de exportações é que os principais países que compram produtos brasileiros têm problemas em suas economias: os EUA; a China, que tem uma desaceleração programada; e a Argentina, que sofre sérios problemas econômicos - avaliou Perfeito. 

Em nota, a Rosenberg Associados destacou que, se as importações também não estivessem em queda, o cenário poderia ser ainda mais preocupante. A consultoria espera um déficit de US$ 2 bilhões na balança neste ano e destaca que a safra agrícola de grãos, que sempre foi importante, pode ser afetada pela queda nos preços das commodities, principalmente em 2015. A consultoria projeta um déficit de US$ 3 bilhões no ano que vem. Os economistas destacam que a depreciação do real em relação ao dólar tem um efeito limitado sobre as exportações de manufaturados, enquanto a conta-petróleo continuará atuando negativamente no próximo ano. 

Alvo de uma ação movida pela União Europeia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC), por causa de incentivos fiscais concedidos aos setores automotivo e de tecnologia da informação, o Brasil teria razões para abrir, pelo menos, três processos contra os europeus no mesmo fórum multilateral de solução de controvérsias: as reclamações são de discriminação da carne bovina brasileira nas compras da UE; restrição da importação de determinados tipos de carne de frango do Brasil, procedimento não adotado para os produtores europeus; e exigência de regras de rastreabilidade da origem da madeira brasileira, mais onerosas do que as aplicadas para os produtores locais. 

BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS PREJUDICAM O PAÍS Os exemplos fazem parte de um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aponta motivos para abrir 20 novos contenciosos na OMC contra parceiros internacionais que aplicam barreiras não tarifárias que prejudicam as exportações brasileiras. A China encabeça a lista com seis casos, entre os quais a exigência de certificados desnecessários na importação de couro e suco de laranja, além de subsídios ilegais aos produtores chineses de aço e algodão. 

Em segundo lugar, estão os EUA, com quatro casos que envolvem suco de laranja, etanol, madeira, milho e soja, seguidos pela UE, com três. Também estão na lista dois contra a Indonésia, dois contra a Argentina; um contra o Japão; um contra a Rússia; e um contra a Índia. 

- Hoje, muitas tarifas de importação elevadas podem barrar nossos produtos, mas muito pior é a barreira não tarifária. O Brasil precisa se aproximar de outros países, fazer acordos comerciais e, nessas negociações, eliminar barreiras ao comércio. Caso contrário, o caminho é a OMC - disse Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e responsável pelo levantamento. 

OPINIÃO 

PESOS E MEDIDAS 

EM UM mundo cada vez mais globalizado, qualquer país de algum porte precisa tomar cuidado ao criar políticas que possam interferir nas regras do comércio internacional. 

CUIDADO QUE não teve o Brasil de Lula e Dilma ao erguer barreiras à importação de veículos, como forma de negociar a concessão de incentivos a montadoras que aceitem elevar o índice de nacionalização de modelos que venham a produzir no país. 

ESTA POLÍTICA clássica de reserva de mercado, nos moldes da década de 80, batizada de Inovar-Auto, passou a ser questionada na OMC pela União Europeia, sob a alegação de que contraria regras do comércio. 

COMO O Brasil fez reclamação idêntica na OMC contra os Estados Unidos, pelo fato de os americanos concederem incentivos fiscais a seus produtores de algodão, e ganhou, não são bons os prognósticos para Brasília neste embate jurídico e diplomático.