Com a seca, agropecuária sofre perda de 1,9%. Brasil só não cresceu menos do que Ucrânia, Japão e Itália no 3º trimestre. Resultado ficou abaixo do previsto, e analistas já estimam que país poderá ter expansão zero este ano
Após dois trimestres seguidos de queda, o PIB reagiu e, entre julho e setembro, cresceu 0,1%. A indústria e os investimentos puxaram a recuperação, com alta de 1,7% e 1,3%. A agropecuária, porém, teve perda de 1,9% por causa da seca. E o consumo das famílias caiu 0,3%. Na comparação com 34 países que já divulgaram seus resultados, o Brasil só não cresceu menos do que Ucrânia, Japão e Itália no 3º trimestre. Com a economia fraca, ficará mais difícil o ajuste fiscal prometido pela futura equipe econômica. No acumulado de 12 meses até outubro, o superávit foi só de 0,56% do PIB. -RIO E BRASÍLIA- Depois de um primeiro semestre de recessão técnica - quando houve dois trimestres seguidos de queda, de 0,2% e 0,6%, -, a economia brasileira deu um suspiro no terceiro trimestre e variou 0,1% frente ao trimestre anterior. Longe de ser visto como uma recuperação, o movimento confirmou o baixo crescimento econômico esperado para este ano e deixa dúvidas sobre uma expansão sustentada daqui para a frente.
Três dos últimos cinco trimestres registraram queda no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços produzidos no país) e, nos demais, os avanços foram modestos - de 0,5% no quarto trimestre de 2013 e de 0,1% no dado divulgado ontem. A expectativa de analistas é que o PIB fique perto de zero em 2014 e suba até 1,2% no ano que vem. Significa que o ano que não vai contar com impulso de crescimento, conhecido como herança estatística positiva, e que deverá ficar perto da estabilidade neste ano.
- O PIB teve uma variação positiva de 0,1% em relação ao segundo trimestre e uma variação negativa de 0,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Ambas as taxas são bastante próximas a zero - afirmou a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Em nota, o Ministério da Fazenda avaliou que a alta de 0,1% do PIB no terceiro trimestre "mostra que a economia entrou em processo de retomada do crescimento econômico, embora em ritmo ainda modesto"".
Depois de quatro quedas seguidas, a indústria e os investimentos subiram na comparação com o segundo trimestre. As altas, no entanto, estiveram menos ligadas a uma reação da atividade e mais influenciadas por uma base de comparação baixa no período anterior, em razão da Copa do Mundo. A indústria subiu 1,7%, com impulso da extrativa mineral. O investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), avançou 1,3%, depois de um tombo de 5,2% no trimestre anterior. A taxa de poupança ficou em 14% do PIB no terceiro trimestre, a pior para um terceiro trimestre desde 2000, quando ficou em 14,4%.
A agropecuária caiu 1,9%, em relação ao segundo trimestre, uma queda mais intensa do que se esperava, sob efeito da estiagem sobre as safras da cana de açúcar e café. No setor externo, houve alta de 1% das exportações de bens e serviço, enquanto as importações avançaram 2,4%.
ANALISTAS ESPERAM 2015 IGUAL A 2014
No terceiro trimestre, o consumo das famílias parou de crescer, com leve avanço de 0,1% na comparação com igual período de 2013, refletindo inflação mais alta, expansão menor da massa salarial e freio no crédito.
- Espero um 2015 muito parecido com 2014. A piora agora foi maior no consumo, mesmo sem queda na renda. Há uma preocupação com o futuro e isso faz as famílias pouparem mais - apontou o economista-chefe do Banco Fator José Francisco de Lima Gonçalves.
Já o consumo do governo avançou 1,3%, a maior taxa desde o segundo trimestre de 2012. Os serviços, por sua vez, avançaram 0,5%, puxados por aqueles setores relacionados à indústria, como comércio e transportes.
Os impostos ajudaram a puxar para baixo o PIB, com queda de 1,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Algumas atividades econômicas, como a indústria automotiva, que pagam muito imposto tiveram desempenho ruim.
Daqui para a frente, especialistas estimam que, sobre a atividade econômica, pesarão os efeitos do ajuste fiscal que foi anunciado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a perspectiva de continuidade na alta das taxas de juros para conter a inflação, atualmente acima do teto da meta do governo, de 6,5%. Essa combinação deve dificultar a recuperação da economia em 2015.
- O terceiro trimestre não foi uma reversão, a economia não tem motor para crescer. Há mais efeito de política monetária por vir, as famílias estão endividadas e o dólar mais alto é recessivo a curto prazo - disse a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.
Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, não houve recuperação e o PIB apenas "parou de cair". Ainda assim, ele acredita que a fase mais difícil já passou:
- Cruzamos o Cabo da Boa Esperança, o pior momento ficou no segundo trimestre, e o quarto trimestre será de recuperação modesta e vamos terminar o ano com alta de 0,2%.
SECA FAZ AGROPECUÁRIA SOFRER QUEDA DE 1,9%
O tombo de 1,9% na Agropecuária no terceiro trimestre frente ao anterior surpreendeu analistas e roubou crescimento do PIB. Na conta do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, o PIB teria crescido 0,7%, não fosse o desempenho do setor, que sofreu efeitos da estiagem sobre safras importantes, como cana de açúcar e café. A expectativa da consultoria era de que o setor ficaria estável no período.
O desempenho da agropecuária fez com que a LCA revisasse para baixo o crescimento esperado para o PIB neste ano, de 0,4% para 0,2%, e também o do ano que vem, de 1,1% para 1%.
O resultado na comparação com o segundo trimestre surpreendeu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que previa queda de até 0,6%.
- Pesou a estimativa de queda de produção do café e da cana, que são bastante representativos dentro do escopo da agropecuário - afirma Renato Colchon, economista da CNA.
Colaboraram Cristiane Bonfanti e Rafaela Marinho