Título: Entrevista Pedro Simon
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 20/06/2011, Política, p. 5

Para o senador do PMDB gaúcho, a presidente Dilma tem atuado com mais firmeza neste início de mandato do que seus dois antecessores

Teste da crise está superado

Aos olhos do senador Pedro Simon (PMDB-RS), de 81 anos, a presidente Dilma Rousseff superou seus antecessores no enfrentamento da crise política neste início do governo. Ela agiu com maior firmeza, segundo Simon, do que Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, que também tiveram de lidar com subordinados acusados de irregularidades. Em consequência disso, Simon acredita que permanecerá na base aliada por mais tempo do que nos governos anteriores.

O senador não pretende disputar outro cargo eletivo após 31 de janeiro de 2015, quando encerra seu quarto mandato no Senado, o terceiro consecutivo. Considerado balizador ético na Casa, um dos melhores oradores e um dos mais experientes parlamentares, ele concedeu ao Correio, em seu gabinete, a seguinte entrevista.

Qual a sua avaliação da crise que resultou na saída de Antonio Palocci do governo? A atuação da Dilma na Presidência vem sendo muito positiva. No início do governo de Fernando Henrique eu o apoiei. Depois, eu votei no Lula, e ele até me convidou para participar de seu governo. Mas Fernando Henrique não tomou nenhuma providência sobre a emenda da reeleição, quando compraram os votos. No governo de Lula, o subchefe da Casa Civil apareceu na televisão, centenas e centenas de vezes, recebendo dinheiro, botando no bolso. E Lula não o demitiu. Com a Dilma, não foi o subchefe da Casa Civil, foi o poderoso, o homem forte do governo, que estava ali indicado por Lula, que via o absurdo que ele fez. Disseram que a Dilma demorou, que deveria ser mais enérgica. Como é que ela seria mais enérgica se Lula veio aqui e defendeu Palocci?

A presidente Dilma agiu no tempo certo? Ela agiu na hora exata. Se o Palocci, todo poderoso, com um pedido de Lula para ficar, não ficou, quem é que vai fazer bobagem no governo de Dilma e vai continuar no governo? Eu acho que dos três, Lula, Fernando Henrique e Dilma, foi ela que agiu com mais competência e mais firmeza, ao demitir um superministro, que era praticamente o homem forte do governo.

As chances de apoiar a presidente Dilma até o fim o governo são maiores? Sinceramente, esse começo é animador. Eu gostei da atitude dela em relação a Pedro Abramovay (ex-secretário nacional de Políticas sobre Drogas), que deu uma declaração absurda e foi demitido. Gostei quando ela deu um duro danado no Ministério da Educação. É certo orientar um programa sobre sexualidade, mas não fazer uns filmiezinhos ridículos como aqueles (kit anti-homofobia). Ela deu duro, inclusive sobre os livros de matemática que continham erros.

Qual a sua opinião sobre a nomeação de cargos do governo? Desde os tempos de Fernando Henrique, existe a tese da governabilidade. O governo precisa ter maioria no Congresso. Tanto Fernando Henrique quanto Lula negociaram isso. Uma coisa que acho fundamental, e Dilma tem dito isso, é saber a biografia do indicado, o passado, a história. Pode até ser uma indicação política, a presidente aceita, mas sob duas condições: a capacidade técnica e a dignidade de conduta. Se ela conseguir isso, será um grande avanço. Não é fácil. Isso não deveria nem caber a ela, deveria caber aos partidos.

O senhor se sente representado no governo com o vice-presidente Michel Temer, do PMDB? Eu pertenço a um grupo que comandou o MDB: Ulisses (Guimarães), Tancredo (Neves), Teotônio (Vilela), naquela época estavam conosco (Franco) Montoro, (Mário) Covas. Eu era daquele grupo, que caiu fora. Eu não tenho identidade com esse grupo que está aí. Mas hoje a gente vive um bom momento. Criamos um grupo de senadores: Luiz Henrique (SC), Casildo Maldaner (SC), Eduardo Braga (AM), Ricardo Ferraço (ES), Waldemir Moka (MS), Roberto Requião (PR). Não estamos falando em cargos. A gente fala da importância de as decisões serem tomadas em conjunto.

E o que esse grupo quer? Quer a união do PMDB e participação coletiva. Ao contrário de outras épocas, hoje a crise partidária é unânime. O PT, no governo, está igual ao PSDB. É o que Lula concretou. Neste momento, portanto, é importante ter posições claras.

O senhor muitas vezes demonstrou pessimismo com a política. Qual a sua impressão hoje? Não tenho uma vida partidária atuante, nem tenho perspectivas. Com 81 anos, já fiz o que deveria ter feito. Mas reconheço que, com este início de governo, estou otimista, torcendo para que dê certo. O Lula foi um com Zé Dirceu na chefia da Casa Civil e outro com Dilma. Com Zé Dirceu, Lula esteve às vésperas de um impeachment. Eu disse ao PFL (hoje DEM), que me procurou para a gente instalar uma CPI, que o Lula estava numa situação tão desgastante que seria transformado em herói. A Dilma entrou na Casa Civil e Lula se transformou num estadista do mundo inteiro.

Qual a sua opinião sobre o recuo da presidente quanto à abertura de documentos sigilosos, algo que o senhor já criticou no passado? Isso ainda não está acabado. Ela apenas recuou da urgência. O presidente do Senado (José Sarney) e o ex-presidente da República (Fernando Collor) têm força aqui.

O senhor conviveu com a senadora Gleisi Hoffmann e com a ex-senadora Ideli Salvatti. Como avalia a indicação das duas para o núcleo duro do governo? Achei sensacional. A oposição costuma bater, e ninguém dá bola. A Gleisi, nos cinco meses em que atuou, rebatia. A Ideli também é competente, mas foi dura muitas vezes, pois era líder do governo e tinha maioria. Não há problema em fazer uma defesa intransigente do governo, mas ela era dura ao fazer isso. Eu tenho medo desse impulso. Não vai ser fácil, pois não adianta nem ser dura nem ser meiga na hora de distribuir as emendas parlamentares e de definir os cargos de segundo escalão. É pouca emenda e pouco cargo para muito pedido.

O senhor abriu mão da aposentadoria referente ao período em que foi governador do Rio Grande do Sul? Eu nunca recebi essa aposentadoria. Tenho direito a receber, mas nunca recebi. Nunca recebi também a aposentadoria a que tenho direito por ter sido deputado. Eu recebi a verba de governador durante dois meses. Foi manchete em tudo quanto é jornal. A reação foi tão ruim que eu retirei, abri mão e não recebo. Estou há 32 anos no Senado e moro no mesmo apartamento. Eu não tenho casa própria para morar.