O juiz federal Sérgio Moro, à frente dos processos referentes à Operação Lava-Jato, determinou o bloqueio de contas de investigados na sétima fase da operação. No total, o valor chega a R$ 47,8 milhões. O Banco Central informou ontem que cumpriu a decisão do magistrado que afeta 16 pessoas e três empresas por envolvimento no escândalo da Petrobras. O bloqueio não significa, automaticamente, culpa dos envolvidos, mas uma medida de precaução para eventuais ressarcimentos de prejuízos causados. Em outro documento, o juiz proibiu que 11 dos investigados viajem ao exterior. 

O maior valor bloqueado se refere ao saldo de Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix: R$ 22,6 milhões. Ele está em prisão preventiva por 30 dias, renováveis pelo mesmo período. Ricardo Ribeiro Pessoa, presidente da UTC, também teve uma quantia milionária bloqueada. Foram mais de R$ 10 milhões no Citibank e R$ 83 mil no Bradesco. Ele foi solto na última terça-feira. O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado por delatores como um dos operadores do esquema, teve R$ 3,2 milhões retidos pelo o BC. A D3TM Consultoria, empresa de Duque, tinha na conta o valor de R$ 140 mil.

Uma das empresas do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, a Hawk Eyes Administração de Bens, tinha saldo de R$ 6,5 milhões. Já a Technis teve R$ 2 milhões congelados. O lobista apontado como operador da cota do PMDB no esquema de corrupção, por sua vez, tinha R$ 8.873,79 nas contas pessoais. Nas contas bancárias de Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia, e Valdir Lima Carreiro, presidente da Iesa, o Banco Central não localizou qualquer valor. O diretor-financeiro da UTC, Walmir Pinheiro Santana, e o diretor-presidente da Construtora Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho, tiveram os menores montantes bloqueados: R$ 10 mil e R$ 7.511, respectivamente. 

Da OAS, entraram na lista o presidente, José Aldemário Pinheiro Filho; o diretor-presidente da Área Internacional de Petróleo e Gás, Agenor Franklin Magalhaes Medeiros; e o funcionário José Ricardo Nogueira Breghirolli. Da Camargo Correa, tiveram saldos embargados o presidente, Dalton dos Santos Avancini, o vice-presidente, José Hermelino Leite, e o presidente do Conselho de Administração, João Ricardo Auler. O vice-presidente executivo da Mendes Junior, Sérgio Cunha Mendes, também teve valores retidos. 

Passaportes
O juiz Sérgio Moro também pediu à Polícia Federal que inclua no seu sistema de passaportes e de fronteiras os alertas necessários para impedir uma possível tentativa de fuga dos 11 investigados. Todos os nomes incluídos na lista são de pessoas presas na semana passada e soltas pelo magistrado depois de prestarem depoimento aos delegados da Polícia Federal que conduzem a investigação. Outros 12 investigados continuam presos.

A decisão citou o diretor presidente da Iesa Valdir Lima Carreiro; diretor-executivo da Queiroz Galvão, Othon Zanoide de Moraes Filho; o policial Jayme Alves de Oliveira Filho; o advogado da OAS Alexandre Portela Barbosa; o administrador da UTC Walmir Pinheiro Santana; o diretor-presidente da Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho; o advogado Carlos Alberto da Costa Silva; o diretor da Iesa Otto Garrido Sparenberg; os diretores técnicos da Engeviz Newton Prado Junior e Carlos Eduardo Strauch Albero; e Ednaldo Alves da Silva, da UTC.

Memória
Experiência do mensalão
O bloqueio de bens é a mesma medida utilizada em outros escândalos de corrupção para garantir o ressarcimento de prejuízos causados aos cofres públicos. No caso do mensalão, os bens de Marcos Valério estão bloqueados desde 2005, quando o caso veio à tona. No primeiro semestre deste ano, o publicitário entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para usar o dinheiro dessas contas para pagar a multa à qual foi condenado, no valor de R$ 4,4 milhões. Entre os bens bloqueados, há mais de R$ 10 milhões em contas bancárias. Há também dezenas de imóveis — entre eles, fazendas, apartamentos e lojas. Entre os bens exclusivos de Valério, constam seis carros de luxo e 13 cavalos. Em novembro do ano passado, a Justiça Federal de São Paulo determinou o bloqueio de bens de cinco pessoas e três empresas investigadas em inquéritos que apuram pagamentos de propina durante licitações do Metrô de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Foram bloqueados cerca de R$ 60 milhões disponíveis em contas bancárias, títulos de investimento e ações.

16
Quantidade de suspeitos de corrupção que tiveram os saldos bancários bloqueados

 

 

Silêncio rompido

 

Sem citar nominalmente a Operação Lava-Jato, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que não há qualquer tipo de pressão do governo para inibir as investigações sobre o escândalo. Na primeira fala sobre o assunto depois da prisão de diretores e executivos de 11 empreiteiras, a presidente repetiu o discurso de campanha ao defender que o combate à corrupção nunca foi tão forte no país. “Não foi tão firme e severo quanto neste momento por duas características que tornam esse momento inédito: a Polícia Federal e o Ministério Público, instituições do Estado brasileiro, estão investigando corruptos e corruptores e não há qualquer tipo de pressão do governo para inibir as investigações”, disse.

No discurso para pais, alunos e professores que participavam do segundo dia da Conferência Nacional de Educação (Conae), a presidente defendeu ainda a investigação plena, com a garantia do amplo direito de defesa. “O Brasil sairá muito mais forte desse processo. Mais forte ainda por respeitar as regras do Estado de Direito em que vivemos”, justificou. Na fala, a presidente também repetiu o lema usado diversas vezes na campanha presidencial de que não tem e nunca teve tolerância com corruptores.

A presidente ainda tentou amenizar a crise política que assola o país e tentou desenhar um quadro positivo para o futuro. “Com o fim da campanha eleitoral, a verdade começa a aparecer com mais clareza. A inflação está sob controle, há sinais de recuperação do crescimento e a renda do trabalho continua subindo”, defendeu Dilma. 

"Instituições do Estado brasileiro, estão investigando corruptos e corruptores e não há qualquer tipo de pressão do governo para inibir as investigações” 
Dilma Rousseff, presidente da República