Duas das principais lideranças do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), afinaram o discurso contra a corrupção revelada na sétima fase da Operação Lava-Jato, deflagrada ontem. FHC se disse envergonhado com o escândalo. "Não vou falar deles. Como brasileiro, eu tenho vergonha. Tenho vergonha de falar sobre o que está acontecendo no Brasil", afirmou. Aécio acrescentou que a estatal traz "uma marca perversa da corrupção".

Em entrevista coletiva, Aécio anunciou que orientou a bancada tucana a iniciar a coleta de assinaturas para a criação de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com intuito de investigar a estatal na próxima legislatura. "O que percebo é que as coisas estão chegando muito próximo dos mais altos dirigentes deste governo e é preciso que essas investigações ocorram. O que posso assegurar é que tem muita gente em Brasília sem dormir nesses últimos dias, e continuarão sem dormir", afirmou.

De acordo com o senador, todas as informações surgidas nos últimos dias serão usadas pela nova CPI. "Vamos impedir que qualquer manobra no Congresso no sentido de impedir que as investigações, também no Congresso, avancem", declarou. Segundo ele, não há uma vontade clara, "ao contrário do que diz a presidente da República, da sua base em avançar nessas investigações ainda este ano".

O senador reiterou o discurso contra a presidente Dilma Rousseff na campanha presidencial. "O que estamos assistindo hoje é aquilo que denunciávamos ao longo da campanha se transformando em uma realidade cada vez mais visível e mais palpável. Infelizmente, a nossa maior empresa, a Petrobras, que adia a publicação do seu balanço em razão das gravíssimas denúncias de corrupção, vai trazendo para si uma marca perversa em razão das ações deste governo", criticou.

Desvio organizado

Segundo ele, há uma percepção clara de que a corrupção na Petrobras não era um ato isolado de um ou outro servidor. "Mas uma organização estruturada, quase que institucionalizada dentro da Petrobras, causando prejuízos enormes ao Brasil, essa é uma constatação. E acho que vamos ter novas informações e ainda, infelizmente para muitos, surpresas pela frente", argumentou. O senador também ressaltou que a estatal é investigada fora do Brasil.

O posicionamento de Aécio e FHC reflete o discurso de uma oposição forte, que não vai se calar, adotada por líderes do partido após o encontro. O ex-presidente destacou que o dever da oposição é preservar a democracia e a liberdade. "Não vamos jogar contra o Brasil, mas vamos evitar que eles façam gol conta", pontuou FHC.

Derrotado na disputa presidencial, Aécio garantiu que o PT verá uma "oposição vigorosa e corajosa para denunciar as irregularidades, mas também patriótica". Ele negou que a derrota tenha abatido seu ânimo e disse se sentir mais determinado, "com maior disposição, para exercer o papel que nos foi delegada pela sociedade brasileira".