Depois de os principais líderes ocidentais pressionarem a Rússia por seu envolvimento na crise ucraniana, durante da cúpula do G20, em Brisbane (Austrália), a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil não tomará partido sobre o tema. No encerramento do encontro, marcado pelas críticas contra a interferência russa no conflito separatista no leste da Ucrânia, Dilma disse a jornalistas que Brasília evita “sistematicamente se envolver em assuntos internos” da ex-república soviética.

Parceiro do Kremlin no âmbito dos Brics — grupo formado por Brasil, Rússica, Índia, China e África do Sul —, o governo brasileiro preferiu ficar de fora do impasse entre Kiev e Moscou. Questionada sobre pedidos do chanceler ucraniano, Pavel Klimkin, por uma posição mais clara do Brasil sobre a crise, Dilma reiterou a opção de permanecer à margem do impasse. “Lamento que ele tenha pedido isso. Mas não é do interesse do governo brasileiro se manifestar a respeito de qualquer problema dentro da Ucrânia, nem de um lado, nem de outro”, esclareceu. 

O pronunciamento de Dilma ocorreu um dia depois de importantes líderes ocidentais intensificarem as críticas contra Moscou. O presidente norte-americano, Barack Obama, relacionou a queda da aeronave da Malasya Airlines, possivelmente atingida por um míssil rebelde, à “ameaça” representada pelos russos. Para Dilma, o incidente com o voo MH17 ainda não foi esclarecido. “Ninguém sabe direito o que aconteceu com aquele avião, ninguém sabe.” 

Obama reiterou, ontem, que a Rússia deve permanecer isolada da comunidade internacional, caso o presidente Vladimir Putin “continue a violar a lei internacional” na Ucrânia. “Estamos muito firmes sobre a necessidade de respeitar os princípios internacionais fundamentais. Um desses princípios é que você não invada outros países ou financie indivíduos para quebrar uma nação que adota mecanismos para eleições democráticas”, ponderou. 

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, considerou que a mensagem enviada à Rússia durante o G20 foi “clara”. França e Alemanha anunciaram um tom mais brando em relação ao tema. “A França adota uma dupla posição, de firmeza, quanto às violações ao direito internacional, e de diálogo”, sinalizou o presidente François Hollande. 

Antes de deixar a Austrália, Putin afirmou que a situação na Ucrânia tinha “boas chances de se resolver”. O chefe de Estado se retirou da cúpula antes do encerramento, alegando que precisava dormir. No dia anterior, porém, rumores afirmavam que o presidente planejava antecipar sua partida diante das pressões ocidentais, e o Kremlin chegou a negá-los. 

Clima
Ao fim do encontro, os líderes das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia firmaram um compromisso por uma “ação forte e eficaz” em favor do clima. Os participantes reafirmaram o “apoio à mobilização de recursos financeiros para a adaptação” dos países mais afetados pelas mudanças climáticas, como o Fundo Verde da ONU, para ajudar os países pobres mais vulneráveis. O comunicado conjunto sobre o tema, porém, não especifica valores. Um diplomata europeu relatou à agência France-Presse que a redação do documento ocorreu depois de uma “guerra de trincheiras” entre as delegações.

Hollande alertou que a falha em responder ao aquecimento global pode levar a guerras e convidou os países do G20 a agirem antes da Conferência do Clima, que vai ocorrer na capital francesa, em 2015. “Nos encontraremos novamente em Paris para assinar um acordo global que previna o planeta de experimentar a elevação de três ou quatro graus nas temperaturas, o que poderia levar a catástrofes, se não à guerra”, afirmou o presidente.