O último foragido da Operação Lava-Jato, Adarico Negromonte, se entregou na manhã de ontem à Polícia Federal, em Curitiba. Ele chegou à Superintendência da PF acompanhado da advogada que o representa, Joyce Roysen. Adarico é irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, ex-líder do PP na Câmara e hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia.

Adarico é suspeito de ser o elo entre o doleiro Alberto Youssef e partidos políticos. Para a força-tarefa de investigadores, ele fazia o papel de “mula”, ao transportar dinheiro para o doleiro, ligado ao PP. A defesa dele nega e já pediu a revogação da prisão temporária. O Ministério Público Federal (MPF) informou que há provas suficientes para pedir a condenação de 15 advogados.

De acordo com a PF, Adarico, o policial Jaime “Careca” e Rafael Ângulo Lopes transportavam dinheiro em espécie para o doleiro no Brasil e no exterior. Depoimento prestado em 12 de setembro à Polícia Federal pelo advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, funcionário de Youssef, comprometeu a dupla. “Com relação ao transporte de dinheiro em espécie afirma que desde aproximadamente 2009/2010 observou a movimentação de pessoas no escritório de Alberto Youssef, na Avenida São Gabriel, em São Paulo, carregando malas e sacolas, entre elas Adarico Negromonte, Rafael Angulo Lopes e um policial de nome Jaime transportando valores em espécie”, disse ele. Em algumas vezes, Carlos Alberto auxiliou a contagem dos valores e disse que as sacolas mostravam valores entre R$ 500 mil e R$ 700 mil. Em depoimento ontem, Adarico negou a acusação de que transportava dinheiro da quadrilha.

Chamada de Juízo Final, a sétima fase da Lava-Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, foi deflagrada no dia 14. Desde então, 24 pessoas, incluindo donos de grandes empreiteiras, chegaram a ser presas, mas 11 já estão soltas. As empreiteiras mantêm contratos com a petrolífera que somam R$ 59 bilhões.

O esquema de lavagem de dinheiro investigado em toda a operação — por quatro doleiros diferentes, alguns sem conexão com desvios na Petrobras — movimentou cerca de R$ 10 bilhões de acordo com a PF.

Doações a candidatos
No acordo de delação premiada, o executivo da Toyo Setal Julio Camargo informou à Justiça que usou três empresas dele para fazer doações de campanha à candidatos. Entre 2006 e 2014, ele destinou R$ 6,7 milhões a 13 partidos, conforme consta da prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Camargo usou as empresas Treviso, Auguri e Piemonte para efetivar as doações. Ele também mandou R$ 1,1 milhão da conta de pessoa física para as campanhas de diversos políticos. O PT e o PR foram as legendas que mais receberam recursos do executivo.

O PT ficou com R$ 2,56 milhões. Já o PR levou R$ 2,49 milhões. PV, PPS e PSDB também receberam doações de empresas do empresário, só que em quantias menores.

 

 

Força-tarefa do MP na Suíça

Atrás de tentar trazer de volta ao Brasil, pelo menos, US$ 23 milhões desviados da Petrobras, procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Lato desembarcam hoje na Suíça. Lá, eles vão se encontrar com autoridades do Ministério Público local. Será uma “diligência geral” nas palavras do procurador da República Deltan Dallagnol, que, ao lado do colega Orlando Martello, vai buscar documentos e checar a existência de contas bancárias do ex-diretor de Serviços e Engenharia Renato Duque e do lobista Fernando Baiano, que atua para o PMDB de acordo com o ex-diretor de Abastecimento e Refino Paulo Roberto Costa.

Como mostrou o Correio na sexta-feira, delatores indicaram a existência de pelo menos US$ 189 milhões (R$ 482 milhões na cotação de ontem) no exterior em contas de Paulo Roberto, Duque, Baiano e do ex-gerente de Serviços Pedro Barusco.

Entretanto, isso não quer dizer que todo o valor será obtido logo. A maior esperança da força-tarefa é obter os US$ 23 milhões que Paulo Roberto diz ter recebido da construtora Odebrecht como propina — a empreiteira nega os pagamentos. Isso porque ele fez acordo de delação premiada já homologado pelo Supremo Tribunal Federal em que autoriza a transferência desse dinheiro de volta para o Brasil. A conta bancária específica para esse objetivo já foi criada. “A gente vai trazer já. Se tudo der certo, daqui a uma semana a gente tem novidade”, disse Deltan ao explicar a viagem.

Quanto aos demais personagens, o processo é mais longo. O objetivo é ao menos identificar as contas e obter documentos sobre elas. Uma das contas que será procurada é a do executivo da Toyo Setal Júlio Gerin Camargo. Ele também fez acordo de delação premiada e passou a denunciar outros participantes do cartel da Petrobras e funcionários e operadores que, segundo o executivo, receberam propinas. 

Parte dos documentos não poderá ser trazida ao Brasil e usada como prova na Operação Lava-Jato. Os procuradores do Ministério Público na Suíça não aceitam compartilhar provas com rapidez. É preciso fazer um processo mais lento e burocrático. Mas Deltan explicou que a viagem não será perdida. Mesmo sem cópias anexadas ao processo criminal, a informação terá utilidade para a Polícia Federal e a procuradoria. “Se a pessoa não falar que tem conta lá, eu vou saber que ela está mentindo.”

 

Doleiro depõe hoje

 

Um dia antes de o doleiro Alberto Youssef prestar novamente depoimento à Polícia Federal, a defesa dele tentou suspender uma das ações penais a que ele responde na Justiça Federal, até que o acordo de delação premiada seja homologado. No acordo de colaboração, o doleiro cita nomes de pessoas que receberam propina do esquema de corrupção da Petrobras. Ontem, Youssef prestou informações que podem ajudar a elucidar a nova fase de investigações da PF: a Juízo Final, da Operação Lava-Jato, que focou em executivo e em empreiteiras. Hoje, ele retoma os depoimentos para novos esclarecimentos. 

Desde março, Alberto Youssef está detido na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. As informações reveladas ontem pelo doleiro não foram divulgadas. As investigações da PF consideram Youssef como o maior operador financeiro do país. A estimativa da PF é que o esquema liderado pelo doleiro tenha movimentado cerca de R$ 10 bilhões no câmbio negro, além de comandar os esquemas de propina dentro da Petrobras com a ajuda de ex-diretores, como Paulo Roberto Costa. 

No pedido ingressado ontem pelos advogados de Youssef, a defesa alegou que “a colaboração de Alberto Youssef vem sendo decisiva para os desdobramentos da Operação Lava-Jato, inclusive para o bloqueio de valores e a recuperação de ativos aos cofres públicos”. Youssef e outros seis investigados são acusados de evasão de divisas no valor de US$ 444,9 milhões em contratos fraudulentos de importações ilegais.