Embora tenha adiado o início da reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff convidou ontem dois nomes políticos de peso para compor a sua futura equipe de trabalho: o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE) para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. Com isso, a presidente tenta passar o recado de que as pastas políticas não ficarão refém da Operação Lava-Jato e da lista de parlamentares envolvidos nas denúncias de corrupção na Petrobras, o que poderia adiar a formação do novo governo para depois de janeiro. Pelo movimento da petista, isso não deve ocorrer.
Monteiro e Kátia, embora não sejam unanimidades nas legendas às quais são filiados nem nos setores que, em tese, representam, são considerados pelo Planalto nomes representativos para estabelecer um diálogo com empresários e ruralistas. Além disso, tiveram papel preponderante durante a corrida eleitoral: o petebista concorreu ao governo de Pernambuco, ao lado do PT; e a peemedebista comprou a briga por Dilma Rousseff junto de representantes do agronegócio, avessos à presidente e declaradamente simpatizantes à candidatura do tucano Aécio Neves (PSDB-MG).
No caso de Armando Monteiro, há ainda uma outra questão: Dilma sinaliza com gratidão a Pernambuco, estado que lhe deu quase 2 milhões de votos de vantagem sobre Aécio no segundo turno das eleições, apesar da família do ex-governador Eduardo Campos ter declarado apoio ao presidenciável tucano.
Interlocutores pernambucanos, contudo, pontuam que Monteiro, apesar de hábil, tem pouco trânsito com os empresários que comandam o PIB nacional. Os representantes da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) são rompidos com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que foi presidida por Monteiro por oito anos durante o governo Lula.
Já a senadora Kátia Abreu, que foi presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), é amiga pessoal da presidente da República e sempre teve seu nome especulado para assumir o Ministério da Agricultura. A proximidade entre ambas foi intensificada após a senadora deixar o DEM e filiar-se ao PSD, a convite do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab — que também é apontado como ministeriável. Em 15 de dezembro, ela toma posse em seu segundo mandato como presidente da CNA, mas se licencia em seguida para assumir o ministério em janeiro.
A ida de Kátia para o PMDB foi a convite do atual vice-presidente Michel Temer, o que gera ciúmes na legenda. Por ser neopeemedebista e amiga pessoal da presidente, ela é vista como uma estranha no PMDB, que tende a não se considerar contemplado na reforma com a indicação da senadora por Tocantins. Além disso, o Ministério da Agricultura pertencia à Câmara no primeiro mandato. Por fim, alguns ruralistas acham que Kátia esgarçou demais as relações defendendo a presidente durante a campanha, o que pode dificultar uma retomada de diálogo com os representantes do setor.
Jaques Wagner
Armando foi convidado oficialmente ontem, durante encontro no Palácio da Alvorada com a presença do atual ministro da pasta, Mauro Borges, que deixará o governo para assumir um cargo no governo de Fernando Pimentel, em Minas Gerais. A presidente já havia conversado com ele por telefone dias atrás, tão logo retornou da reunião do G20, em Brisbane, na Austrália.
Com a escolha de Armando Monteiro para o Mdic, a presidente Dilma Rousseff precisa pensar em outras alternativas para encaixar o governador da Bahia, Jaques Wagner. Em um encontro informal no Palácio da Alvorada no dia seguinte à vitória eleitoral, Dilma confessou ao petista que “quero você mais pertinho de mim”. A frase foi interpretada como uma sondagem para um ministério no núcleo palaciano.
Mas Dilma não pretende tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil. Para substituir Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência, o nome praticamente certo é de Miguel Rossetto, que coordenou a campanha presidencial da petista. Sobraria a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), mas o atual titular, Ricardo Berzoini, deve permanecer por ter experiência em lidar com o PMDB da Câmara, liderado por Eduardo Cunha (RJ).
Mesmo assim, ninguém consegue imaginar um desenho na Esplanada sem a presença de Jaques Wagner. E em uma pasta importante. Ontem, o governador reuniu-se em Salvador com o secretário de Portos, César Borges, e o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para discutir investimentos no Porto Sul, em Ilhéus. O encontro despertou o receio do PR, que se esforça para não perder o direito de indicar o sucessor de Paulo Sérgio Passos no principal ministério ligado às obras de infraestrutura.