BRASÍLIA - Em um dia de derrotas para o governo, a CPI mista da Petrobras aprovou ontem requerimentos de convocação e acareação de ex-diretores da estatal e também a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Integrantes de partidos da base aliada, inclusive do PMDB, ajudaram a aprovar os pedidos, em uma demonstração de que a relação com o governo está cada vez mais tensionada.

Terão de comparecer à CPI o presidente licenciado da Transpetro, Sergio Machado; o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque; o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras Ildo Sauer; e o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que será submetido a uma acareação com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ainda não há data prevista para os depoimentos. A oposição tenta prorrogar a CPI por mais um mês, até 22 de dezembro, mas até agora não conseguiu as 171 assinaturas de deputados necessárias. O prazo final para requerer a prorrogação se esgota nesta sexta-feira.

Parlamentares do PMDB se irritaram com a aprovação da convocação de Sergio Machado, apontado como indicação política do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em contrapartida, permitiram a quebra do sigilo de Vaccari, que se deu por 12 votos a 11, com os votos favoráveis de parlamentares da base aliada como Gim Argello (PTB-DF), Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Ataídes Oliveira (PROS). Em um dos momentos de tensão na CPI, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) rebateu o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI) - que, para impedir a quebra do sigilo de Vaccari, defendeu que a medida deveria ser estendida a todos os tesoureiros dos demais partidos.

- A política já está criminalizada, se formos convocar os tesoureiros dos partidos para virem depor numa CPI, a situação vai ficar pior ainda. O PMDB nunca teve operador e nem precisaria disso, porque, quando se vai pedir recurso para campanha, ou é o presidente ou o tesoureiro ou é o secretário, qualquer membro do partido, desde que seja uma doação legal. Está ficando muito perigosa essa questão de convocar tesoureiro e criminalizar partido. Isso está ficando muito ruim - disse Raupp.

apostas da oposição

Depois de ser enquadrado pelo peemedebista, Wellington Dias recuou e disse que o PT tentará apenas pedir a revisão do requerimento já aprovado, em vez de incluir os demais tesoureiros de partidos em requerimento para que tenham seus sigilos quebrados.

O tesoureiro do PT foi citado na delação premiada de Paulo Roberto Costa como um dos operadores do esquema de distribuição de propinas na estatal. Vaccari também responde, desde 2010, a denúncia do Ministério Público por suposto desvio de recursos da Bancoop, uma cooperativa habitacional.

A estratégia da oposição com a nova ida ao Congresso de Cerveró e Costa é reconstruir a narrativa de que a presidente Dilma Rousseff é a responsável, em última instância, pelas irregularidades na Petrobras. Ambos já estiveram no Congresso para prestar depoimento, mas Costa decidiu não falar nada, e Cerveró tentou preservar Dilma de qualquer responsabilidade sobre problemas na Petrobras.

- A defesa de Cerveró já falou publicamente que a aquisição da Refinaria de Pasadena é responsabilidade do Conselho de Administração da Petrobras, que era presidido por Dilma naquela época. Isso mostra que ele mudou de estratégia. Em vez de pagar o pato sozinho, vai dividir a culpa com outros responsáveis. Se ele vier à CPI, vai mudar a posição dele - apostou o líder do DEM na Câmara, Mendonça FIlho.

O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), discursou contra o requerimento para a acareação entre Paulo Roberto Costa e Cerveró, alegando que a ida dos ex-diretores ao Congresso seria apenas um gasto de dinheiro público, já que eles provavelmente usariam o direito de permanecerem calados.

- Já fizemos audiência pública com Paulo Roberto, e ele avocou o princípio de que pode constitucionalmente ficar calado. Para fazer matéria para imprensa não precisamos gastar dinheiro público transportando pessoas presas - disse Pimentel.

O requerimento foi apresentado pelo deputado Enio Bacci (PDT-RS), sob o argumento de que Paulo Roberto Costa contradisse Cerveró ao confirmar, na delação premiada, que ele teria recebido propina do esquema. Bacci contestou o suposto desperdício de dinheiro público para o transporte dos investigados até o Congresso.

- Paulo Roberto afirmou que Cerveró recebeu propina, sim, e Cerveró negou no dia 18 de setembro. Não temos que economizar uma passagem de avião, mas, sim, os bilhões que tiraram dos cofres públicos. Ele não quis falar porque a delação premiada não tinha sido aprovada quando ele veio. Hoje, ele pode falar, sim - defendeu Bacci.

Renato Duque é tido como uma indicação do ex-ministro José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, e está preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Ildo Sauer é apontado pelo Tribunal de Contas da União como um dos culpados pelos prejuízos que a Petrobras teve na aquisição de Pasadena. A oposição defende sua ida à CPI porque ele saiu "atirando" contra o governo.