Como se não bastassem a previsão de arrocho fiscal e as dificuldades financeiras anunciadas para 2015, como a possibilidade de cortes concretos na execução orçamentária, o Planalto e os partidos aliados têm mais uma equação explosiva para analisar na hora de definir a nova equipe ministerial: os desdobramentos da Operação Lava-Jato. Apesar da insistência da presidência Dilma Rousseff, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou a divulgação dos nomes dos envolvidos com foro privilegiado citados nas delações premiadas feitas até o momento. Com isso, Dilma correria o risco de indicar um nome - ou um afilhado político - de alguém que, posteriormente, pode tornar-se réu nas denúncias de corrupção na Petrobras. 

Os políticos citados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef são mantidos sob sigilo pelo relator do processo no STF, Teori Zavascki. Especula-se que sejam pelo menos 70, entre deputados, senadores, governadores, ex-deputados, ex-senadores e ex-governadores. De tudo o que os dois réus da Lava-Jato afirmaram até o momento, contudo, o que se sabe é que o esquema envolvia o superfaturamento de obras e o pagamento de propinas para alimentar o caixa do PT, PMDB e PP. 

Dilma acabou tornando-se refém do próprio discurso de que o governo vai apurar as denúncias a fundo e punir todos os corruptos, independentemente da cor partidária. "Não conseguimos avaliar ainda se a reforma chegará a travar após essas novas prisões. Mas é claro que se redobrou a preocupação e o cuidado para evitar que Dilma nomeie alguém que esteja no centro dessa crise", admitiu um aliado da presidente. 

O PP, por exemplo, uma das legendas citadas na Lava-Jato, comanda o Ministério das Cidades, que tem um orçamento total de R$ 27,8 bilhões, dos quais R$ 7 bilhões destinados exclusivamente a investimentos. A presidente Dilma ainda não chamou a legenda para conversar - especula-se, inclusive, que a pasta possa ser transferida para o PSD de Gilberto Kassab, deixando aos pepistas uma compensação em outro ministério. 

Já o PMDB comanda pastas importantes, como o Ministério de Minas e Energia, da qual Edison Lobão - citado pelos delatores da Operação Lava-Jato como um dos possíveis beneficiados - já anunciou o desejo de deixar o cargo e retornar ao mandato no Senado. O partido ainda comanda a Secretaria de Aviação Civil, a Previdência Social, a Agricultura e o Turismo. 

Além da questão política, os futuros titulares terão problemas com a questão orçamentária. Nem sempre quem tem o maior orçamento tem o maior montante livre. De acordo com o Projeto de Lei Orçamentária para o próximo ano - que ainda pode sofrer alterações -, a Esplanada terá um orçamento de R$ 1 trilhão, mas com apenas R$ 58 bilhões para investimentos. O Ministério dos Transportes seguirá a tradição de ser a pasta com mais verba livre, dos R$ 19 bilhões reservados, R$ 13,5 bilhões são para obras, como construções de rodovias e ferrovias. 

O ministério deve continuar sob o comando do PR, mas o nome também não está definido. Na conversa com Dilma, o partido sugeriu a indicação do ex-senador e agora vereador Antonio Carlos Rodrigues. Haveria ainda a opção do retorno de César Borges, que ocupou o cargo até o início deste ano, mas, por conveniência partidária e eleitoral, foi deslocado para a Secretaria de Portos. 
Na vice-liderança entre os que terão mais verba livre, o Ministério da Educação é um dos presentes na lista dos que devem mudar de comando. Com R$ 12,5 bilhões, a pasta, que tradicionalmente fica sob o guarda-chuvas do PT, deve passar para o comando do Pros. O mais cotado é o governador do Ceará, Cid Gomes. Os ministérios da Defesa e das Cidades são os outros dois com maior montante reservado para investimentos. Ambos estão na lista de alterações do primeiro escalão, assim como o Ministério da Integração. Com 70% do orçamento direcionado para obras novas, a pasta, que tem a responsabilidade de tocar a transposição do Rio São Francisco, conta ainda com diversos apêndices, como superintendências, com projetos regionais. Para assumir o bastão, a presidente procura um nome forte no Nordeste. 

Visibilidade 
Embora ministérios, como da Defesa e o da Educação, tenham orçamento atrativo, alguns programas já estão na conta desses recursos. No caso da Defesa, entram a compra de aviões e submarinos. Na Educação, estão as creches. Essas despesas fazem com que pastas como Transportes e Cidades se destaquem. Além de não contarem com uma planilha financeira tão engessada, elas estão no bojo de programas de peso do governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida. Os dois são vitrines eleitorais, e o PAC, por exemplo, conta com a vantagem de ser poupado na hora do anúncio de cortes. 

O analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz explica que os ministérios com orçamentos robustos concedem credenciais de prestígio. "A briga dos partidos para assumir um ministério específico se dá pela vantagem de poder alocar recursos que tragam benefícios para a população e mostrar o resultado concreto, sem precisar depender do Ministério do Planejamento ou da Fazenda para liberar a verba. É uma demonstração de valorização do político", diz. 

Verba livre 
As previsões do governo para o próximo ano são de ajustes fiscais, mas também asseguram a manutenção dos investimentos. Veja quais pastas terão mais recursos para investir (em bilhões de reais): 

Ministérios Orçamento total Investimento total 
Transportes 19,2 13,5 
Educação 101,3 12,5 
Defesa 78,8 8,4 
Cidades 27,8 7 
Integração 5,9 4,1 
Saúde 109,2 3,8 
Esporte 2,5 1.6 
Justiça 12,3 1,3