Ações da estatal, que vive a maior crise da sua história, despencaram 50% em apenas dois meses. Parte dos analistas e até quem aplicou poucos recursos na empresa acredita na recuperação a longo prazo. Queda no valor dos papéis é de quase 65% nos últimos cinco anos
Queridinha do mercado de ações há seis anos, quando seus papéis bateram a casa dos R$ 51, a Petrobras hoje é sinônimo de dor de cabeça para pequenos investidores que precisam lançar mão dos recursos neste momento. A estatal - que vive a maior crise de sua história com as investigações sobre contratos superfaturados e pagamento de propina - viu suas ações desvalorizarem 50%, em apenas dois meses e, hoje, o valor é de pouco mais de R$ 14. Na sexta-feira, fechou a R$ 14,30. Nos últimos cinco anos, o preço médio dos papéis caiu 64,37%.

O empregado do setor privado R. N., de 50 anos, conta que apostou na lucratividade do petróleo e, em 2009, quando foi autorizado a aplicar parte de seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ação da Petrobras, não perdeu tempo. Fez dois investimentos, um de R$ 7 mil e, depois, mais R$ 5 mil. Em contraponto ao baixo rendimento do FGTS, R. viu sua aplicação saltar para R$ 100 mil. Mas a crise veio e reduziu tudo a pouco mais de R$ 33 mil. Ainda assim, um ganho em relação ao trabalhador que optou pelo rendimento do fundo. O investimento na estatal chegou a ser recomendado pelo então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, como "bom para a Petrobras, para o trabalhador e para o Brasil".

A queda assustadora do valor das ações da Petrobras, uma das maiores petroleiras do mundo, no entanto, não assustou o analista de sistema Adjutor Pereira Alvim Júnior, 46 anos. Em março deste ano, já com a queda dos papéis da estatal, o analista não pensou duas vezes e aplicou R$ 20 mil. Ele conta que sabia que o resultado do investimento seria de médio e longo prazo e não se preocupa com o aprofundamento da crise. "Acredito que, a partir de 2015, o cenário na Petrobras vai começar a melhorar e vou lucrar com o investimento", disse.

Já o empresário Gustavo Dias Miranda, 37 anos, tem uma perspectiva bem menos otimista. "Estou segurando os papéis. É um dinheiro que está empatado e não posso mexer, pois não vou realizar o prejuízo", avalia. O empresário comprou cerca de mil ações a preço médio de R$ 32,50 cada e estima que, se vendesse agora, teria prejuízo de quase dois terços do valor investido. "Vou deixar investido e fazer disso uma previdência privada. Não acredito que recupere em curto ou médio prazo", afirma o empresário.

Gustavo lembra que quando decidiu investir na empresa a perspectiva era excelente com as descobertas do pré-sal. "A empresa apresentava estabilidade e aparentava ter uma boa governança", destaca. A esperança do empresário é de que a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, consiga estancar as fraudes e recuperar o valor da Petrobras.

Colaboraram Daniel Camargos e Alessandra Mello

"Acredito que, a partir de 2015, o cenário na Petrobras vai começar a melhorar e vou lucrar com o investimento"

Adjutor Pereira Júnior, analista de sistemas