BRASÍLIA - A sétima fase da Operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira, chegou ao conhecimento de pelo menos um dos investigados na véspera de sua realização. A própria defesa de Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix, revelou tê-lo avisado. A PF suspeita de vazamento para outra empreiteira, a OAS. Advogados dessa construtora esperavam os agentes da PF que cumpririam os mandados de busca e apreensão na sede da empresa às 6h30m, e o presidente da empreiteira, José Aldemário Pinheiro Filho, tinha viajado na noite anterior de São Paulo (SP) para Salvador (BA). Ele foi preso na capital baiana.

O conhecimento prévio foi revelado pela defesa de Almada no pedido de habeas corpus impetrado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Foi anexado registro de envio de mensagem por telefone com o seguinte texto: "Gerson, há boatos de que amanhã haverá uma operação da Polícia Federal no caso da Lava-Jato. Abs (sic)".

"É de costume chegar cedo"

A revelação foi feita como argumento para pedir sua liberdade. Argumentou-se que, mesmo alertado, ele não fugiu. Portanto, não haveria motivo para mantê-lo sob custódia. "Mesmo avisado pelos advogados acerca destes rumores, Gerson não titubeou e manteve-se inerte em sua residência, ao alcance mais simples das autoridades e na mais completa submissão aos destinos da investigação", enfatiza a defesa do executivo. O documento é assinado pelos advogados Fábio Tofic Simantob, Débora Gonçalves Perez e Maria Jamile José. Não foi identificado qual dos defensores teria avisado Almada. O pedido de liberdade foi, no entanto, negado pela desembargadora do TRF-4 Maria de Fátima Labarrère.

A suspeita de que o vazamento tenha se estendido à OAS consta do pedido de prorrogação de prisão temporária de alguns executivos feito pela PF. O documento revela que, às 6h30m de sexta-feira, os agentes foram surpreendidos com a presença de três advogados da empreiteira na sede, onde seriam cumpridos mandados de busca e apreensão. Os defensores disseram que "é de costume chegar cedo". No local, porém, havia ainda um fotógrafo.

Os policiais relataram que o presidente da OAS deslocou-se de sua residência em São Paulo para Salvador na noite anterior à operação, segundo informações sobre a movimentação da aeronave que o levou. Os agentes que foram a sua residência em São Paulo foram recebidos também por um advogado, às 8h. Pinheiro foi preso em Salvador. Para a PF, há indícios de vazamento de informação para a empreiteira. "Assim, os elementos indicam que teria ocorrido o vazamento das diligências a serem empreendidas nos locais de busca", concluiu a PF.

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Apesar de Graça Foster, PT manteve influência

Executiva tentou reduzir presença política, mas criou desgaste no governo

 

Ramona Ordoñez
Bruno Rosa

 

Desde fevereiro de 2012, a Petrobras é comandada pela engenheira e funcionária de carreira Maria das Graças Foster, indicada por e amiga pessoal da presidente Dilma Rousseff. Ao assumir a estatal, que sempre teve interferência política, com partidos loteando a empresa, Graça conseguiu nomear três dos seis diretores. Mas ainda sim, de acordo com fontes, o PT exerce forte influência na companhia, que atravessa momento delicado com indícios de corrupção praticados justamente por ex-diretores e funcionários.

Na diretoria financeira, Almir Barbassa permaneceu no cargo após a chegada de Graça com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de José Sergio Grabrielli, ex-presidente da estatal. Além disso, no final da gestão de Gabrielli, foi criada a diretoria de Gestão Corporativa para ser comandada por José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e da estatal.

Segundo fontes, o PT também teria estendido seus tentáculos para além do 23º andar da sede da Petrobras, que abriga a diretoria executiva. De acordo com uma fonte, as indicações sindicais feitas pelo PT tomaram conta de diversos níveis gerenciais da estatal, movimento que começou em 2003, com Lula:

- A hierarquia técnica da Petrobras sempre foi respeitada. Mas, desde que o PT assumiu, as indicações sindicais tomaram conta de todos os níveis gerenciais. Então, em vez de os funcionários técnicos serem promovidos, os sindicalistas é que passaram a ser. Foi e é um problema.

Quando assumiu, em 2012, Graça tentou afastar os diretores que contavam com forte apoio político por nomeações eminentemente técnicas. Mas enfrentou muitas resistências, causando um desgaste do PT com o PP e o PMDB. Na ocasião, não conseguiu tirar dos cargos o então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o diretor de Engenharia Renato Duque e o diretor da área Internacional Jorge Zelada. Costa e Duque estão presos, após serem alvo de investigação da Polícia Federal.

Diretorias são disputadas

Somente em abril de 2012 é que Costa (que contava com o apoio de PT, PP e PMDB) foi substituído por José Carlos Cosenza, também funcionário de carreira, e que contaria, segundo fontes, com o apoio de PT, PP e PMDB. Já Duque, indicado pelo PT, foi substituído por Richard Olm, que foi indicado por Graça, mas morreu antes de tomar posse. Assim, para seu lugar, Graça nomeou José Antônio Figueiredo. Já Zelada, por pressão do PMDB, conseguiu uma sobrevida no cargo, no qual permaneceu até julho de 2012. E, para acabar com a disputa do posto pelo PMDB, que tentou várias nomeações, Graça acabou assumindo a diretoria.

- Os cargos de diretores sempre foram disputados por partidos devido ao grande volume de recursos que são movimentados. Na última década, a área de abastecimento, que cuida das refinarias, passou a ser tão cobiçada quanto a de exploração, que conta com os maiores orçamentos - disse uma outra fonte.

Segundo o Plano de Negócios da Petrobras 2014-2018, dos US$ 220,6 bilhões de investimentos previstos, 70% (ou US$ 153,9 bilhões) vêm de exploração e produção (E&P). A área de abastecimento vem em seguida, com US$ 38,7 bilhões (ou 18%). Assim, com o elevado volume de investimentos da empresa, a diretoria de Engenharia e Serviços passou a despertar interesse por ser responsável por todas as contratações de grande porte, como plataformas e sondas de exploração para as áreas de E&P e para as obras das refinarias.

Em 2013, a área de E&P, por exemplo, somou gastos (despesas) de R$ 8,9 bilhões, patamar semelhante aos R$ 8,205 bilhões registrados pelo abastecimento, segundo balanço da Petrobras.

- O foco da Petrobras é a exploração de novas áreas, como o pré-sal. É uma área muito estratégica que movimenta recursos elevados e é também alvo de partidos - pontuou uma das fontes, destacando que a área passou a ser comandada por Jose Formigli, que não conta com indicação política.