BRASÍLIA - Parlamentares aliados e de oposição avaliam que a atual diretoria da Petrobras está desgastada e que até mesmo a presidente da estatal, Graça Foster, está sendo atingida pelos desdobramentos da sétima etapa da Operação Lava-Jato. As declarações de Graça Foster de que foi informada oficialmente pela holandesa SBM Offshore sobre o pagamento de propina a funcionários da estatal ajudaram a aumentar o desgaste da atual direção.

Ontem, integrantes do PMDB — que está sendo apontado juntamente com PT e PP como beneficiário do esquema criado na Petrobras — ficaram irritados com o tratamento dado ao atual diretor da estatal, José Carlos Cosenza, que foi apontado em depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef como um dos beneficiários das “comissões” de empresas.

Para os parlamentares, ele deveria ser imediatamente afastado, assim como aconteceu com Sérgio Machado, que foi indicado pelo PMDB. Nos bastidores, há ainda uma preocupação dentro do governo com as consequências econômicas das denúncias, de paralisia da estatal e até mesmo das maiores construtoras do país.

— Por que o Cosenza não foi afastado até agora? — questionou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Parlamentares também criticam a atuação da presidente da Petrobras, Graça Foster, por ter admitido agora que sabia da propina que funcionários da estatal receberam da holandesa SMB Offshore. Eles lembraram que, quando o Parlamento investigou a SBM, ela desconsiderou as investigações e sempre negou tudo.

No governo, há uma divisão sobre a permanência, ou não, de Graça à frente da estatal. Há uma corrente que avalia que ela está bastante desgastada, embora outros argumentem que seria precipitado tomar qualquer decisão neste momento.

Em conversas reservadas, inclusive com integrantes do governo, aliados lembram que o momento econômico já é difícil e que essa situação pode reduzir investimentos do setor privado.

— Tem que trocar todo mundo (na direção da Petrobras) — disse um interlocutor do governo.

Há integrantes do governo lembrando que Graça Foster estaria com problemas inclusive dentro da empresa. Alguns aliados acreditam que a presidente deve definir logo o novo ministro da Fazenda e as mudanças na Petrobras.

“É UM TIRO NO PEITO DA GRAÇA”

Durante o fim de semana, coube à oposição verbalizar o desgaste de Graça Foster. A oposição considerou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ainda piorou a situação ao dizer, no sábado, que precisava conversar com Graça sobre a necessidade de a estatal não ficar paralisada.

— Dizer que vai procurar a Graça Foster para colocar a casa em ordem é uma insensatez. É um tiro no peito da Graça Foster — disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Na mesma linha, o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), tem dito desde sábado que é preciso mudar.

— A direção da estatal está totalmente desmoralizada — disse Mendonça Filho.

No PMDB, parlamentares reclamam da postura do vice-presidente Michel Temer. Para eles, Temer teria que ser mais enfático ao dizer que o PMDB não tem operador, como Fernando Soares, o Fernando Baiano, vem sendo apontado.

Em conversas com aliados, Eduardo Cunha reiterou que não tem ligação com Baiano, mesmo o tendo recebido em seu gabinete, supostamente como representante da empresa espanhola Acciona. Vice-presidente do PMDB, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) reiterou que o partido não tem ligação com Fernando Baiano.

— É um momento ruim, de cautela. O PMDB nunca teve operador. Daqui a pouco vai ter que ser mais contundente sobre isso — disse Raupp.

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Gabrielli nega que empresa tenha decidido denunciá-lo

O Globo - 19/11/2014

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli contestou ontem a informação de que o Conselho Administrativo da Petrobras decidiu encaminhar ao Ministério Público Federal o relatório da Comissão Interna de Apuração (CIA) que apontou 15 responsáveis pelos prejuízos de US$ 792,3 milhões sofridos pela estatal com a aquisição da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, segundo cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU). Entre os nomes da lista estão os de Gabrielli e Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional, que negociou a aquisição em 2006. A informação foi revelada pelo Blog do Ancelmo Gois, colunista do GLOBO.

Embora a presidente da Petrobras, Graça Foster, tenha se recusado a comentar o assunto anteontem, alegando sigilo sobre o que foi tratado na reunião do conselho da última sexta-feira, Gabrielli disse ter obtido informações na estatal de que o colegiado decidiu aguardar o posicionamento final da Controladoria Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU), que também apuram o caso, para decidir pelo encaminhamento da apuração interna.

Ontem, duas fontes que estiveram na reunião do conselho confirmaram mais uma vez ao GLOBO que a decisão foi tomada. O Ministério Público Federal no Rio informou que o documento ainda não foi protocolado no órgão, que já tem uma investigação sobre o caso da refinaria em curso. Uma vez recebida, a sugestão do relatório de abrir um inquérito civil público contra os responsáveis apontados será avaliada por um procurador. Após a investigação, o MPF pode pedir à Justiça uma ação civil pública.

"Ainda não fui comunicado formalmente pela Petrobras a respeito das conclusões da Comissão Interna em relação à minha atuação no processo de compra de Pasadena. Estou no aguardo das informações", afirmou Gabrielli, em nota. Ele atualmente é secretário de Planejamento do governo da Bahia.

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OAS contratou empreiteira de fachada de doleiro

Construtora usou empresa fantasma para propinas; Petrobras ameaça com punição

Chico de Gois
Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A Construtora OAS, que prestava serviços para a Transportadora Associada de Gás (TAG), subsidiária integral da Petrobras Gás (Gaspetro), assinou um contrato no valor de R$ 1,8 milhão com a Empreiteira Rigidez, empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, em 1º de fevereiro de 2011. Para "comprovar" o serviço, chegou a emitir uma nota falsa de vistoria, segundo a Polícia Federal (PF). Em nota, a estatal disse que não tem condições de saber se a construtora subcontratou a Rigidez. Caso se confirme pagamento de propina, a OAS poderá ser punida, informou a Petrobras.

"Foi constituída uma Comissão para Análise de Aplicação de Sanções para verificar a aplicabilidade de sanções administrativas à Construtora OAS, uma vez confirmados os fatos noticiados", informou a estatal

A TAG foi criada em dezembro de 2006 com o objetivo de unificar toda a estrutura de transporte de gás natural da Gaspetro. No ano seguinte, Maria das Graças Foster assumiu a presidência da Gaspetro e, nessa posição, tornou-se presidente de alguns conselhos de administração, entre elas o da Transportadora Associada de Gás. Na época em que o contrato da OAS com a TAG foi celebrado, ela presidia o Conselho de Administração.

Segundo o contrato entre as duas companhias, a empreiteira fantasma de Youssef deveria prestar serviços de consultoria técnica para recompor financeiramente um contrato que a OAS já tinha com a TAG. O serviço seria feito no gasoduto Pilar (AL)-Ipojuca (PE), mas não teria sido realizado porque, conforme depoimento de Youssef e da contadora dele, Meire Poza, a Rigidez era usada só para acobertar o pagamento de propinas aos integrantes do esquema de corrupção.

O gasoduto é uma obra de 189 km de extensão. A OAS foi responsável por projeto executivo, fornecimento de materiais e equipamentos, construção, montagem e testes, instalações de sistemas complementares, condicionamento, pré-operação e operação assistida.

Para dar aparência de veracidade ao esquema, a OAS emitiu nota atestando que o serviço teria sido realizado e programando o pagamento de R$ 1,864 milhão para 31 de março de 2011. O contrato foi assinado por Waldomiro de Oliveira, considerado laranja de Youssef, e por Fernando Augusto Stremel Andrade, pela OAS. O pagamento foi realizado em 18 de março de 2011, por meio de depósito, no valor de R$ 1,749 milhão. A OAS informou que a empresa deu esclarecimentos e acesso às informações à PF.

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