Título: Multidão protesta em toda a Espanha
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Fonte: Correio Braziliense, 20/06/2011, Mundo, p. 13

Movimento dos "indignados" faz manifestação contra os pacotes de austeridade dos governos europeus

O pacto de estabilidade negociado entre os governos da zona do euro ¿ os países que adotam a moeda única da União Europeia (UE) ¿ motivou ontem o primeiro grande protesto em escala nacional do Movimento 15 de Maio, também conhecido como "os indignados", com milhares de pessoas nas ruas das principais cidades da Espanha. Os manifestantes gritaram lemas contra o pacote de austeridade adotado pelo governo socialista espanhol, de linhas semelhantes às do plano em debate atualmente na Grécia. O premiê George Papandreou pediu ontem à oposição conservadora um "acordo nacional" para aprovar os "dolorosos" cortes de gastos exigidos pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar uma ajuda financeira de emergência.

Dezenas de milhares de pessoas desfilaram em Madri e mais uma centena de cidades espanholas. No centro da capital, a Praça Netuno, perto da Câmara de Deputados, foi o ponto de encontro de seis marchas que partiram de vários pontos da cidade e reuniram 40 mil participantes. Em Barcelona, a polícia catalã calculou em 50 mil o número de manifestantes. As cenas se repetiram em Valencia, Bilbao, Granada e Málaga.

"Temos de criar uma nova democracia", discursou um dos oradores em Madri, entoando um dos lemas do movimento, que rejeita os partidos e instituições políticas estabelecidos. "Temos de preparar uma greve geral. Vamos parar este país", convocou. "Não pagaremos pela crise" e "o povo unido jamais será vencido", respondia a multidão. "É preciso dizer basta aos políticos e aos grandes empresários que controlam os políticos. Esse movimento vai mudar as coisas", disse à agência de notícias France-Presse Braulio López, 45 anos, funcionário do metrô.

Além da insatisfação com o sistema político, os "indignados" espanhóis elegeram como alvo o pacto de estabilidade da zona do euro e o rigor orçamentário que ela impõe, em um país onde a crise iniciada em 2008 mantém a taxa de desemprego em 21%. Entre os menores de 25 anos, os desocupados são quase 50%. Em menor escala, a manifestação se reproduziu ontem também na França, onde 450 "indignados" marcharam para a Praça da Bastilha, em Paris, e em Portugal, onde 300 pessoas desfilaram em Lisboa. Na Grécia, 3 mil pessoas voltaram a se manifestar diante do Parlamento, na abertura dos debates sobre o plano de austeridade. Apelo à união

Em discurso aos parlamentares, o primeiro-ministro George Papandreou, socialista, pediu um "acordo nacional" e reafirmou que a única saída para a crise aguda da dívida pública implica "cortes dolorosos" nas despesas do Estado, inclusive nos programas sociais. Segundo Papandreou, o país chegou a um "ponto crucial" e corre o risco de ser empurrado a um calote "catastrófico". O premiê também pediu apoio para o novo gabinete formado na sexta-feira, em especial ao ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, bem aceito pelos empresários. O plano de austeridade deve ser votado pelos parlamentares na noite de amanhã.

Venizelos participou ontem, em Luxemburgo, de uma reunião extraordinária dos ministros de Economia e Finanças da Zona do Euro para discutir a crise grega e evitar a contaminação de outros países do continente, ou do sistema financeiro internacional. Entre as opções apresentadas está um novo pacote de ajuda, além do empréstimo de US$ 110 bilhões aprovado no ano passado. Os ministros vão discutir também a aprovação do repasse da quinta parcela do pacote, de 12 bilhões de euros.

Caso a ajuda não seja aprovada, a Grécia pode até decretar moratória de sua dívida, aumentando com isso o custo dos empréstimos tomados por outros países e levando a novos calotes.

Temos de preparar uma greve geral. Vamos parar este país" Discurso pronunciado na manifestação dos "indignados" no centro de Madri