BRASÍLIA - Sem espaço no PT para disputar a prefeitura de São Paulo em 2016, já que Fernando Haddad deve tentar a reeleição, a senadora Marta Suplicy (SP) falou ontem publicamente sobre a possibilidade de deixar o partido. Depois de sua saída intempestiva do Ministério da Cultura, na semana passada, marcada por críticas ao governo, Marta reassumiu ontem seu mandato no Senado com um tom mais ameno. Ela evitou repetir os ataques e agradeceu, em discurso no plenário, à presidente Dilma Rousseff:

- Um senador pode deixar seu partido sem perder o mandato, já tem decisões nesse sentido. Então eu tenho que avaliar as condições, como o partido vai se repensar. Se eu quiser sair do partido para disputar uma prefeitura, eventualmente, eu tenho um ano para fazer. Se eu quiser sair mais para frente para disputar um governo, eu tenho três anos. E, se eu avaliar que é melhor ficar no partido que eu ajudei a fundar, que todos os meus sonhos estavam depositados, e que vale a pena continuar, eu ficarei.

O ex-presidente Lula e a cúpula do PT defendem que Haddad dispute a reeleição, mesmo com sua gestão mal avaliada, e não querem a realização de prévias para definir o candidato. Lideranças do PT acreditam que Marta pode deflagrar o processo de disputa interna para gerar uma crise que justifique legalmente sua saída. Assim, ela poderia preservar seu mandato, já que, pela regra da fidelidade partidária, ele pertence ao partido, a menos que haja justa causa, como "grave discriminação pessoal".

Marta não quis comentar a declaração do presidente do PT, Rui Falcão, de que não acredita em sua saída do partido e a comparou com Luiza Erundina, que migrou para o PSB, e acabou com apenas 3% na disputa pela prefeitura paulistana em 2004.

Em seu discurso, Marta disse que retorna ao Senado "num momento difícil e delicado da vida brasileira", em que o governo precisará do Congresso. Ela agradeceu à presidente Dilma, mas cobrou mais recursos para a cultura.

Sem arrependimentos

Sem condições políticas de permanecer no governo após ter apoiado o "Volta, Lula", Marta protocolou sua carta de demissão semana passada, logo depois de a presidente Dilma viajar para o exterior. Na carta, fez críticas veladas à política econômica e desejou o "resgate da confiança e da credibilidade" do governo. No Planalto, a data e o teor da carta causaram "perplexidade".

Perguntada se a carta chamou mais atenção do que deveria, Marta disse não ter se arrependido:

- Nem mais nem menos, fiz uma carta dizendo exatamente o que eu pensava que era correto dizer, e não estava preocupada se ia ter repercussão.