BRASÍLIA - O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados arquivou ontem o processo por quebra de decoro parlamentar aberto contra o deputado Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ). Por oito votos a dois e uma abstenção, foi derrubado o parecer do relator Paulo Freire (PR-SP), que defendia a abertura de investigação. Bethlem, portanto, está livre da cassação e pode se candidatar nas próximas eleições - ele desistiu das últimas depois de ser alvo de denúncias de corrupção.

Em julho, a revista "Época" mostrou gravações feitas pela ex-mulher de Bethlem, Vanessa Felippe, em 2011, quando o deputado era secretário de Assistência Social do município do Rio. Nelas, Bethlem dizia receber mensalmente propina por contratos com a ONG Tesloo. Em um trecho de gravação, ele fazia menção ao suposto pagamento. "Minha principal fonte de receitas é o convênio. Mas o cara não prestou contas. Por isso, tô f... desse jeito. É uma receita certa que eu tenho até fevereiro, até março. Mas não prestou conta, rescindiram", dizia Bethlem na gravação divulgada pela "Época". Em outra conversa gravada, o então secretário afirmou ter conta na Suíça, o que negou depois.

Em agosto, o PSOL protocolou uma representação contra Bethlem, que concorreria à reeleição na Câmara.

- A denúncia é completamente comprometida. Se nós começarmos a tratar no Conselho de Ética denúncias feitas por revista, que o próprio denunciante desmente, realmente o Conselho de Ética vai virar um depósito de entulho de tudo quanto é matéria que sair na imprensa - declarou Bethlem, que pediu o arquivamento do caso para que não ficasse "uma nuvem" sobre sua cabeça.

Relator: "Não me convence"

O parecer derrotado ontem pedia apenas a abertura das investigações. Pelas regras do Conselho de Ética, o colegiado só aprofunda a análise dos casos após um relatório de admissibilidade que mostre a existência de indícios mínimos de quebra de decoro. Foi justamente um pedido nesse sentido que foi derrotado ontem pela maioria dos deputados. Se fosse aceita a investigação e acolhida a representação do PSOL, o Conselho de Ética teria cerca de um mês para analisar o caso antes do fim desta legislatura e dizer se houve ou não quebra de decoro.

Em sua defesa, Bethlem reafirmou que sua ex-mulher teria desmentido, em documento autenticado em cartório, o que contou à revista. Além disso, citou uma perícia que demonstraria falsificações nas gravações, bem como um parecer médico afirmando que sua ex-mulher enfrentava "grave quadro psiquiátrico".

Após ouvir as alegações do acusado, oito deputados votaram para arquivar a investigação: Fernando Ferro (PT-PE), José Geraldo (PT-PA), Renzo Braz (PP-MG), Roberto Teixeira (PP-PE), Félix Mendonça Júnior (PDT-BA), Sérgio Brito (PSD-BA), Édio Lopes (PMDB-RR) e Mauro Lopes (PMDB-MG). O deputado Ronaldo Benedet (PMDB-SC) foi o único a se abster. Apenas o relator Paulo Freire e o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) defenderam o aprofundamento das investigações:

- Não me convence de maneira nenhuma. Nós demos a oportunidade de ele se defender. Porque não é só a gravação, nós temos também a prestação de contas daquele convênio que foi mencionado. O papel dos membros do Conselho de Ética dentro desta Casa é: se existe o indício de quebra de decoro, abre-se a investigação - disse Freire.

Ex-presidente do conselho, José Carlos Araújo afirmou que ainda pairam dúvidas sobre o caso.

- Na situação em que os políticos estão hoje, ou esclarecemos isso ou fica a mácula para o resto da vida. O fato é que veio à tona uma versão. Para nós, e até para o próprio deputado Rodrigo, é interessante e importante que essa coisa seja esclarecida, para que não fique no futuro a dúvida. Daqui a quatro, cinco anos, se ele voltar a ser candidato, as pessoas vão lembrar: "Mas lá no Conselho de Ética ele tinha um processo, foi acusado disso, o caso não foi bem esclarecido" - disse.

Bethlem, por sua vez, disse que desistiu das eleições deste ano para se defender. Ele acrescentou que tem orgulho de seus 21 anos de vida pública.

- Foi a primeira conversa de divórcio que nós tivemos (contou, referindo-se a Vanessa). Minha ex-mulher tinha cismas, e eu fui concordando com algumas coisas que ela foi dizendo, no sentido de acalmá-la. Eu não estava conversando com um atravessador ou com um lobista para levar alguma vantagem. Estava tendo uma conversa de divórcio dificílima.

Bethlem disse ainda que em um contrato a ONG Tesloo, por ordem dele, recebeu 40% a menos do que deveria.