Desequilíbrio nas contas públicas, desgaste da Petrobras, setor elétrico financeiramente vulnerável, perda de competitividade da indústria são desafios para a futura equipe 

De volta da reunião do G-20, na Austrália, a presidente Dilma Rousseff mantém a expectativa em torno dos nomes que vão compor a equipe econômica do seu segundo mandato. Durante a campanha eleitoral e no primeiro discurso após a vitória nas urnas, Dilma falou genericamente em mudanças na política econômica. Mas, ao mesmo tempo, defendeu enfaticamente as medidas consideradas equivocadas e que, segundo ela, foram necessárias para que o Brasil enfrentasse a crise internacional. 

Na falta de indicações mais claras sobre essas mudanças que estariam por vir, as atenções se voltam para os nomes que formarão a equipe de governo porque, por meio deles, talvez se possa deduzir quais caminhos serão trilhados na economia a partir de 2015. 

Há muitas questões que precisam ser atacadas. As contas públicas saíram de controle, com um crescimento injustificado das chamadas outras despesas de custeio. Portanto, não se pode dizer que o governo deixou de acumular superávits primários devido a uma pressão incontornável da folha de pagamentos, de investimentos na infraestrutura ou de obrigações previamente assumidas nos segmentos da educação e da saúde. Os cofres foram mesmo abertos devido ao risco de derrota nas eleições. Uma política minimamente responsável exigiria contenção imediata de despesas logo que as previsões de arrecadação começaram a se frustrar. Agora sem a contagem regressiva do calendário eleitoral, a futura equipe terá de pôr a casa em ordem, e a escolha dos nomes por Dilma possivelmente mostrará o grau de autonomia dos seus colaboradores nessa árdua tarefa de ajuste. 

Há outros desafios de igual magnitude. A maior empresa do país (Petrobras) terá de se recuperar do enorme desgaste resultante do escândalo de corrupção sem precedentes na história brasileira. A indústria do petróleo é hoje a que mais investe e dela depende uma ampla cadeia de fornecedores industriais e de serviços. Tal qual os nomes dos ministros da Fazenda e do Planejamento, o do futuro ministro de Minas e Energia também é aguardado com expectativa, até porque suas dificuldades não se resumem à Petrobras. O setor elétrico está financeiramente vulnerável em função da crise hídrica que esvaziou os reservatórios das hidrelétricas. A economia terá de conviver com uma energia mais cara em momento de fragilidade e perda de competitividade. 

O setor industrial já estava ladeira abaixo antes da crise hídrica. A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) retrocedeu, relativamente, a uma posição comparável à dos anos 1960, quando o Brasil era ainda um país de economia agrícola. 

A própria presidente falou em mudanças. Em quadro como este, defender a simples continuidade seria um absurdo.