Título: Saída para Meirelles
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2011, Política, p. 4

A nomeação de Henrique Meirelles como representante do governo federal no Conselho de Governança dos Jogos Olímpicos de 2016, e não para o cargo principal, de Autoridade Pública Olímpica, foi um acerto entre o ex-presidente do Banco Central e a presidente Dilma Rousseff. Segundo apurou o Correio, Meirelles estava descontente com a desenvoltura do prefeito Eduardo Paes (PMDB) no planejamento para as Olimpíadas, achando que ele estava tendo mais espaço do que o previsto originalmente. Meirelles cogitou deixar o projeto para dedicar-se à iniciativa privada. Para não passar a imagem de que os Jogos estão ameaçados ¿ a exemplo dos vários problemas que envolvem a Copa de 2014 ¿ Dilma sugeriu a indicação dele como representante federal no conselho de governança.

Para a vaga de Autoridade Pública Olímpica surge, mais uma vez, o nome do ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes. Carioca, Fortes tem bom trânsito com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e com o governador do estado, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Com um perfil mais executivo do que político, embora seja filiado ao PP, Fortes é visto como uma pessoa capaz de conduzir o projeto sem importar-se com o esvaziamento do cargo. Ele já foi cogitado para a Secretaria Nacional de Aviação Civil ¿ ocupada atualmente por Wagner Bittencourt ¿ e para um banco de fomento para as exportações nos moldes do Eximbanking americano.

A perda de prestígio de Meirelles desde o início do governo Dilma foi contínua. O ex-presidente do BC chegou a ser cotado para comandar a Secretaria Nacional de Aviação Civil, com a missão de solucionar o caos aéreo brasileiro. O impasse político entre Dilma e o PSB, que também desejava o cargo, adiou a criação da secretaria, posteriormente ocupada por Wagner Bittencourt. Meirelles então foi escolhido para ser a Autoridade Olímpica Brasileira (APO). Com uma vida financeira estável após carreira exitosa no BankBoston, e com o capital político acumulado após oito anos na Presidência do BC, Meirelles enxergava o planejamento para as Olimpíadas como grande desafio para colocar em seu currículo, já que teria plenos poderes para controlar o processo.

Mas o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes pressionaram Dilma e o vice-presidente, Michel Temer, por autonomia. Conseguiram acertar, em conjunto com o próprio Meirelles, uma alteração no texto da Medida Provisória nº 517, dando liberdade para o governo fluminense e a prefeitura do Rio elaborarem licitações e firmarem contratos para a realização de obras. Restaria à Autoridade Olímpica a missão de fiscalizar e apontar irregularidades.

"Natural" Um aliado de Paes nega que o crescimento do papel do prefeito tenha tido componente político. Para esse auxiliar, não há como impedir essa realidade, já que todas as etapas passam pela prefeitura. Ele chegou a citar a construção de um corredor para que os ônibus circulem com agilidade entre o aeroporto e os locais dos jogos ou hotéis. "Essa obra pode ter recursos federais, mas a prefeitura precisa desapropriar terrenos ao redor da rodovia", lembrou o aliado.

Radiografia Autoridade Pública Olímpica

Função Planejar e coordenar a atuação dos três entes federados (governos federal, estadual e municipal) envolvidos na preparação e na realização dos Jogos Olímpicos de 2016. Não tem poder de licitar obras, mas de participar do processo de fiscalização.

Estrutura 181 funcionários, com salários que variam de R$ 1 mil a R$ 22 mil

Sede Rio de Janeiro, com um escritório previsto para Brasília

Conselho composto por três representantes. Um indicado pelo Executivo federal, outro pelo governo estadual e o terceiro pelo governo municipal.