Brasília - Antes de anunciar a nova equipe econômica, a presidente Dilma Rousseff se reuniu por quase três horas, no Palácio da Alvorada, com os novos ministros da Fazenda e do Planejamento, e o presidente do Banco Central, que permanece no cargo, para acertar o “entrosamento” durante a transição. 

No almoço de trabalho com Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, a presidente os instruiu a evitar ruídos e divergências com a equipe atual, chefiada pelo ministro Guido Mantega. 

Levy, futuro titular da Fazenda, conhecido por sua obsessão pelo trabalho, tão logo terminou a entrevista coletiva de apresentação da nova equipe, assumiu a cadeira já reservada a ele, no terceiro andar do Planalto, em gabinete montado a poucos metros da presidente Dilma. 

Barbosa, indicado para o Planejamento, terá uma sala ao lado de Levy e começa hoje a desempenhar suas funções. Os dois já marcaram uma série de reuniões com as equipes dos dois ministérios. 

Os encontros com os técnicos da Fazenda e do Planejamento por Levy e Barbosa serão feitos, preferencialmente, fora do Planalto para evitar especulações em torno da formação do segundo escalão. Ainda há cargos-chave a serem definidos, como o de chefia da Secretária do Tesouro Nacional, a quem caberá a gestão do dia a dia das contas do governo. 

Os dois futuros ministros já pediram e receberam dados da situação das contas públicas e das propostas que foram elaboradas pela atual equipe econômica. A primeira impressão de ambos é que haverá necessidade de avançar e ampliar tais medidas, que já foram consideradas “insuficientes” para atacar o cerne do problema econômico que o País atravessa. Na entrevista concedida ontem, os dois enfatizaram que “não há pressa” para o anúncio das medidas e que o importante é que elas “sejam sólidas”. 

Nomeação. Está sendo esperada para os próximos dias a nomeação, no Diário Oficial da União, de Levy e Barbosa, como integrantes da equipe de transição. Esse instrumento foi utilizado quando Fernando Henrique Cardoso passou o bastão para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe da transição do novo governo foi o ex-ministro Antonio Palocci. 

Neste período transitório, o Planalto quer evitar que os novos ministros concedam entrevistas ou falem sobre os trabalhos que estão desenvolvendo, a não ser que haja uma determinação da presidente Dilma. Depois de terem seus nomes confirmados, os novos ministros poderão disparar os convites para integrantes da nova equipe.

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Mantega muda agenda e não participa de anúncio

Com sua saída do cargo anunciada pela presidente Dilma Rousseff no início de setembro, durante a campanha eleitoral, o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, nem estava em Brasília quando Joaquim Levy foi oficialmente confirmado como seu futuro sucessor, durante uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

Na manhã de ontem, pouco depois de a Presidência convocar a imprensa para "breves declarações" de Levy, a assessoria de Mantega divulgou uma alteração na agenda do ministro. Antes, ele passaria o dia capital federal. Depois, sua agenda previa que no período da tarde ele despacharia em seu gabinete na cidade de São Paulo, bem longe de onde Levy e Nelson Barbosa, próximo titular do Planejamento, indicavam as guinadas que pretendem dar na política econômica. A atual ministra do Planejamento Miriam Belchior também não participou do evento. De acordo com sua agenda pública, ela passou o dia trabalhando em seu gabinete a alguns metros do Planalto.

Dilma também não apareceu. Enquanto a próxima equipe econômica dava seus recados ao mercado via imprensa, Dilma fazia o mesmo, mas pessoalmente, ao receber no mesmo horário Ana Patricia Botín, presidente do Grupo Santander.

O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Thomas Traumann, leu uma nota curta para anunciar a nova equipe econômica e na qual a presidente agradeceu "a dedicação" de Mantega, "o mais longevo ministro da Fazenda do período democrático". "Em seus 12 anos de governo, Mantega teve papel fundamental no enfrentamento da crise econômica internacional, priorizando a geração de empregos e a melhoria da renda da população". 

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Acomodar PMDB e outros aliados é próximo desafio

Definido o primeiro escalão da equipe econômica, o próximo desafio da presidente Dilma Rousseff é acomodar os aliados na Esplanada dos Ministérios no segundo mandato. E nenhum partido dará mais trabalho à petista que o PMDB.

As bancadas do PMDB da Câmara dos Deputados e do Senado iniciaram uma disputa pelo lote de cada grupo. Os deputados, liderados pelo líder Eduardo Cunha (RJ), atuam para impedir que cargos antes sob sua influência passem para as mãos dos senadores, que esperam ser recompensados por se considerarem mais fiéis ao Palácio do Planalto.

Na quarta-feira passada, enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lutava para tentar manter em pé a sessão do Congresso convocada para votar o projeto de lei que flexibiliza a meta do superávit primário, considerado vital pelo governo, Eduardo Cunha e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), se reuniam com um seleto grupo de correligionários na sala da liderança da legenda.

Além de não marcarem presença, o que contribuiu para o adiamento da sessão para terça-feira, eles decidiram que vão pleitear o mesmo número de ministérios com que os senadores forem contemplados. Enquanto definiam essa posição, Renan Calheiros era xingado pela oposição no plenário.

Demanda. O principal pleito dos deputados é emplacar Henrique Alves. Deputado por 11 mandatos consecutivos, o presidente da Câmara dos Deputados ficará sem função a partir de fevereiro - ele foi derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte nas eleições deste ano. Embora a pasta mais cogitada para tanto seja a da Previdência, hoje comandada pelo senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), seu primo, o sonho de consumo do deputado é a Integração Nacional.

Com um orçamento de R$ 9,3 bilhões e grande capilaridade, principalmente no Nordeste, a pasta é cobiçada pelo PMDB do Senado para o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), que também perdeu a disputa estadual. O PROS, do governador do Ceará, Cid Gomes, luta para manter o ministério em seu poder.

Trocas. Desde 2013, quando, sob orientação de Eduardo Cunha, a bancada da Câmara dos Deputados se declarou independente e disse que não indicaria mais cargos para o primeiro escalão, os deputados perderam espaço para os senadores. Renan conseguiu colocar no Ministério do Turismo o afilhado Vinícius Lages, um engenheiro agrônomo natural de Maceió. E o Ministério da Agricultura, que é da cota da Câmara, vai ser transferida para as mãos da senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB-TO) - além dela, já foi escolhido o senador Armando Monteiro (PTB-PE) para a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, uma forma de tentar trazer o PTB de volta à base aliada da presidente Dilma Rousseff.

A própria Dilma aproveitou reunião com Renan Calheiros, na segunda-feira passada, para pedir apoio à indicação de Kátia, pois havia resistência ao nome dela no PMDB. O aliado prometeu cooperar.

No Senado, a orientação é não comprar briga com a presidente da República, pelo menos enquanto Dilma não concluir a escolha dos ministros. Eunício afirmou que, apesar de o nome de Kátia Abreu ser uma escolha pessoal da presidente, o PMDB seguirá à risca a promessa de Renan de não implicar com a indicação. "A Kátia é uma das nossas", disse o líder do PMDB.

Acordo. O Senado fez uma espécie de acordo de bastidores para aguardar a decisão da presidente Dilma Rousseff sobre a ocupação na Esplanada dos Ministérios. Para cada pasta, haverá um senador candidato. Por exemplo: se a presidente decidir manter o Ministério de Minas e Energia com o partido - o que será difícil, pois ela pretende fazer mudanças no setor -, o nome a ser indicado será o do líder do governo, Eduardo Braga (AM). Se for a pasta da Integração, Eunício é o indicado.

Vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer quer manter na pasta da Aviação Civil o ministro Moreira Franco, além de encontrar um lugar para o deputado Elizeu Padilha (RS). Isso justifica a pressão dos deputados peemedebistas, cientes do risco de perderem espaço no governo a partir de janeiro de 2015.