O relatório de política monetária e crédito do Banco Central (BC) mostra que se acentuou a diferença entre o comportamento das pessoas físicas, que mantêm emprego e renda e tomam empréstimos, e das pessoas jurídicas, que sofrem intensamente com a estagnação da economia e evitam novas dívidas bancárias.
Entre setembro e outubro, as concessões de crédito às pessoas físicas aumentaram 5,3%, de R$ 169,6 bilhões para R$ 178,6 bilhões. Houve crescimento de 11,4% no ano e de 12% em 12 meses (em termos sazonais, o quadro é pior). Os números contrastam com as concessões de empréstimos às empresas, que caíram 4,1% no mês (de R$ 158,4 bilhões para R$ 151,8 bilhões), crescendo 0,7% no ano e 1,8% em 12 meses.
As concessões retratam melhor a situação presente do que o estoque de crédito, que no mês cresceu 0,4% para pessoas jurídicas, atingindo R$ 1,549 trilhão, e 1,3% para pessoas físicas, com saldo de R$ 1,377 trilhão. No total, o estoque de R$ 2,926 trilhões correspondeu a 57,3% do Produto Interno Bruto (PIB) - alta de 0,1 ponto porcentual em relação a setembro e de 2,6 pontos comparativamente a outubro de 2013.
A expansão do crédito (12,2%, em 12 meses) foi moderada, devido à elevação de juros: nas operações de crédito livre, a taxa média anual, em outubro, foi de 32,8%, comparativamente a 31,9%, em setembro. A maior alta ocorreu nas operações de cheque especial para pessoa física, cujo custo anual foi de 183,3% para 187,8%. Pior, houve aumento desses empréstimos (+15,1% no ano, de R$ 20,2 bilhões para R$ 23,2 bilhões), nos quais a inadimplência é alta.
No geral, as pessoas físicas continuam cautelosas na tomada de crédito, caso da aquisição de veículos. A relação entre as dívidas e a renda em 12 meses registrou leve queda - de 45,90%, em agosto, para 45,88%, em setembro, segundo o BC. O aumento do endividamento para compra da casa própria evitou uma queda maior do endividamento geral. Mas até o ritmo dos financiamentos imobiliários diminuiu, atingindo 27,6%, nos últimos 12 meses, contra 33,7%, em 2013 e 34,8%, em 2012.
O crédito continua dependente dos bancos públicos, que em 12 meses elevaram as operações em ritmo quase o triplo superior ao dos bancos privados nacionais (18,3% e 6,5%). Tão ou mais grave é a distorção provocada pelo crédito direcionado, com juros inferiores aos de mercado e cujos saldos cresceram 21,5% nos últimos 12 meses, contra 4,9% do crédito com recursos livres.