BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, convocou nesta quarta-feira o encarregado de negócios da embaixada da Venezuela no Brasil, Reinaldo Segovia, para pedir explicações sobre o convênio firmado pelo governo de seu país com o MST, na semana passada. O acordo foi celebrado pela entidade e o ministro venezuelano Elias Jaua, sem o conhecimento do Itamaraty.

- Convoquei o encarregado de negócios da Venezuela para transmitir estranheza do governo brasileiro com a notícia de que o ministro Jaua veio ao Brasil sem nos avisar e teria cumprido uma agenda política que incluiu a assinatura de acordo com movimentos sociais brasileiros - disse Figueiredo ao GLOBO.

Segundo relato do próprio chanceler, Segovia ouviu de Figueiredo que esse tipo de atitude "não se coaduna com o excelente nível das relações com a Venezuela". O encarregado de negócios foi alertado que o acordo poderia ser interpretado como uma ingerência em assuntos internos.


- Portanto, solicitamos uma explicação do ocorrido - disse ministro.

CONVÊNIO É MOTIVO DE DISCÓRDIA EM SEMINÁRIO

O clima tenso nas relações entre governo e oposição, acentuado após as eleições com a vitória da presidente Dilma Rousseff, ficou evidente nesta quarta-feira, durante um evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O deputado e ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) bateram boca ao ser mencionado o convênio que foi firmado na semana passada entre autoridades venezuelanas e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Caiado, que questionou o acordo nos debates, levou a melhor. Chinaglia foi vaiado pelos mais de mil empresários presentes no Encontro Nacional da Indústria (Enai). O parlamentar petista deixou claro que o governo brasileiro nada tem a ver com o convênio firmado pela Venezuela e o MST.


— Se a Venezuela financia ou quer convênio com o MST, é um problema da Venezuela e do MST — disse Chinaglia, interrompido com vaias da plateia.

— Se [o convênio] não fere a lei, nós podemos até criticar. Mas não queiram envolver o governo, ou quem quer que seja, naquilo que foi patrocinado e meio a público pelo governo da Venezuela e por uma organização social. Quando o Caiado fala e ideologiza, dizendo que há uma revolução socialista — acrescentou o deputado.

Ele lembrou que, neste ano, Caiado abraçou a causa da cubana Ramona Matos Rodrigues, que veio ao Brasil trabalhar no programa Mais Médicos para fugir da ditadura de seu país. Chinaglia disse que, se fosse presidente da Câmara na época, não permitiria que o parlamentar goiano levasse a médica ao plenário da Casa.

— Ali não é território de lobista. Ou o Parlamento é respeitado nas suas funções ou não existe.


Já Caiado foi aplaudido ao alertar para o risco de "venezuelização" do Brasil. Disse que os partidos deveriam ter mais compromisso e destacou que há uma denúncia grave em que o PT precisa assumir sua responsabilidade. Ele mencionou a possibilidade de o candidato do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), ter vencido a eleição.

— Se o Aécio tivesse sido eleito, vocês veriam esse Brasil totalmente bloqueado pelo MST. Nós não fazemos esse jogo. Não podemos desativar a mobilização da oposição. Temos de nos estruturar todos os dias, para chegarmos em 2018 e ganharmos as eleições no Brasil — afirmou Ronaldo Caiado.

De acordo com uma fonte da área diplomática, o convênio foi firmado sem que o governo brasileiro recebesse qualquer informação. A única notícia que se tinha era que o ministro para Comunas e Movimentos Sociais da Venezuela, Elias Jaua, esteve no Brasil para tratar de assuntos pessoais.