Título: Ultimato à Grécia
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Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2011, Economia, p. 15

Luxemburgo e Atenas ¿ À beira de um colapso e com um governo novo sem respaldo popular, a Grécia recebeu ontem um ultimato dos ministros de finanças da Zona do Euro para apresentar novas medidas de austeridade fiscal. O país terá duas semanas para atender à determinação ou ficará sem um empréstimo emergencial de 12 bilhões de euros da União Europeia UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para honrar seus compromissos. A ordem é cortar gastos de 28 bilhões de euros até 2015, privatizar estatais e aumentar impostos, medidas que têm provocado violentos protestos em toda a Grécia.

"A aprovação pelo Parlamento grego de um plano de ajuste fiscal é absolutamente essencial e terá de ocorrer no momento apropriado para que possamos tomar uma decisão em 3 de julho próximo", disse Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogroup, que reúne os ministros de finanças das 17 nações da Zona do Euro. "É claro que a dívida (grega) é sustentável, mas continuará sustentável somente se o país cumprir todos os compromissos que acertou com a "troika" ¿ ou seja com a UE, o FMI e o Banco Central Europeu (BCE)", afirmou.

Antes mesmo de ser colocado contra a parede, o novo Ministro das Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, emitiu um comunicado dizendo que se esforçará para garantir que um pacote de austeridade mais forte seja aprovado no Congresso. Ele sabe que a Grécia corre risco de entrar em default (calote), caso a próxima parcela da ajuda ¿ a quinta do pacote de 110 bilhões de euros (US$ 155 bilhões) acertado em maio de 2010 ¿ não seja liberada a tempo.

"O objetivo é desenvolver uma clara relação de confiança para estabilizar a situação e termos a liberação da quinta parcela do empréstimo", disse Venizelos. Segundo ele, o tempo político para o governo grego tem sido bastante reduzido. "Cada dia que passa é de extrema importância e, por conta disso, não podemos perder uma única hora", enfatizou.

Reforço Temerosa de que a possível bancarrota da Grécia leve outros países junto, a Europa acertou ontem a criação de um fundo de resgate permanente para nações em apuros financeiros na Zona Euro, com capacidade de empréstimos de pelo menos 500 bilhões de euros. O fundo foi possível porque os ministros das Finanças da região aprovaram modificações no Tratado de Lisboa. O mecanismo será uma espécie de fundo monetário europeu, destinado a substituir o pacote de socorro ativado em 2010, que tinha validade de três anos e foi usado para resgatar a Irlanda e Portugal.

Alerta da Standard & Poor"s A agência de classificação de risco Standard & Poor"s reafirmou ontem que uma reestruturação voluntária da dívida grega será, provavelmente, considerada um default (calote). "As últimas experiências mostram que a reestruturação de dívida de países com crédito CCC, como a da Grécia atualmente, tendem a não ser voluntárias e os investidores precisam arcar com as perdas", disse Moritz Kraemer, presidente de ratings soberados europeus da S&P. Ele ressaltou que o caráter voluntário ou não da ampliação dos vencimentos das dívidas gregas tem importância menor. "O fato decisivo é como isso se compara ao que foi prometido aos credores quando eles investiram dinheiro em papéis da Grécia quando tudo estava indo muito bem", destacou.