Título: Remédios para a saúde pública
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2011, Opinião, p. 16

Não constitui novidade a notícia de que pacientes do Entorno sobrecarregam a rede pública de saúde do Distrito Federal. Sem dispor de atendimento médico-hospitalar na cidade onde residem, adultos e crianças não têm alternativa senão buscar socorro onde podem encontrar ajuda. É natural, pois, que batam às portas das instituições da capital.

Se o vaivém não surpreende, o número de enfermos chama a atenção. Um em cada cinco doentes internados em hospitais do DF vem dos municípios vizinhos. A cifra representa 20% da ocupação de leitos. O percentual ganha cores mais vivas quando trocado em miúdos. Levantamento feito no ano passado registrou 19.275 atendimentos de não brasilienses ¿ 94% deles provenientes de Goiás.

Não se levam em conta, aí, os casos menos graves em que o doente faz a consulta, submete-se a testes laboratoriais, a exames radiológicos e volta para casa. São tratamentos de curta duração que, embora dispensem o pernoite, exigem cuidados de médicos, enfermeiros e corpo administrativo. Além, claro, de medicamentos. Em suma: a população do Distrito Federal precisa dividir o cobertor curto com quem nada tem.

Ora, o Fundo Nacional de Saúde distribui recursos para estados e municípios. Um dos critérios para o repasse é o número de habitantes. Assim, cidades vizinhas embolsam a parcela que lhes corresponde sem oferecer a contrapartida. Há casos de prefeitos que, em vez de construir unidades de baixa complexidade capazes de atender os cidadãos, preferem comprar ambulâncias a fim de transportar os necessitados para o DF.

Impõem-se providências. Não há como impedir a entrada de goianos, mineiros, paulistas ou paraenses na cidade. Não há tampouco como deixar de prestar assistência aos enfermos que se deslocam até aqui para recuperar a saúde ou salvar a vida. Há que buscar outras saídas. Uma, sem dúvida, refere-se à gestão. Eficiência e eficácia são as palavras de ordem. Os recursos precisam ser bem investidos. O resultado tem de se refletir na satisfação dos usuários.

A outra saída é política. O Governo do Distrito Federal necessita sentar-se à mesa com prefeitos e governadores dos entes cuja população procura assistência no Distrito Federal. Uma delas: incentivar a saúde preventiva para diminuir o número de pessoas obrigadas a buscar hospitais. A outra: construir centros de saúde no Entorno. Ninguém sai da cidade onde mora para passear no DF. Sai porque precisa. O abandono, a dor e o risco de morte obrigam adultos e crianças a buscar atendimento onde pode ser encontrado.