O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, assegurou que o governo não elevará impostos para melhorar as contas públicas. Ao participar ontem da abertura do Encontro Nacional da Indústria (Enai), Mercadante fez um apelo à oposição, para que ajude o governo a aprovar o projeto de lei que vai reduzir a meta de superávit primário das contas do setor público para 2014 prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

- Vamos reduzir o superávit primário nesse cenário e fazer política anticíclica. Precisamos do Congresso. Não é porque é oposição que não temos de discutir as coisas com profundidade. Não vamos aumentar impostos para fazer ajuste fiscal fácil, embora tenhamos de cortar gastos sempre - afirmou Mercadante, em cerimônia da qual não participou o ministro da Fazenda, Guido mantega.

O governo quer que o Congresso dê sinal verde para reduzir a poupança para o pagamento de juros, já que a meta fixada para o ano, de 1,9% do PIB, não será cumprida, mesmo com descontos. Mercadante defendeu cortes de gastos públicos, mas não de forma drástica.

- Sempre dá para cortar. O que não dá para fazer é um corte drástico que imponha uma trajetória recessiva. Nós temos que manter emprego e renda da população - disse.

"tem que ter diálogo"

Ele advertiu que, se nada for feito, o Brasil corre o risco de repetir o que ocorreu nos EUA, quando o governo não chegou a um acordo com o Legislativo sobre o Orçamento. Até o pagamento de salários foi suspenso.

- Tem que ter diálogo e parceria com a oposição. É preciso racionalidade, para construirmos uma agenda positiva - disse.

Em setembro, o Tesouro Nacional registrou déficit primário de R$ 20,4 bilhões nas contas do Governo Central (Tesouro, Previdência e Banco Central). No acumulado do ano, o rombo ficou em US$ 15,7 bilhões, o primeiro resultado negativo em 18 anos.

A uma plateia formada por cerca de 1.800 homens de negócios, Mercadante anunciou que governo e empresários começam a discutir, na semana que vem, uma agenda comum de desenvolvimento e melhora da competitividade do setor produtivo brasileiro. Segundo o ministro, a presidente Dilma Rousseff quer levar para seu segundo mandato as 42 propostas apresentadas pelo setor produtivo, assim que sua reeleição foi confirmada.

Mercadante defendeu a democracia e rechaçou a possibilidade de revisão das eleições de outubro, vencidas pela presidente Dilma Rousseff. Ele enfatizou que Dilma foi reeleita em um processo democrático.

- A democracia é tão bonita, que até quem defende golpe e intervenção militar pode ir para a rua fazer isso. Não pode haver terceiro turno, ou revanchismo. Fiz pós-doutorado na oposição, onde fiquei por 30 anos. É assim que se constrói a democracia. A palavra chave é o diálogo - declarou.

Mercadante atuou como porta-voz da equipe econômica. Defendeu medidas de estímulo tomadas para evitar desemprego e recessão, como redução de impostos para carros e linha branca, além de produtos da cesta básica. Disse que o programa de concessões de aeroportos, portos e ferrovias será intensificado.

Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, citou como exemplos de medidas a serem tomadas a redução da burocracia, mudanças estruturais nas áreas trabalhista e tributária e a expansão dos acordos de livre comércio entre o Brasil e os parceiros internacionais.