Título: Três perguntas para - Ausama Monajed
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2011, Mundo, p. 18

Líder do grupo sírio Movimento pela Justiça e pelo Desenvolvimento na Síria

Como o senhor analisa as promessas de reforma de Al-Assad e sua recusa em negociar "em meio ao caos"?

O discurso de Al-Assad ofereceu velhas promessas de reformas, que têm sido repetidas desde que ele herdou a Presidência, uma década atrás. Nenhuma dessas vagas promessas foram implementadas. Nada no histórico de Al-Assad leva o povo sírio ou a comunidade internacional a acreditar que haverá reformas. O diálogo só pode ocorrer quando as ações do regime começarem a mudar. Quando os tanques não mais percorrerem as cidades para esmagar civis que finalmente encontraram sua voz. Apenas depois haverá uma base para um diálogo significativo.

Mas ele anunciou alguma mudança substancial? Nada de importante. Por exemplo: a abolição do Artigo 8º da Constituição é pré-requisito-chave para qualquer mudança significativa na Síria. Bashar Al-Assad prometeu formar um comitê que consideraria tais reformas constitucionais. É hora de o presidente parar de criar comitês e começar a implementar o que ele promete. Essa promessa, em particular, já tem mais de uma década.

O discurso de Al-Assad tornará as coisas mais calmas no país? Certamente não. As autoridades têm trabalhado duro para superar o desastre de seu pronunciamento, frente à Assembleia do Povo. Apesar de algumas melhorias no comportamento, Al-Assad mostrou-se beligerante, repetindo ameaças contra supostos militantes armados e conspirações internacionais. O povo sírio está farto dessas mesmas mentidas empregadas por ditadores ¿ da Tunísia ao Egito, ao Iêmen e à Líbia. É preciso mais humildade, quando Al-Assad se vê confrontado com as demandas genuínas de seu povo, incluindo sua insistência em abandonar o poder após quatro longas décadas. Como ativistas pela reforma, nós apenas podemos acompanhar a batalha por uma nova Síria. (RC)