A Sete Brasil, empresa criada em dezembro de 2010 para construir 29 sondas de exploração para o pré-sal e que tem como acionista a Petrobras, com participação de cerca de 10%, iniciou um processo de apuração interna em todos os seus contratos por pressão de acionistas, de acordo com uma fonte. Em dificuldades financeiras decorrentes do atraso do empréstimo do BNDES, o objetivo principal da Sete Brasil é apurar se houve irregularidades nos contratos assinados por Pedro Barusco, que passou a ser diretor de Operações e Participações da empresa em dezembro de 2010, e que, de maio de 2011 a agosto de 2013, foi ainda suplente do Conselho de Administração.

De acordo com fontes, Barusco teria sido indicado para o cargo na Sete Brasil por Renato Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras e preso na semana passada pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Lava-Jato. Barusco decidiu colaborar com a Justiça, concordando em devolver US$ 100 milhões que foram desviados do cofre da estatal. Antes de ir para a Sete Brasil, Barusco era gerente-executivo da diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobras.

Pressão de fundos de pensão

A Sete Brasil é dona de 85% de cada uma das sondas de exploração do pré-sal, em parceria com diversas empresas que operaram essas unidades, incluindo a própria Petrobras, que ficam com os 15% restantes. Assim que essas sondas ficarem prontas - a primeira está prevista para ser entregue em 2016 -, a Sete Brasil vai afretá-las (alugar) para a Petrobras. A Sete Brasil é responsável por toda a construção e desenvolvimento das sondas.

- Como Barusco admitiu ter desviado recursos em obras da Petrobras, o foco da Sete Brasil é analisar os contratos entre os estaleiros e fornecedores para saber se há irregularidades nesses contratos. Há pressões dos acionistas. Como a Petrobras é acionista da empresa, os órgãos públicos de fiscalização também podem entrar na mira - disse uma fonte, lembrando que Barusco pediu afastamento no ano passado para tratar um câncer raro na perna.

Segundo essa fonte, a Sete Brasil vem enfrentando questionamento de seus sócios, como os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros), do Banco do Brasil (Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Vale (Valia). Na lista de acionistas estão ainda os bancos de investimento BTG Pactual, Santander e Bradesco. A estrutura da Sete Brasil é complexa: 95% do capital reúnem todos os acionistas, inclusive a Petrobras, com cerca de 5%. A estatal ainda tem outros 5% de forma direta. Procurada, a Sete Brasil não quis comentar.

- Além disso, as sondas de exploração serão finalizadas em estaleiros no Brasil, que ainda estão em construção por empresas envolvidas na Operação Lava-Jato. Ou seja, há muita incerteza e descontentamentos entre os investidores - completou a fonte.

Na Bahia, por exemplo, está sendo construído o estaleiro Paraguaçu, da Enseada Indústria Naval, um consórcio entre Odebrecht, OAS, UTC e a japonesa Kawasaki, para finalizar seis sondas de exploração. No último dia 14, executivos de OAS e UTC foram presos pela PF, e a Odebrecht foi alvo de apreensão de documentos. Já o estaleiro Rio Grande, da Ecovix, é responsável pela construção de três sondas. A Ecovix é uma subsidiária da Engevix, que também teve executivos presos no último dia 14.

- Nunca ninguém entendeu o porquê de se encomendar sondas para estaleiros ainda em obras - questionou a fonte.

Empresa negocia com BNDES

A notícia da auditoria interna azedou de vez os ânimos na Sete Brasil, que enfrenta uma série de problemas financeiros para conseguir continuar tocando a operação. A empresa ainda não conseguiu a primeira parte do financiamento de cerca de R$ 10 bilhões que havia sido prometido pelo BNDES. A previsão inicial era que o dinheiro fosse liberado em março deste ano. Desse valor, R$ 8,8 bilhões seriam concedidos por meio de linhas de empréstimos tradicionais e o restante seria emitido pelo BNDESPar por meio de debêntures (títulos da dívida), que podem ser convertidas em ações. Depois, estavam previstos outros US$ 5,5 bilhões, que seriam liberados até o fim deste ano. Uma terceira etapa iria destinar entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões.

Em nota, o BNDES disse apenas que "está em fase de elaboração das minutas contratuais" e que o processo é "bastante complexo do ponto de vista jurídico, sendo natural um tempo maior para concluí-lo"

Sem esses recursos, a Sete Brasil teve de recorrer a um empréstimo-ponte da Caixa, de cerca de US$ 400 milhões, a juros maiores, para poder honrar seus compromissos, que venciam neste mês, destacou uma fonte do mercado financeiro.

A presidência da empresa é ocupada por Eduardo Carneiro, ex-OGX, indicado pela presidente da Petrobras, Graça Foster.

Apesar da auditoria, a entrega dos cascos das sondas segue o planejado. A sonda Urca, que está sendo construída no estaleiro Brasfels, em Angra, já está 81% concluída. A Arpoador chegou semana passada ao Rio de Janeiro e vai seguir para o estaleiro Jurong, no Espírito Santo.

 

 

Price alerta para 'excesso' de passivos que ameaçam continuidade operacional da empresa

O Globo - 21/11/2014

Sem recursos do BNDES e do Fundo de Marinha Mercante, Sete Brasil fez empréstimos com bancos

Assim como na Petrobras, a PricewaterhouseCoopers (PwC) audita as contas da Sete Brasil. A auditoria, em relatório publicado no dia 12 deste mês e referente ao terceiro trimestre deste ano, alerta para o "excesso" de passivos sobre ativos na empresa no montante de R$ 10,9 bilhões. Tal situação, diz a PwC, "indica a existência de uma incerteza material que pode suscitar dúvidas significativas sobre a continuidade operacional da companhia".

O documento é assinado por Marcos Donizete Panassol, da PwC, o mesmo que foi responsável pela não aprovação das demonstrações contábeis da Petrobras do terceiro trimestre. O alerta feito pela PwC, de acordo com um analista de mercado, é natural, já que o plano de negócios da Sete Brasil inclui 25% de recursos próprios e 75% de dívida. As 29 sondas planejadas pela empresa preveem um investimento de US$ 25,6 bilhões. A Sete Brasil diz, em relatório, que, do total contratado nos estaleiros, cerca de US$ 6,5 bilhões já foram gastos.

A empresa destaca ainda que, além do atraso do financiamento do BNDES, o Fundo de Marinha Mercante (FMM) também não liberou os recursos. Segundo o relatório da Sete Brasil, a empresa obteve "priorização junto ao FMM para captação de financiamento de longo prazo de até R$ 10,3 bilhões". Previsto para agosto de 2014, "o prazo para atendimento das condições prévias para assinatura do contrato e para posterior desembolso dos recursos foi prorrogado para janeiro de 2015".

Por não ter os recursos, principalmente, do BNDES, a Sete Brasil fez empréstimos-ponte com Itaú, Banco do Brasil, Sumitomo Mitsui, The Bank of Nova Scotia, Standard Chartered Bank, Bradesco, Citibank e Caixa. O balanço da empresa destaca que, no dia 4 de novembro, houve extensão para fevereiro de 2015 do prazo de vencimento de algumas dessas operações.