Título: Biblioteca de DNA é arma contra câncer
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Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2011, Mundo, p. 19

Vacina produzida com genes de camundongos doentes destrói tumor de próstata

Cientistas do Centro de Pesquisas sobre Câncer da Universidade de Leeds, no Reino Unido, encontraram uma nova maneira de combater o câncer, usando células da próstata de camundongos. Eles utilizaram o DNA dos próprios roedores na criação de uma vacina capaz de revolucionar o tratamento de diversos tipos da doença, segundo estudo publicado pela revista científica Nature Medicine. Até agora, as vacinas fabricadas pela terapia gênica conseguiam liberar no organismo apenas um gene, que estimula o sistema imunológico. Tal gene produz uma proteína, chamada de antígeno, que ativa o sistema imunológico e leva à destruição das células cancerígenas.

No estudo, os pesquisadores retiraram o DNA do tecido saudável da próstata de camundongos. Após inserirem os genes no organismo dos animais, com a ajuda de um vírus, os cientistas perceberam que eles foram curados. A ideia do grupo de pesquisadores é produzir uma vacina baseada nesta metodologia e que funcione para todos os tipos de tumores. Para o professor Peter Johnson, clínico-chefe do Cancer Research UK, a pesquisa é interessante e significativa. "Ela poderá realmente ampliar o campo de estudos da imunoterapia", prevê.

Até então, os cientistas tinham dificuldades para desenvolver vacinas de sucesso contra o câncer. Cada tumor possui proteínas específicas, e identificar os antígenos corretos é considerado um grande desafio. Os especialistas usam vários genes para ampliar as chances de produzir antígenos com sucesso e, por consequência, aumentar a eficácia das vacinas. As terapias genéticas contra o câncer conseguiam trabalhar com somente uma sequência de DNA por vez, capaz de gerar apenas uma proteína no organismo. Como cada tipo de tumor responde a uma proteína específica, o problema era acertar a combinação exata da célula cancerígena e da proteína, a fim de matar o tumor.

Estratégia Nas tentativas de utilização de DNAs múltiplos, os pesquisadores tinham medo de sobrecarregar o sistema imunológico do corpo, levando-o à incapacidade em lidar com uma quantidade tão grande de modificações. Em cooperação com a Clínica Mayo (em Rochester, nos EUA), os cientistas britânicos podem ter resolvido o problema. Eles usaram doses de uma vacina feita a partir de um vírus que continha uma "biblioteca" de DNA ¿ estrutura que abriga vários fragmentos de genes e, portanto, muitos antígenos possíveis. Tal abordagem não bombardeou o organismo com uma forte resposta imunológica. Em vez disso, a gama de DNA permitiu que a vacina atingisse o tumor de várias formas.

O DNA foi coletado do órgão afetado pelo tumor. Isso significa que o sistema imunológico selecionou automaticamente os antígenos, de forma que eles combatessem o câncer e não reagissem nas partes saudáveis do corpo. O processo de autosseleção foi desencadeado após a vacina ser injetada na corrente sanguínea.

Autor do estudo e pesquisador da Universidade de Leeds, o britânico Alan Melcher comemora: "Essa é a primeira vez que fomos capazes de utilizar todas as informações contidas no DNA em uma vacina viral, com sucesso. O maior desafio na área de imunologia é desenvolver antígenos que atuem diretamente no tumor sem causar danos em outros lugares. Ao usar DNA da mesma parte do corpo do tumor, fomos capazes de resolver esse problema", afirmou.