Depois de quatro trimestres em contração, a indústria agregada, a indústria de transformação e a construção civil cresceram no terceiro trimestre. Todavia, esse crescimento representa somente uma tímida estabilização da atividade industrial em um patamar de produção bastante deteriorado: a expansão observada no terceiro trimestre não foi maior, para nenhuma dessas atividades, do que a contração que ocorreu no segundo trimestre do ano. Considerando que, neste terceiro trimestre, houve mais dias úteis (em relação ao segundo) e o fim do efeito negativo da Copa do Mundo, o resultado da indústria no Produto Interno Bruto permaneceu aquém das expectativas, limitado pelo processo de ajuste da demanda doméstica que vem ocorrendo na economia brasileira.

Não só o crescimento da indústria no terceiro trimestre foi insuficiente para recuperar o patamar de produção como a perspectiva para os próximos trimestres permanece negativa. Pesquisas qualitativas, como a Sondagem da Indústria do Ibre, continuam indicando nível de estoques para a indústria de transformação acima do desejado pelas próprias empresas. Quando associamos o alto nível dos estoques ao início do novo ciclo de alta da taxa básica de juros, ao ajuste fiscal que deve ocorrer nos próximos anos e à desaceleração já em curso do consumo das famílias e do investimento, é possível ver como o cenário ainda é predominantemente negativo para a atividade industrial. O modelo econômico de estímulo da demanda pelo consumo de bens duráveis mostra sinais de esgotamento, assim como os pacotes de estímulos para o investimento das empresas, como o PSI, do BNDES. Pacotes de estímulo de curto prazo para a compra de bens duráveis sempre deslocam consumo do futuro para o presente: a desaceleração de consumo observada nos dados da demanda ao longo de 2014 mostra simplesmente que o futuro chegou.

Porém, a maior parte desses ajustes já está em processo na economia desde meados do ano passado. Portanto, parte substancial do reequilíbrio de oferta e demanda da economia já ocorreu. Vários desses ajustes estão sendo antecipados pelos agentes (o que explicaria, ao menos em parte, o nível tão deteriorado da confiança de consumidores e empresas) e cobrando a conta. Mantidas as condições atuais a indústria não deve iniciar um novo grande ciclo de contração de atividade, mas simplesmente se manter a taxas de crescimento muito baixas por um período prolongado.

É importante notar que, todavia, o balanço de riscos para esse cenário é desfavorável: a depender do cenário hidrológico, o país pode passar por racionamento de água e de energia em 2015. Evidentemente, a profundidade do impacto do racionamento depende de sua intensidade e duração, mas ele pode representar uma séria restrição de crescimento em uma economia já bastante fragilizada. O começo de um novo ciclo de contração do PIB no início do ano que vem pode comprometer seriamente o emprego e, por consequência, a demanda. Então teríamos uma sequência de contrações da oferta e da demanda que acabariam por impactar severamente o crescimento em 2015.

Os novos números do PIB ratificam uma nova faixa de crescimento potencial por volta de 1,5% para o Brasil. Em 2014, a economia está se ajustando pelo crescimento em 2013 acima do potencial. 2015 ainda deve ser um ano de ajustes, mas, restabelecidas as condições de política econômica para gerar crescimento, a partir de 2016 o país voltará a apresentar taxas de crescimento mais próximas do potencial estimado.