As ações de companhias de petróleo e as moedas de grandes produtores caíram na sexta-feira com a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de manter seus níveis de produção, apesar do excesso da oferta mundial.

A decisão derrubou em 10% os preços de referência do petróleo americano na sexta-feira, para US$ 66,15 o barril, o menor nível desde setembro de 2009. A cotação das ações da Exxon Mobil , BP e Royal Dutch Shell caíram, respectivamente, 4,2%, 5,5% e 7%, na bolsa de Nova York.

As moedas de alguns dos principais países produtores, incluindo Rússia, Nigéria e Canadá, também recuaram. Na Rússia, o dólar atingiu a máxima histórica de 50,57 rublos quando a moeda local despencou quase 3% em relação à americana, antes de se recuperar um pouco. No México, o dólar também atingiu sua maior cotação em mais de dois anos.

Pascal Menges, um gestor de carteiras da Lombard Odier na Suíça, que possui ações de empresas que exploram xisto nos Estados Unidos, diz que a decisão da Opep "criou uma situação muito desconfortável" para as petrolíferas, que terão que resolver se cortarão ou não seus investimentos. Ele estima que o excesso na oferta mundial de petróleo cairá nos próximos meses e o crescimento da produção dos EUA desacelerará, evitando uma queda ainda maior nos preços.

Se isso ocorrer, diz ele, as petrolíferas de xisto menos endividadas da América do Norte devem continuar lucrativas. Mesmo assim, ele diz que reduziu os investimentos de seu fundo em companhias de petróleo, migrando parte do dinheiro para empresas que compram e processam o produto.

Todd Staples, presidente da Associação de Petróleo e Gás do Texas, nos Estados Unidos, afirmou que os preços internacionais mais baixos do petróleo vão afetar algumas operações americanas e globais. Ainda assim, ele acredita que os preços irão eventualmente se estabilizar. "Estamos confiantes que o mercado encontrará um equilíbrio".

As empresas canadenses que extraem petróleo de areias betuminosas estão pressionadas. O preço de equilíbrio para novas minas de superfície está perto de US$ 85 o barril, um dos mais altos do mundo, segundo o Bank of Nova Scotia. "Seremos mais desafiados por um cenário de preço elevado que muitas outras jurisdições", diz Murry Edwards, presidente do conselho administrativo da Canadian Natural Resources, uma das maiores produtoras de petróleo de areia betuminosa do Canadá.

O petróleo bruto tipo Brent para entrega em janeiro caiu US$ 2,43 por barril na sexta-feira, para US$ 70,15. Na véspera, o preço já havia recuado 6,7%.

O problema imediato das empresas é reajustar os orçamentos feitos quando os preços estavam elevados. Em outubro, o diretor-presidente da BP, Bob Dudley, disse que a petrolífera britânica trabalhou com o preço do Brent a US$ 80 por barril quando definiu os investimentos em projetos correntes. Um porta-voz da BP diz que a empresa continua considerando um preço em torno de US$ 80 para "investimentos de longo prazo que normalmente têm um ciclo de vida entre 10 e 20 anos".

A Rússia elaborou seu orçamento para 2015 considerando um preço de petróleo médio de US$ 100 por barril. Na sexta-feira, o ministro das Finanças disse que o governo russo iria revisar ou cortar gastos, acrescentando que um preço médio de US$ 80 por barril nos próximos anos seria "um cenário moderadamente otimista".

Os preços elevados do petróleo nos últimos anos fizeram aumentar os custos de grandes empresas multinacionais como a BP e a Shell. Essas gigantes enfrentam agora a perspectiva de redução no fluxo de caixa usado para financiar despesas atadas a projetos que demorarão anos para serem concluídos.

Um porta-voz da Shell diz que o intervalo de preços para novos projetos está entre US$ 70 e US$ 110 o barril. "Um projeto novo tem que se pagar mesmo com o preço a US$ 70" para ter o investimento aprovado, diz.

Já outros setores podem se beneficiar dos preços menores do petróleo. A mineradora Anglo American tem uma receita extra de cerca de US$ 42 milhões para cada queda de US$ 10 no preço do barril no decorrer de um ano, segundo afirmou um porta-voz. E muitas empresas aéreas também podem sair ganhando, se não fixaram os preços de entregas futuras de combustível.

O combustível de avião normalmente responde por perto de 30% ou mais dos custos das companhias aéreas. A Associação Internacional de Transporte Aéreo, que representa mais de 200 operadoras, estima que os gastos do setor aéreo com combustível serão US$ 7 bilhões menores este ano que em 2013, agora que os preços do combustível de avião estão cerca de 20% abaixo do nível do ano passado.

Muitas empresas, porém, tentaram se proteger contra a volatilidade fixando antecipadamente os preços do combustível através de operações de hedge, o que faz com que algumas acabem, agora, pagando mais que o mercado. A irlandesa Ryanair, maior companhia aérea de descontos da Europa, fixou antecipadamente cerca de 90% de seu gasto futuro com combustível no ano.

Henrik Meincke, economista-chefe da VCI, uma associação de fabricantes de químicos da Alemanha, diz que os preços baixos, se forem sustentáveis, "tornarão a matéria-prima mais barata para as empresas químicas alemãs". O preço da nafta, um derivado de petróleo que é uma matéria-prima importante, está cerca de 30% menor que em junho, diz ele.

A causa desses movimentos de preços foi a decisão da Opep, na quinta-feira, de não reduzir suas metas de produção. O influente ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, argumentou contra o corte da produção, uma decisão defendida por alguns membros da Opep para estimular os preços, segundo pessoas a par dos comentários do ministro. Ele concordou que os preços em queda serão prejudiciais, mas perder clientes de longo prazo para o petróleo de xisto americano seria pior, dizem as pessoas.

"A Arábia Saudita está experimentando uma nova estratégia", escreveram analistas da consultoria IHS Energy. "Ela está testando a resistência de outros produtores aos preços baixos enquanto tenta lidar com a produção crescente de petróleo na América do Norte".