As denúncias de corrupção na Petrobras afetam a avaliação do Brasil no exterior, prejudicando a imagem de companhias brasileiras, especialmente empreiteiras e estatais, segundo analistas ouvidos pelo Valor. Nesse cenário, as incertezas em relação ao alcance do escândalo e à governança de companhias controladas pelo governo diminuem o apetite externo por bônus e ações de empresas do país.

Gestor de recursos da SW Asset Management, Ray Zucaro diz que as notícias sobre a Petrobras são de fato preocupantes do ponto de vista do investidor estrangeiro. Há dúvidas sobre qual é a real amplitude do escândalo e quais empresas estão implicadas no caso, afirma ele, observando que isso impacta o preço de ativos. "Há sinais de um aumento do risco percebido pelos investidores." As cotações de bônus de empreiteiras como OAS e Odebrecht, foram afetadas, segundo Zucaro.

O diretor-executivo de uma grande administradora de recursos nos EUA diz que, na sua empresa, a ordem é "não tocar" em papéis de empreiteiras brasileiras neste momento. "Não se sabe o quanto elas estão envolvidas no caso", resume ele. Um risco é a possibilidade de companhias do segmento terem problemas para fazer novos negócios com o governo, se forem declaradas inidôneas.

Estrategista de mercados emergentes do banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH), Ilan Solot diz que o escândalo surgiu num momento em que a avaliação do Brasil já havia piorado no cenário externo. "Desde o ano passado, o país estava com uma imagem ruim, tendo deixado de ser um dos queridinhos do mercado", afirma Solot, apontando a decepção com o fraco crescimento da economia, por exemplo.

Foi nesse quadro desfavorável que surgiram as denúncias de corrupção na Petrobras, ressalta ele, avaliando que essas notícias contribuem para aumentar o risco país. Elas criam mais incerteza em relação ao futuro e acrescentam mais um motivo para o investidor estrangeiro pensar em não aplicar no Brasil ou em ativos brasileiros. Para Solot, a informação de que a empresa está sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana) e pelo Departamento de Justiça dos EUA, no âmbito da lei americana contra a corrupção no exterior (FCPA, na sigla em inglês), piora a situação. "O caso tomou uma dimensão ainda maior."

Zucaro diz ainda que o escândalo gera a preocupação sobre a situação de outras instituições estatais, como o Banco do Brasil e a Eletrobras. Nesse ambiente, o estrangeiro se pergunta se o que se passou na Petrobras também ocorre em outras companhias controladas pelo governo.

O economista-chefe da BCP Securities, Walter Molano, diz que os investidores estão preocupados com o caso porque a Petrobras é uma das maiores emissoras de bônus entre os mercados emergentes. Em 2013, ela fez o maior lançamento de títulos desse grupo de países, ao captar US$ 11 bilhões. Neste ano, emitiu US$ 8,5 bilhões.

Para Molano, papéis de outras empresas brasileiras podem sofrer um pouco por causa das denúncias envolvendo a Petrobras. Da mesma forma como se beneficiaram no mercado internacional quando havia visão positiva sobre a petroleira, essas outras companhias podem ser um pouco punidas num momento em que a história da estatal se deteriora, diz ele. As empreiteiras tendem a ser mais afetadas do que outros setores.

Um dos principais motivos de inquietação em relação às ações da Petrobras é que a nota de crédito da companhia está no nível mais baixo do grau de investimento, segundo Molano. Se duas das três maiores agências de classificação de risco rebaixarem o rating da empresa para grau especulativo, fundos dedicados a bônus de mercados emergentes serão levados a vender os papéis da Petrobras, já que eles sairiam de alguns índices importantes seguidos por esses administradores de recursos. Esse movimento de venda afetaria ainda mais os preços dos bônus da companhia.

Para Molano, o governo brasileiro começou uma operação para tentar controlar os danos causados pelas denúncias, mas o desfecho ainda é incerto. Um ponto importante, acredita ele, será a reação do Brasil às investigações da SEC - haverá cooperação ou uma atitude de confronto?

A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, por sua vez, é um fator que ajuda a melhorar a imagem que os investidores estrangeiros têm do Brasil, segundo os analistas. Solot vê na indicação de Levy um ponto positivo, num momento em que há vários outros negativos afetando a avaliação que se faz do país no exterior. No entanto, essa mudança não é suficiente para sozinho reverter o quadro, acredita ele.

Zucaro considera Levy na Fazenda uma boa notícia, mas diz que, do seu ponto de vista de investidor estrangeiro, o mais importante para melhorar a confiança é uma investigação que mostre até onde vai a corrupção, com a adoção de medidas para garantir que o problema não se repita.