A China está pronta para lançar um plano nacional de seguro de depósitos bancários, um passo importante para o fim de uma garantia implícita do governo que impede a falência dos bancos.

O plano, há muito esperado, vai segurar depósitos até o teto de 500.000 yuans (US$ 81.388), um limite que cobrirá cerca de 98% dos depósitos em bancos comerciais chineses. A informação foi publicada pela imprensa chinesa, citando fontes não identificadas.

A introdução do seguro de depósitos, prevista para janeiro, vai também ajudar a preparar o caminho para a desregulamentação das taxas de juros dos depósitos bancários pelas autoridades. A desregulamentação deverá criar condições para a concorrência, com os bancos oferecendo taxas maiores sobre os depósitos para atrair clientes. O seguro de depósitos vai diminuir os riscos da desregulamentação ao proteger a maioria dos depositantes de perdas.

"O seguro de depósitos é uma precondição à liberalização dos juros dos depósitos, um passo para a liberalização das taxas de juros", disse Tim Condon, economista-chefe do ING para a Ásia, em uma nota. "O presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, já disse este ano que as taxas dos depósitos poderiam ser liberadas até o segundo trimestre de 2016. A reforma das taxas de juros começou em 1996 e 20 anos é muita lentidão até mesmo para a China."

O banco central movimentou-se no sentido de liberalizar as taxas dos depósitos na semana retrasada, quando dobrou a margem de flexibilidade dos bancos para oferecer taxa de depósitos acima da juro oficial do banco central, uma medida que foi adotada juntamente com um corte nas taxas de depósitos e empréstimos.

Hu Xiaolian, vice-presidente do banco central, também disse na quinta-feira passada que o Banco do Povo da China vai acelerar o trabalho na questão do seguro de depósitos. Os jornais "Southern Metropolis Daily" e "The Beijing News" publicaram as novidades sobre o seguro de depósitos na sexta-feira.

Analistas esperavam o lançamento do plano para o início deste ano, mas ele foi adiado devido a preocupações com a estabilidade financeira e discussões internas sobre a elaboração do sistema. As autoridades reguladoras temem que a introdução do seguro de depósitos possa desestabilizar o sistema bancário no curto prazo, ao reforçar a falência de bancos como uma possibilidade real.

A experiência de outros países mostra que quando o seguro de depósitos é introduzido, correntistas mais desconfiados podem transferir seus recursos para os maiores bancos, que são vistos como mais seguros, mesmo que seus depósitos estejam abaixo do limite máximo e, desse modo, totalmente garantidos.

Esse comportamento irracional ocorre porque os poupadores menos informados tendem a se prender à noção de que o governo está disposto a permitir a falência de instituições financeiras e que alguns depósitos não estão protegidos, ao mesmo tempo em que ignoram a existência da garantia aos depósitos abaixo do limite estabelecido.

Isso pode levar a um fluxo de saída de depósitos com efeitos nefastos para os pequenos bancos, que já enfrentam grandes dificuldades para atrair os recursos de clientes em razão de suas redes de agências menores.

Os seis maiores bancos da China controlam 58 trilhões de yuans em depósitos, em comparação aos 27 trilhões de yuans dos pequenos e médios bancos, segundo dados registrados pelo banco central do país.

Outro ponto de discórdia é o nível de prêmio que os diferentes tipos de bancos serão forçados a pagar. Os grandes bancos, vistos como menos propensos a quebrar, vêm resistindo às propostas para que entrem com uma parcela desproporcional dos prêmios no fundo segurador, uma vez que os bancos menores são justamente aqueles com uma probabilidade maior de sofrerem uma quebra.