Título: Oposição pretende convocar Mercadante
Autor: Torres, Izabelle ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2011, Política, p. 3

A oposição quer aproveitar a ausência das principais lideranças do governo na Câmara e tentar aprovar a convocação do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, para que ele explique seu envolvimento no escândalo dos aloprados. A ideia é que pelo menos um dos três requerimentos apresentados ontem em diferentes comissões da Casa recebam o apoio de parte da base aliada insatisfeita com o tratamento recebido do governo e pouco disposta a enfrentar desgastes em defesa de um petista sem popularidade. "Já ouvimos de gente de partidos governistas e do próprio PT que nosso pedido pode ser aprovado. Contamos com a insatisfação de muita gente do outro lado", resume o autor de um dos requerimentos, Vanderley Macris (PSDB-SP).

Um elemento fundamental para impulsionar a convocação de Mercadante seria a diferença de estilo entre o ministro da Ciência e Tecnologia e Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil. Apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, Mercadante enfrenta fortes resistências dentro da base aliada por conta de seu estilo autossuficiente. Senadores do PMDB, por exemplo, já avisaram que não se empenharão com o mesmo ardor em uma eventual defesa do petista.

Enumeram várias razões para justificar a decisão. "Ele teve participação fundamental em todas as nossas crises, querendo derrubar primeiro o Renan (Renan Calheiros, então presidente do Senado) e depois o Sarney (José Sarney). E ainda quis emplacar o recém-eleito Eduardo Braga (PMDB-AM) para a Presidência do Senado, quando todo o PMDB defendia a reeleição de Sarney", resumiu um aliado peemedebista.

O escândalo dos aloprados estava sepultado até então, mas foi ressuscitado após o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, Expedito Veloso, ter dito que Mercadante seria um dos principais beneficiários do esquema e um dos responsáveis pela arrecadação do R$ 1,7 milhão que seriam destinados à compra das informações sobre os candidatos tucanos em São Paulo. O Correio não conseguiu entrar em contato com Expedito, mas o deputado distrital Chico Vigilante (PT), considerado um aliado do secretário adjunto, disse que seria bom Mercadante comparecer logo no Congresso para "abortar a crise no início".

Convite Para facilitar a presença do ministro, a oposição admite negociar com parlamentares do PT a transformação dos requerimentos de convocação em convite. Alguns deputados governistas aceitam a hipótese para retirar a conotação de divergência política e passar a impressão de que o convite para o ministro seria um "gesto de boa vontade para prestar esclarecimentos". Para o líder do PSDB em exercício, deputado Otávio Leite (RJ), não há problemas em trocar a convocação pelo convite. " O que queremos é que ele venha. Que esclareça. Que se explique. A forma como isso será feita pode ser negociada. Mas temos três chances de aprovar esses pedidos e contamos com elas", diz o líder tucano.

No Planalto, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, considerou "lúcida" a decisão de Mercadante de colocar-se à disposição da Justiça para novos esclarecimentos sobre o caso. No PT, o silêncio é a regra. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, lembrou que tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto a Procuradoria-Geral da República inocentaram o ministro de participação no escândalo dos aloprados.