BRASÍLIA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef afirmaram que o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, recebeu "comissões" de empreiteiras contratadas pela estatal. Cosenza substituiu Costa na diretoria em abril de 2012 e assinou pelo menos sete contratos de R$ 2,6 bilhões com empresas citadas na Operação Lava-Jato como integrantes do cartel de fornecedores da companhia. O diretor participou ontem, ao lado da presidente da Petrobras, Graça Foster, da conferência de divulgação de dados operacionais do terceiro trimestre de 2014. Em nota, negou ter recebido comissões.

A acusação contra o atual diretor de Abastecimento foi revelada em perguntas feitas pelos delegados da Polícia Federal Agnaldo Mendonça Alves e Felipe Eduardo Hideo Hayashi no interrogatório de nove executivos de empreiteiras presos.

Diretor rebate acusação

"Paulo Roberto e Alberto Youssef mencionaram o pagamento de comissões pelas empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras para si, para os diretores Duque, Cerveró e Cosenza e para agentes políticos, confirma?", indagaram os delegados.

A pergunta foi feita pela primeira vez no último sábado a Othon Zanoide de Moraes Filho, da Queiroz Galvão. O executivo disse desconhecer o pagamento de comissões. Othon afirmou conhecer Cosenza da época em que o hoje diretor trabalhava como subordinado de Costa em uma das gerências na área de Abastecimento. O executivo afirmou que Cosenza participou de "quase todas" as reuniões que teve com Costa. Perguntado se algum diretor exigiu dele pagamento de propina, Othon negou.

O ex-presidente da Queiroz Galvão Ildefonso Colares Filho disse que esteve com Cosenza apenas uma vez, quando ele já era diretor, para "tratar de assuntos referentes aos contratos em andamento". Negou ter pago propina ou comissão. O executivo da Engevix Newton Prado Júnior disse conhecer Cosenza apenas "de vista" e não saber de qualquer repasse. Carlos Eduardo Strauch Albero, também da Engevix, respondeu apenas que não conhecia o diretor. Cinco executivos da OAS se negaram a responder às perguntas da PF.

Cosenza rebateu a acusação por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa da Petrobras. "O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, nega e repudia, veementemente, qualquer imputação que lhe seja feita de recebimento de "comissões" ou favorecimento de quaisquer empresas ou pessoas", disse a assessoria. Ainda segundo a nota, Cosenza afirmou desconhecer Youssef e que "todo contato mantido com representantes de empresas visam, estritamente, o acompanhamento dos empreendimentos contratados".

A defesa do ex-diretor de Serviços de Engenharia da Petrobras Renato Duque, que está preso em Curitiba, disse que "as notícias sobre ilícitos cometidos na Petrobras envolvendo o engenheiro são decorrentes de falsas delações premiadas e, até o momento, sem nenhuma prova". O advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró destacou que ele deixou a diretoria em 2008 e que as contratações das obras da refinaria de Abreu e Lima, principal foco da operação, aconteceram depois disso. Disse que seu cliente desconhece Youssef e questionou "delações premiadas feitas por pessoas que estão presas e com a família ameaçada".

Responsável por auditoria

Em entrevista coletiva ontem, a presidente da Petrobras informou que Cosenza foi o responsável pela comissão interna criada para apurar suspeitas de irregularidades na Refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Desde 2012, Cosenza comanda o projeto da refinaria pernambucana. Presidiu 33 reuniões, quase uma por semana, entre março e novembro do ano passado. Nelas foram aprovados 63 aditivos no valor dos contratos de bens e serviços, quase oito por mês. O custo aumentou em US$ 377 milhões (R$ 1,7 bilhão).

Documento enviado pelo próprio diretor à CPI da Petrobras revela que ele autorizou a assinatura de pelo menos sete contratos, que totalizam R$ 2,6 bilhões, com empresas citadas como participantes do cartel de fornecedores da companhia. Os contratos são para obras nos dois empreendimentos que agora lhe cabe fiscalizar.

Segundo a Petrobras, os serviços medidos e pagos representam cerca de 40% desses contratos. A empresa ressaltou que todos eles tiveram a aprovação da diretoria executiva.

O maior deles foi celebrado em maio de 2013 com a Toyo Setal no valor de R$ 1,1 bilhão para o fornecimento de bens e serviços relativos às unidades de geração de hidrogênio no Comperj. Foram representantes desta empresa, Julio Gerin Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça, que contaram em suas delações premiadas como funcionava o esquema. Eles disseram que a regra era o pagamento de 3% de propina nos contratos das empresas do "clube", como o cartel era chamado.

Há na lista enviada pelo diretor contratos com a Queiroz Galvão, Galvão Engenharia e OAS, que têm executivos presos em Curitiba.