Depois de um setembro fraco, o mercado de trabalho nas seis maiores regiões metropolitanas do país voltou a exibir um comportamento de gangorra, mostrando fôlego em outubro, com a criação de vagas e o aumento forte da renda, a despeito da desaceleração da economia. A taxa de desemprego renovou mínima histórica para o mês, 4,7% em outubro, e a renda média real (descontada a inflação) chegou a R$ 2.122,10, o maior patamar já registrado na série da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, iniciada em março de 2002. Em sentido oposto à eliminação de vagas registrada em outubro pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o IBGE mostrou que todas as atividades abriram vagas, ainda que em pequenas proporções, com exceção do comércio, onde houve queda de 0,7%. Apesar dos bons dados, economistas não mudaram o prognóstico e esperam que o mercado de trabalho não vai sustentar baixas taxas de desemprego sem reação da economia em 2015.

O aumento da renda foi uma das grandes surpresas da pesquisa. O salário médio mensal do trabalhador subiu 2,3% em termos reais em outubro na comparação com setembro e mostrou avanço de 4% contra igual mês do ano passado. Boa parte dos economistas esperava uma continuidade no movimento de desaceleração da renda.

Priscilla Burity, do banco Brasil Plural, lembra que no primeiro trimestre a renda subiu 3,2% em relação a igual período do ano passado, perdendo fôlego nos trimestres seguintes: 2,5% no segundo e depois 2,2% no terceiro. A renda familiar mais alta tem sido apontada como a principal razão para a saída de pessoas do mercado de trabalho, sobretudo, mulheres e jovens. Uma possível desaceleração poderia levar mais gente a procurar uma vaga e jogar a taxa de desemprego para cima ano no que vem.

- Foi um repique e chamou a atenção, porque está dissonante de outros indicadores da pesquisa. A fonte está na escassez de mão de obra, mais do que na geração de vagas. Se esse movimento da alta da renda continuar, será um combustível para o movimento de pessoas fora da força de trabalho continuar e também para a inflação de serviços - afirma ela, que considera mais provável que o aumento dos salários seja um ponto fora da curva.

Aumento de mais de 6% na indústria

Na comparação com outubro do ano passado, a alta da renda foi impulsionada pelas elevação da renda no comércio e em outros serviços. Os dois setores, que juntos correspondem a mais de 30% da ocupação, subiram 1,3% e 3,6%, respectivamente. Já na indústria, os salários subiram 6,4% em relação a setembro, a maior alta desde fevereiro de 2007, quando aumentaram 9,3%.

- Ainda que a atividade industrial esteja menor e até registrando demissões, os trabalhadores que permanecem conseguem ganhos reais - afirma Adriana Beringuy, técnica do IBGE.

- Não é um aumento da renda saudável - afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Ibre/FGV. - Estão demitindo o cara mais novo e menos produtivo - acrescenta.

Para José Marcio Camargo, da Opus consultoria, o desemprego em mínimas históricas continua favorecendo reajustes salariais acima da inflação. O economista considera, no entanto, que a tendência continua sendo de aumento da taxa de desemprego em razão da volta de trabalhadores à procura por emprego. Segundo Camargo, quando retirados os efeitos típicos de cada época, a taxa de atividade (percentual da população de dez anos ou mais que faz parte da força de trabalho), que vem em queda desde o fim de 2012, se estabilizou em cerca de 55% nos últimos três meses e pode ser indicador de que a procura por emprego voltará a subir. Pelos cálculos do economista, não fosse a saída das pessoas do mercado de trabalho, a taxa de desemprego estaria em 8,1%, em razão do baixo dinamismo na criação de vagas, que entre janeiro e outubro recua 0,1% em comparação com o mesmo período de 2013.

- O mercado continua aquecido, mas como a economia não cresce, ele vai perder fôlego. O Caged, que reage mais rapidamente, já captou isso. Está difícil entender a PME - afirma.

Em outubro, o emprego subiu 0,8% em relação a setembro, com mais 175 mil vagas abertas, movimento que está ligado às contratações de fim de ano, na opinião de Barbosa Filho. Em relação a outubro de 2013, o emprego ficou estável, com continuidade na saída de pessoas do mercado de trabalho. O economista pondera, no entanto, que houve melhora no quadro geral, porque em setembro havia sido registrado um corte de 91 mil vagas na comparação com igual mês de 2013. Em outubro, o número caiu em mil postos de trabalho.

- A tendência continua sendo de baixa. Não acho que a economia vai continuar sustentando isso. Parece um efeito isolado de um mês - afirma.

Segundo o IBGE, as eleições não tiveram efeito na criação de vagas. Houve redução do emprego com e sem carteira em relação a setembro. O número de trabalhadores por conta própria cresceu 3% em relação a setembro, mas o grupo não inclui o tipo de trabalhador contratado para propaganda de rua de candidatos. Mesmo segmentos da indústria que poderiam ser alavancados pelas eleições, como o de gráfica, não tiveram destaque.

 

 

PME e Caged mostram resultados opostos

 

Apesar de tratarem do mesmo tema, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregos (Caged), levantamento feito pelo Ministério do Trabalho, têm metodologias completamente diferentes.

O Caged considera apenas os trabalhadores que têm carteira de trabalho assinada e são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Isso significa que não são contabilizados trabalhadores sem carteira, os que atuam por conta própria, nem os funcionários públicos. Na pesquisa do IBGE, são investigados todos os tipos de ocupação, formais e informais, além de empresários e funcionários públicos.

Outra diferença é a localização geográfica. Na pesquisa do IBGE, são levantados dados das seis maiores regiões metropolitanas (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre). O Caged cobre todos os municípios brasileiros.

Pelo Caged, o mercado formal de trabalho eliminou 30.283 empregos em outubro- o pior resultado para o mês em 16 anos. Pela PME, houve estabilidade na ocupação em relação a outubro do ano passado e alta de 0,8% em relação a setembro, o que significa a criação de 175 mil empregos.