Título: 60% se queixam de planos
Autor: Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2011, Economia, p. 9

A medida adotada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de limitar prazos de atendimento para usuários de planos de saúde, promete reduzir as longas filas de espera para os usuários que precisam marcar consultas ou procedimentos clínicos. Mas, embora a demora seja o principal transtorno enfrentado pelos pacientes em busca de atendimento, o setor de saúde privada ainda gera muita insatisfação, por diversos motivos. Pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM), revela que de cada 10 filiados pelo menos seis já enfrentaram algum tipo de problema com seu plano no último ano.

O estudo mostra que 58% dos usuários de planos de saúde já tiveram alguma queixa com relação aos seus planos. A espera em prontos-socorros, consultórios ou laboratórios já deu dor de cabeça para 26% dos clientes. A falta de opções, tanto de profissionais quanto locais adequados, foi lembrada por 21% dos entrevistados. Já com relação aos médicos, 19% deles consideram difícil fazer a marcação de consultas e 18% não conseguiram agendamento porque o profissional deixou de atender pelo convênio.

O bolso do consumidor também não escapa dos abusos. Cerca de 19% das pessoas entrevistadas alegaram que já precisaram pagar valores adicionais para conseguir um diagnóstico, e 12% tiveram exames ou procedimentos negados pela operadora de saúde. A pesquisa foi realizada entre os dias quatro e cinco de abril de 2011 e ouviu 2.061 pessoas com idade superior a 16 anos em 145 municípios.

Ceticismo A taquígrafa Nara Bastos, 41 anos, colecionou dores de cabeça com seu plano de saúde e torce para que os atendimentos sejam mais rápidos. "É tudo absurdamente demorado, principalmente quando preciso marcar um pediatra para minha filha", protestou. Para conseguir agilidade no diagnóstico, ela já deixou algumas vezes o convênio de lado e optou pelo procedimento particular. "A saúde é o que mais importa, então tem que pagar mesmo, não tem jeito", reclamou.

Apesar de um número expressivo de queixas com relação aos planos, o número de usuários satisfeitos com seus planos chega a 76%. Esse paradoxo, de acordo com o presidente do CFM, Roberto Luiz d"Avila, precisará ser explicado em estudos futuros, que serão encomendados pelos representantes dos médicos. "Após conseguir o diagnóstico, os pacientes esquecem todo o transtorno, como se não houvesse mais o que reclamar. Precisaremos de outras pesquisas para entender o que se passa", disse.

Para o CFM, as medidas propostas pela ANS são inóquas e visam a proteger mais as operadoras de planos de saúde do que os usuários, que terão o direito de escolha comprometido. "Quem compra um convênio está fazendo isso porque busca um atendimento mais qualificado e quer escolher quem vai atendê-lo. Agora, isso não vai ocorrer, porque a empresa vai colocar qualquer profissional para realizar o procedimento", explicou o presidente do conselho.

Péssimas lembranças Seis em cada 10 pessoas já passaram por experiência negativa com seu convênio, no último ano. Veja as principais reclamações

Atendimento Demorou/enfrentou fila no pronto socorro, clínica ou laboratório - 26% Poucas opções de médicos, hospitais e laboratórios - 21%

Médicos Difícil marcar uma consulta - 19% O profissional não atende mais o plano - 18%

Pagamento Teve de arcar com valor adicional para fazer consultas, exames ou procedimentos - 19% Foi obrigado a gastar com procedimentos e exame por falta de cobertura - 12%

Burocracia Demora para autorização de exames/liberação de guias - 13% Não cobertura de procedimento/exame - 12%

Fonte: Datafolha